foto:reprodução
A cantora Preta Gil morreu neste domingo, 20 de julho, aos 50 anos, em Nova York. Ela enfrentava desde janeiro de 2023 um câncer colorretal (câncer de intestino) e, em maio deste ano, viajou aos Estados Unidos para iniciar uma nova etapa do tratamento, após esgotar todas as opções disponíveis no Brasil. Apesar dos esforços e da luta incansável, a artista não resistiu.
Mais do que uma cantora de sucesso, Preta Gil foi uma voz ativa na defesa de causas sociais, especialmente no enfrentamento ao racismo, à homofobia e à intolerância. Em 2011, protagonizou um dos episódios mais marcantes de sua trajetória pública ao reagir com firmeza a uma declaração racista do então deputado federal Jair Bolsonaro, hoje ex-presidente da República.
Durante uma entrevista ao extinto programa CQC, da TV Bandeirantes, Preta participou do quadro “O povo quer saber” e perguntou a Bolsonaro como ele reagiria se um de seus filhos se relacionasse com uma mulher negra. A resposta foi ofensiva: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”
"Racista, homofóbico, nojento"
A fala gerou forte repercussão nas redes sociais e na imprensa. Indignada, Preta Gil reagiu imediatamente no Twitter (hoje X): “Advogado acionado. Sou uma mulher negra, forte, e irei até o fim contra esse deputado racista, homofóbico, nojento.” O episódio culminou na abertura de um inquérito e, anos depois, em uma vitória judicial simbólica: em 2019, Bolsonaro foi condenado por danos morais. Por três votos a um, a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a sentença, obrigando-o a pagar R$ 150 mil ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD), ligado ao Ministério da Justiça.
A coragem com que Preta Gil enfrentou essa e outras batalhas fez dela uma referência para muitas mulheres negras brasileiras. Sua morte, além de uma perda irreparável para a cultura e a música, encerra a trajetória de uma artista que não se calou diante das injustiças — e cuja luta, agora, ecoa como legado.
Fonte: Revista Fórum - 21/07/2025
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