quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Cidades: 20% da área urbana da Bahia pertence a 5 dos 417 municípios

                                    Bairro do Cabula - SSa - foto: Arquivo Pessoal


Uma pesquisa do IBGE sobre as áreas urbanizadas do Brasil revelou, nesta quarta-feira (23), que a Bahia tem a sexta maior área urbanizada do país, com 2.814,29 km². Na estatística, o estado vê à sua frente apenas São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.

Porém, o que chama mesmo a atenção é a concentração do urbanismo em território baiano. Isso porque 20% de toda a área urbanizada está concentrada em apenas 5 dos 417 municípios do estado. Sendo eles Salvador, Feira de Santana, Camaçari, Vitória da Conquista e Porto Seguro. 

Áreas urbanizadas são aquelas que apresentam aglomeração de residências, ruas e outros tipos de edificações. Para que seja considerada desse tipo, é preciso que a proximidade entre os ambientes seja o suficiente para garantir relações de vizinhança. Quanto maior maior a proximidade, mais densa a área se torna.

O estudo Áreas Urbanizadas do Brasil foi feito a partir da interpretação visual de imagens de satélites e os dados são referentes a 2019. A geógrafa Manuela Alvarenga, gerente de Observação de Cobertura e Uso da Terra do IBGE, explica que o padrão de áreas urbanas concentradas é uma característica do Brasil. Ela afirma também que apesar da impressão de que a Bahia possui poucas áreas urbanizadas devido à extensão territorial, isso não procede.

"Se a gente avaliar o município com menor quantitativo de áreas urbanizadas, é Lajedinho com 43 hectares urbanos. Um tamanho que equivale a mais de 40 campos de futebol. Ou seja, a Bahia tem um quantitativo urbano considerável por todo seu território, mesmo com a disparidade com os grandes centros", fala.

Para compreender a concentração urbana na Bahia é preciso levar em conta fatores importantes: o produto interno produto (PIB) e a concentração populacional. Quando as pessoas vão em busca de oportunidades de emprego, por exemplo, tendem a se deslocar para os maiores centros urbanos que oferecem mais recursos, o que contribui para uma urbanização desordenada.  

“Apesar de a Bahia ter 417 municípios, mais de 50% do PIB do estado está concentrado em dez municípios e são justamente eles que o IBGE coloca com maior concentração urbana. São cidades que concentram atividades econômicas e atraem púbilco”, explica Ernesto Carvalho, professor de Planejamento Urbano e Políticas Públicas da Unijorge.

Salvador

A capital baiana ocupa o 12º lugar no ranking de municípios e é a segunda maior do Nordeste com maior área urbanizada absoluta, ficando atrás apenas de Fortaleza. Do total de 693,4 km² que a cidade possui, 28% das áreas se encontram urbanizadas. Vale destacar que praticamente toda área urbanizada foi considerada densa pela pesquisa (99,5%), o que demonstra um alto grau de favelização. 

O crescimento de Salvador, segundo Ernesto Carvalho, acontece de forma espontânea e horizontal. Isso significa que embora a cidade tenha expandido e possua centros urbanos verticalizados (com prédios), a ocupação não se dá com planejamento na maioria dos casos. 

“Existe a sensação de que em todo bairro de Salvador há uma favela. Isso acontece porque as pessoas vão ocupando os espaços que são possíveis e possibilitam uma rota menor entre a moradia e o lugar de trabalho”, explica. A Vila Santinha, no Trobogy, é um dos exemplos de ocupação desordenada em Salvador, que acaba por oferecer riscos à população, como desabamentos e deslizamentos em épocas de chuva. 

A urbanização feita sem planejamento é um dos reflexos da desigualdade social e ambos de retroalimentam. “Não são todos os bairros que possuem qualidade de urbanização. Ainda existem deficiências em termos de saneamento básico, abastecimento de água, drenagem e pavimentação. O que a Prefeitura tem feito desde 2013 é realizar investimentos maiores nas áreas onde se tem infraestrutura mais precária para que as desigualdades sejam reduzidas”, afirma a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield.

A arquiteta e urbanista afirma ainda que ao levar em consideração apenas a parte continental de Salvador, a densidade habitacional é grande - cerca de 10 mil habitantes a cada km. A forma com que Salvador e Região Metropolitana foram formadas, com grande concentração de pessoas em pouco espaço, tem consequências no valor dos imóveis.

“A precificação vai ser orgânica e especulativa. Ou seja, os preços vão variar conforme a possibilidade de comércio, serviço ou proximidade de algum lugar que possui infraestrutura”, afirma Ernesto Carvalho.A Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) e a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA) foram procuradas, mas não deram retorno à reportagem. 

 Porto Seguro é destaque em aumento da densidade da urbanização

O município de Porto Seguro, no Sul do estado, foi o grande destaque da Bahia quando o assunto é aumento da densidade da urbanização. A cidade tem atraído mais moradores e edificações, o que não significa que as condições de urbanização estão sendo as mais adequadas. 

Entre 2015 e 2019, cerca de 14 km² das áreas urbanas de Porto Seguro se tornaram mais densas - o que representa o nonio maior incremento do país. Para se ter noção da grandiosidade, 35 km² se tornaram mais densos em todo a Bahia no período de quatro anos. Isso significa que uma só cidade é responsável por quase metade (40%) da densificação do estado. 

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA) Neilton Rodrigues caracteriza a expansão do município como um “inchaço”. “A cidade cresce sem planejamento e acaba tendo uma série de problemas, seja de habitação, mobilidade, transporte e desastres”, caracteriza. Porto Seguro foi inclusive uma das cidades que sofreram com as chuvas do final do ano passado na Bahia.

Maysa Polcri* e Wendel de Novais

redacao@correio24horas.com.br *Com orientação de Monique Lôbo - 24/11/2022

 


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