quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Inema investiga se houve erro da Chesf na vazão da barragem em Jequié

 

                                           A cidade de Jequié foi a mais atingida - foto:Divulgação

O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) analisa se o aumento da vazão da Barragem de Pedra, na Bacia do Rio de Contas, foi resultado de um erro operacional.

O escoamento feito pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) por causa das fortes chuvas aumentou o nível do rio e causou a inundação de algumas áreas em Jequié, no sudoeste da Bahia, neste domingo (25) e deixou 152 pessoas desabrigadas. A água atingiu prédios comerciais, casas e comunidades ribeirinhas. Mais de 30 mil pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pela enchente.

Segundo o diretor de Recursos Hídricos e Monitoramento Ambiental do Inema, Eduardo Topázio, a instituição solicitou na segunda-feira (26) dados hidrológicos para avaliar a situação. “Vamos analisar quanto de água foi circulado e quanto foi liberado no tempo e no espaço, se podia ter liberado antes [aos poucos], se deu tempo de fazer descargas preventivas”, explica. Com dados preliminares, ele adianta, contudo, que a barragem operava dentro da cota do volume de espera para o período.

O Inema também vai analisar o Plano de Ação Emergencial (PAE) para verificar se o protocolo da empresa precisa ser aperfeiçoado em caso de risco que necessite alertar a população. Medidas como implantação de sirenes e alertas em regiões que podem ser afetadas são indicadas. A ação trata-se de um pressionamento, visto que a responsabilidade de aprovar o PAE é da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que não retornou a reportagem do CORREIO quando questionada se há apuração do caso.

A prefeitura de Jequié aponta que a vazão da Barragem da Pedra não teria sido gradual e estava no dia 19 com 80m³/s a 100m³/s, na quinta (22) saltou para 400m³/s, na sexta-feira, 800m³/s, e no sábado para 1.200m³/s. “Amanhecemos o domingo com 2.400 [m³/s] inundando todo o centro comercial da cidade”, informou a gestão.

O prefeito Zenildo Santana, conhecido como Zé Cocá, ainda denuncia que os avisos não foram dados com antecedência suficiente. “Ligamos e perguntamos se poderia dar impacto. Não informaram ‘com essa altura [de volume da vazão] irá alagar a cidade’. Eles tinham que ter números, [por exemplo], com 1.200m³/s chega em tal lugar”, justifica. O prefeito disse que “algo deverá ser feito” em conjunto com o Governo do Estado, mas não detalhou se considera ação judicial.

Na contramão, a Chesf informa, em nota, que aumentou gradativamente a vazão de saída desde o dia 18 em decorrência do alto volume de chuvas que chegou ao reservatório, atingindo o patamar de 4.500 m³/s. O valor máximo da vazão de saída foi de 2.400 m³/s e o reservatório atingiu 93% da sua capacidade de armazenamento.

 A companhia garante que foram enviados comunicados, cartas-circulares, boletins, bem como representantes da empresa participaram de reuniões diárias com a Defesa Civil do Estado da Bahia e Corpo de Bombeiros. A reportagem perguntou se a Chesf sabe quais áreas são atingidas conforme volume de água escoado, mas não recebeu resposta até fechamento da matéria. O Inema também não informou se há e quais barragens têm risco de transbordamento na Bahia.

 

Relembre o caso

                          

O Reservatório da Usina da Pedra, situado na Bacia do Rio de Contas, na região do município de Jequié, recebeu um volume de água expressivo em decorrência das fortes chuvas, o que tornou necessária a abertura das comportas para controle de cheia, elevando o nível de água do Rio de Contas. A ocorrência gerou alagamentos e inundações em Jequié e em municípios circunvizinhos.

Dono de uma mercearia na área comercial da cidade, Thiago Meira, 42, passou a terça limpando o estabelecimento e separando os materiais que restaram. A perda soma mais de R$ 20 mil em equipamentos e materiais do atacado. “Não deu tempo de tirar as coisas. O que estava na parte alta, salvou, e o que estava na baixa, perdeu. Foi circuito de câmera danificado, freezer, nota fiscal, cartucho de tinta”, lista.

  “A parte da feira do comércio de Jequié, literalmente, ficou debaixo d'água. Teve supermercado que entrou água até o teto”, diz.

Apesar da perda, Thiago ressalta que o comércio não foi o único que sofreu. “Vi gente que perdeu tudo, até casa, guarda-roupa, tanquinho. Foi triste mesmo”, afirma.

