Antes de ser preso e capturado na Síria por integrar o grupo autodenominado Estado Islâmico, o britânico Zakariyya Elogbani era, até 2014, estudante de Administração na Universidade de Westminster, em Londres. E afirmou que da mesma universidade saíram ao menos outro sete estudantes que mais tarde se juntariam às fileiras do EI no Oriente Médio.
Elogbani, hoje preso na Síria, deu uma entrevista ao correspondente da BBC no Oriente Médio, Quentin Sommerville.
Suas declarações reforçam preocupações prévias, no Reino Unido, com a possibilidade de haver núcleos de radicalização islâmica na universidade londrina.
A Universidade de Westminster disse, por sua vez, que leva "muito a sério" a questão.
- Elogbani nasceu e cresceu no leste de Londres - mas teve sua cidadania britânica revogada após virem à tona seus laços com o EI. Antes mesmo de entrar para a Universidade de Westminster, ele conta que sabia que havia um grupo da instituição de ensino que havia abandonado os estudos para lutar na Síria.
"Eles meio que abriram o caminho (para mim)", conta.
Elogbani admite que se juntou ao EI por vontade própria e acha que "merece ser punido".
"Vim por minha própria escolha, não posso me defender. (...) Obviamente viemos em busca de combate, essa é a verdade. Mas não era um amor por sangue. (...) Qualquer pessoa que esteja imersa na metodologia do Estado Islâmico (tem de saber que) está errada. Eles são uma gangue."
Uma dessas pessoas é o extremista do EI Mohammed Emwazi, o chamado "John Jihadista", conhecido internacionalmente por ter decapitado reféns ocidentais em vídeos transmitidos online. Emwazi havia estudado Sistemas da Informação em Westminster, até 2009, e partiu para a Síria quatro anos depois. Em 2015, ele foi morto por um ataque a míssil.
Elogbani nega ter conhecido Emwazi, embora admita ter tido contato com outros britânicos em território sírio.
Outro ex-estudante da Universidade de Westminster a juntar-se ao EI foi Akram Sabah, que deixou a instituição de ensino em 2011 com um diploma em Ciências Biomédicas.
Ele e seu irmão mais velho, Mohammed, foram mortos em combate em 2013.
Elogbani, por sua vez, viajou à Síria ao lado de outro estudante de Westminster, Ishak Mostefaoui, segundo fontes ouvidas pela BBC.
De família argelina, Mostefaoui morava em Londres desde os cinco anos de idade. Ele era um garoto popular, amante de futebol, criado em um lar de forte rejeição ao extremismo. Seu pai, Abderrahmane, contou à BBC que o filho mudou de comportamento em 2013.
Ele acredita que Mostefaoui tenha se radicalizado pela convivência na Universidade de Westminster.
Em abril de 2014, Mostefaoui contou ao pai que passaria alguns dias em Amsterdã, e partiu com apenas uma pequena sacola. A família não teve notícias dele por um mês, até que ele telefonou para contar que estava na Síria. Seu pai diz que perdeu o chão ao saber disso.
Cerca de cinco meses atrás, Mostefaoui teve sua cidadania britânica revogada, assim como Elogbani. Dois meses depois, ele foi gravemente ferido em um ataque a bomba na Síria, no qual sua mulher e filho foram mortos. Atualmente, ele está preso.
Elogbani conta que outros três estudantes partiram para a Síria na mesma época que ele; todos foram mortos em combate.
Ele afirma que um deles, Ibrahim, foi morto durante o cerco à cidade de Raqqa; outro, Abu Talha, "morreu no deserto", enquanto um terceiro, Abu Ubaydah, morreu em Tikrit, no Iraque.
A BBC não conseguiu confirmar essas identidades, mas descobriu que um deles era conhecido como Qasim Abukar, um jihadista que também havia combatido junto a um grupo militante na Somália.
