sábado, 28 de novembro de 2009

Pelo Mundo: Imprensa convoca hondurenhos às urnas

Honduras passou o sábado em um ambiente de incerteza devido às eleições gerais deste domingo, ameaçadas de não serem reconhecidas por grande parte da comunidade internacional, enquanto a população não esconde a preocupação diante do temor de incidentes durante o processo. Sem supervisão de muitos organismos internacionais e com acusações de falta de garantias para serem realizadas, as eleições acontecerão na data marcada antes do início da crise política do país, enquanto o presidente deposto há cinco meses, Manuel Zelaya(foto), permanece na embaixada brasileira em Tegucigalpa e o presidente interino, Roberto Micheletti, licenciou-se do poder por uma semana para tentar afastar temores de que influenciaria o processo.
Os meios de comunicação que apoiam o governo interino fizeram constantes chamados para a população ir às urnas amanhã. Cerca de 4,6 milhões de hondurenhos --1 milhão deles residentes no exterior-- estão aptos a escolher um presidente, três vice-presidentes, 128 deputados e os integrantes de 298 corporações locais.
Grande parte da comunidade internacional, no entanto, disse que não reconhecerá os resultados das eleições pelo fato de a votação ocorrer em meio a uma ruptura constitucional, após a deposição Zelaya em 28 de junho.
"É preciso ver o que ocorre amanhã", advertiu neste sábado o embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, em declarações à imprensa local nas quais lembrou que "ter eleições livres, transparentes, é uma condição necessária, não suficiente, mas uma condição necessária para restaurar a ordem democrática".
O embaixador americano disse que "parte do processo para normalizar a situação em Honduras, para restabelecer a ordem constitucional, requer definitivamente um processo eleitoral".
Os EUA fornecem auxílio técnico à votação e quebraram a posição inicialmente consensual no continente sobre Honduras. Embora ainda chamando de golpe a deposição de Zelaya --apesar do apoio do Congresso e da Suprema Corte à ação dos militares que tiraram Zelaya do poder e do país-- o governo americano defende que a votação é uma saída para a crise e argumenta que tanto a data da eleição quanto os candidatos haviam sido definidos antes da deposição.
Países como Colômbia, Canadá, Costa Rica e Panamá devem seguira posição americana, enquanto Brasil, Venezuela, e Nicarágua já manifestaram que não pretendem mudar se posicionamento de rechaçar uma votação sob o governo que consideram golpista.
As autoridades policiais informaram que um novo atentado com uma granada foi realizado contra uma rádio da capital ontem à noite e outras duas explosões ocorreram nas cidades de San Pedro Sula e Lempira, sem registro de feridos.
Os dois candidatos com mais chances para chegar à Presidência são de partidos de direita, Porfirio Lobo, do Partido Nacional (PN) e Elvin Santos, do Partido Liberal (PL), o mesmo de Zelaya e Micheletti.
Ambos repetiram apelos de última hora à reconciliação e para que se vire a página na crise política, afirmando estar convencidos de que as eleições são a solução para que a normalidade volte ao país.
Nicarágua e El Salvador decidiram neste sábado fechar suas fronteiras até o fim das eleições, conforme uma fonte oficial hondurenha, e em Honduras a lei seca está em vigor desde as 6h deste sábado (10h em Brasília).
Nas ruas de Tegucigalpa era possível ver neste sábado grande quantidade de propaganda eleitoral presa a semáforos e afixada em postes de luz, além de diversos pontos de informações eleitorais à população e outras opções para conferir a seção onde cada um deve votar amanhã.
Um anúncio anônimo diz: "Se você não votar, é que você vota para [Hugo] Chávez", em referência ao presidente venezuelano ao qual muitos hondurenhos atribuem a guinada à esquerda de Zelaya e sua tentativa de fazer alterações constitucionais, que foi o estopim para a deposição.
Mas a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras, conjunto de movimentos sindicais e sociais de apoio a Zelaya convocou um "toque de recolher popular" para este domingo, afirmando que as eleições são ilegítimas.
"A situação está tranquila, mas estou com medo de ir votar, ninguém sabe o que pode acontecer", disse José, vendedor em um mercado popular de Comayagüela, cidade vizinha de Tegucigalpa.
Segundo autoridades eleitorais, pelo menos 250 convidados chegaram ao país para cumprirem o papel de observadores, diante da recusa de organismos como a OEA (Organização dos Estados Americanos) de monitorar a votação.
Entre os convidados estão deputados europeus, representantes do Instituto Nacional Democrata (NDI, na sigla em inglês) e do Instituto Internacional Republicano (IRI, na sigla em inglês) (ambos receptores de fundos do Governo dos Estados Unidos) e ex-presidentes, e ainda 88 estrangeiros residentes no país agrupados em uma ONG.
Pela previsão, os colégios eleitorais devem abrir as portas às 7h no horário local (11h em Brasília), e fechar às 16h, embora o horário possa ser ampliado em uma hora por decisão do Tribunal Supremo Eleitoral ou pela própria mesa em caso de ocorrerem "dificuldades", informaram à fontes da autoridade eleitoral.
O órgão eleitoral pretende divulgar os primeiros resultados oficiais a partir das 18h (22h em Brasília), momento até o qual não é permitido divulgar pesquisas de boca-de-urna.
Incidente
Duas pessoas ficaram feridas em um tiroteio protagonizado por dois militares hondurenhos dentro da operação de segurança montada para as eleições deste domingo, e a Anistia Internacional pediu que essa ocorrência seja investigada.
A organização pediu ao Procurador de Direitos Humanos que investigue o incidente registrado na sexta-feira, quando um veículo foi atacado pelos militares causando ferimentos em duas pessoas, uma delas o motorista do veículo.
"Estamos sumamente preocupados com este caso, dado o histórico de ampla impunidade das violações dos direitos humanos cometidos pela polícia e os militares", afirmou Javier Zúñiga, chefe da delegação da Anistia Internacional em Honduras.
O porta-voz militar coronel Ramiro Archaga confirmou neste sábado o incidente, mas disse que o carro estava em "velocidade excessiva" e que os soldados dispararam porque o veículo cruzou o posto de controle em frente à sede das Forças Armadas.
Josefina Salomón, porta-voz da Anistia Internacional, que está em Tegucigalpa, disse que os tiros foram disparados sem uma prévia ordem para que o carro parasse ou diminuísse a velocidade e que uma pessoa está em estado grave no Hospital Escola de Tegucigalpa.
Segundo ela, nenhum dos feridos está relacionado com os movimentos políticos ou sociais de apoio ao presidente deposto.

Fonte:Folhaonline

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