O Centro de Abastecimento (Ceavig), uma das regiões mais afetadas, tem 3 mil autônomos cadastrados pelo município e mais de 15 mil empregos diretos e indiretos. Ao contar com as zonas do entorno, o número passa de 30 mil, informa o prefeito.

 

Mais de 200 mil afetados pelas chuvas na Bahia

 

As fortes chuvas que atingem a Bahia não se resumem ao caso de Jequié. As tempestades têm traçado uma linha de estragos em 111 cidades e na vida de 229.619 pessoas. Mais de 80 municípios estão em situação de emergência. Hoje são 2.220 são desabrigados, 24.923 desalojados e 202.466 outros afetados em decorrência dos efeitos diretos do desastre, conforme a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec).

 

O governo estadual publicou dois decretos no Diário Oficial na terça-feira (27) com providências para controlar os efeitos das intensas chuvas que atingem diversos municípios do interior da Bahia. O primeiro é criar o Comitê de Crise – Operação Chuva, com finalidade de adotar medidas excepcionais e emergenciais necessárias e o segundo declara situação de emergência em 52 municípios baianos. 

 

No mesmo dia, o governador eleito, Jerônimo Rodrigues (PT) visitou municípios atingidos pelas chuvas. Em Aiquara, cidade natal de Jerônimo, ele e o governador em exercício, Adolfo Meneses, se reuniram com o prefeito da cidade, o deputado eleito Patrick Lopes, lideranças e moradores. Na sequência, Jerônimo e Adolfo seguiram para Barra do Rocha, Ubatã, Aurelino Leal e Itacaré, no distrito de Taboquinhas. Na segunda (26), os políticos estiveram em Jequié, cidade natal da atual primeira-dama da Bahia, esposa do governador Rui Costa (PT), Aline Peixoto.

Entre os dias 26 de dezembro de 2022 e 10 de janeiro de 2023 a previsão é de chuva menos volumosa no oeste do estado e no restante da região, o tempo ficará seco, principalmente, no interior. A expectativa é que não haja temporal, de acordo com boletim do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Com diversas famílias atingidas pela inundação que atingiu Jequié, no sudoeste do estado, no domingo (25), a prefeitura do município fez um esquema especial para atender as pessoas afetadas pelas fortes chuvas. Interessados em doar devem se dirigir até a antiga Biblioteca Central, na Avenida Rio Branco, no Centro, e depositar as doações. Ao todo, 152 estão sem abrigo.

Materiais como roupas, itens de cama, banho, higiene pessoal e alimentos não perecíveis serão recebidos por uma equipe no ponto para recebimento escolhido pela gestão municipal. Já doações em valores deverão ser depositadas na conta bancária específica do Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS). A conta bancária do Banco do Brasil tem como número de agência 060-4 e conta número 56412-5, Chave Pix (CNPJ): 18.250.800.0001-26.

O Complexo Poliesportivo Educacional Anibal Brito também disponibilizou espaços para receber os donativos, como água mineral, alimentos não perecíveis, roupas e colchões. A diretora do Núcleo Territorial de Educação Médio Rio de Contas, com sede em Jequié, Polliana Leandro, afirma que a escola está amparando os desabrigados. “Chegaram na escola na véspera do Natal e levaram alguns móveis. São seis famílias, que [...] estão recebendo assistência para amenizar esse sofrimento”.

A secretária de Desenvolvimento Social do município, Patrícia Santana, ressalta que toda ajuda é bem-vinda. “Agradecemos o apoio da população, que vem doando alimentos não perecíveis, água mineral, cobertores, roupas e materiais de higiene pessoal e de limpeza”. Assim como recorda que a doação por pix pode ser feita para quem não pode se deslocar até o centro da cidade.

 

Confira rodovias afetadas pelas chuvas, segundo Seinfra

 

TRECHOS COM TRÁFEGO INTERROMPIDO:

Ponte sobre o Rio de Contas - BA-647: Aiquara - Palmeirinha

BA-130: Maiquinique - Divisa BA/MG

BA-671: Itaju do Colônia - Palmira

 

TRECHOS COM TRÁFEGO EM MEIA PISTA:

Ponte sobre o Rio de Contas - BA-130: BR-330 - Distrito de Itajuru (Jequié)

BA-046: Ruy Barbosa - Utinga

Ponte na BA-582, que dá acesso à Canápolis

BR-489: Itamaraju - Prado

BA-670: Potiraguá - Itororó

 

Fonte:Ester Morais*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo/Correio da Bahia 28/12/2022

 

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