Suspeito de extremismo
Abukar, que já era conhecido dos serviços de segurança britânicos, começou a estudar na Universidade de Westminster em setembro de 2012 e ajudou a radicalizar Elogbani, segundo amigos que pediram anonimato à BBC.
Em 2009, enquanto era julgado pela Justiça britânica sob acusação de ter tentado viajar ao Afeganistão para cometer extremismo (caso em que acabou absolvido), Abukar fugiu para a Somália.
Lá, acredita-se que ele tenha se envolvido em combates nas fileiras do grupo militante islâmico Al-Shabaab e tentado recrutar combatentes britânicos para operações internacionais.
Em 2011, depois de um período detido na Somália, ele voltou ao Reino Unido alegando ter sido maltratado com o consentimento do Estado britânico.
Foi colocado sob vigilância, nos termos da lei conhecida como TPIM. Ela é usada para monitorar suspeitos de extremismo que não podem ser formalmente acusados nem deportados, mas que são considerados perigosos.
Um ano depois, ele começou a estudar em Westminster. Por seu histórico de fuga, era obrigado a reportar-se diariamente à polícia britânica e a usar um dispositivo eletrônico de monitoramento.
Mas, em abril de 2013, a Justiça amenizou suas restrições de movimento e o autorizou a interagir com outros estudantes, a despeito de queixas do serviço secreto britânico, de que isso traria o risco de que Abukar "se engajasse em atividades relacionadas ao terrorismo".
Foi nesse período que pessoas próximas a Elogbani e Mostefaoui notaram que estes passaram a demonstrar pontos de vista mais extremistas. A suspeita é de que Abukar seja um dos envolvidos nesse processo de radicalização.
O arrecadador de dinheiro
Outro extremista-chave da Universidade de Westminster é o irmão de Abukar, Makhzumi.
Ele cumpre pena de sete anos de prisão depois de admitir culpa em uma fraude milionária, para roubar pensionistas britânicos.
O esquema foi descoberto pela unidade antiterrorismo da Scotland Yard, a polícia britânica, que suspeita que o dinheiro tenha sido usado para financiar extremistas na Síria.
Documentos judiciais obtidos pela BBC revelam que, quando a casa de Makhzumi foi alvo de buscas, em julho de 2014 - poucas semanas após Elogbani e Mostefaoui terem partido do Reino Unido para a Síria -, foram encontrados comprovantes de transferências de dinheiro para uma cidade na fronteira entre a Turquia e a Síria, conhecida como ISIS International (ISIS é uma das siglas pelo qual o Estado Islâmico é conhecido). A cidade tem fama justamente de ser um ponto de encontro de jihadistas.
A BBC News descobriu que outro estudante britânico, Mohamed Jakir, também foi morto na Síria. Suspeita-se que ele estudasse Direito na Universidade de Westminster, mas não há confirmação oficial disso.
Caso isso se confirme, elevará para pelo menos oito o número de combatentes radicais oriundos da universidade.
Jakir foi morto em 2014, sete semanas após ter chegado à Síria.
Um porta-voz da Universidade de Westminster disse à BBC que a instituição "tem um forte foco pastoral e interreligioso para dar apoio a seus 20 mil alunos de mais de 150 países".
Em 2015, a universidade encomendou uma investigação independente após vir à tona a informação de que Emwazi, o "John Jihadista", era um ex-aluno.
Fiyaz Mughal, um dos autores do relatório, disse à BBC que "a universidade fracassou em entender seu papel de confrontar e enfrentar as visões extremistas".
"Mas o mais importante é que ela sequer entendeu sua obrigação ou os conceitos de islamismo e extremismo".
Mughal se diz preocupado que a Sociedade Islâmica da universidade, da qual Elogbani era membro ativo, "conseguia comandar um feudo" no qual mulheres e estudantes LGBT eram tratados com hostilidade.
A BBC conversou com ex-membros da Sociedade Islâmica, que negam ter havido um culto ao extremismo.
fonte:BBC News
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