O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará, nesta segunda-feira (21), em Santiago, no Chile, de uma cúpula internacional de alto nível organizada pelo presidente chileno Gabriel Boric. Embora o encontro tenha como pauta oficial a defesa da democracia, o multilateralismo e o combate à desinformação, o governo brasileiro já indicou que os recentes ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil devem dominar as discussões.
"O encontro desta segunda já estava programado antes das investidas de Donald Trump contra o Brasil. Mas o tema, evidentemente, será central nos debates entre os lideres", diz comunicado do Palácio do Planalto sobre a cúpula.
Estão confirmadas na reunião as presenças de líderes da Colômbia, Gustavo Petro; da Espanha, Pedro Sánchez; e do Uruguai, Yamandú Orsi. A programação inclui um encontro reservado entre chefes de Estado, almoço oficial e reuniões com representantes da sociedade civil e centros de pesquisa.
O objetivo inicial era dar continuidade à articulação liderada em 2024 por Lula e Pedro Sánchez, em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, com a reunião de alto nível “Em defesa da Democracia: lutando contra o extremismo”. Os ataques de Trump ao Brasil, que sinalizam clara violação da soberania nacional com tentativa de interferência na política e no judiciário, no entanto, estarão no foco da cúpula.
Tarifaço e retaliações
A ofensiva dos EUA contra o Brasil teve início em 9 de julho, quando o governo de Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, com início previsto para 1º de agosto. A justificativa apresentada por Trump foi uma inexistente "perseguição judicial" a Jair Bolsonaro por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), que estaria, segundo ele, violando princípios de liberdade de expressão e perseguindo um aliado político.
Poucos dias depois, o secretário de Estado, Marco Rubio, determinou a revogação dos vistos de entrada nos EUA de oito ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia. A medida foi, claramente, uma retaliação à operação da Polícia Federal (PF) que atingiu Jair Bolsonaro na última sexta-feira (18). O ex-presidente foi colocado sob monitoramento de tornozeleira eletrônica e uma série de medidas restritivas, já que oferecia risco de empreender fuga antes de sua iminente condenação por tentativa de golpe de Estado.
Em reação, Lula classificou as decisões do governo Trump como “arbitrárias e completamente sem fundamento” e afirmou que o Brasil não aceitará intimidações de qualquer governo estrangeiro. “A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos da soberania entre as nações”, declarou o presidente em nota oficial.
O Congresso brasileiro, por sua vez, aprovou uma lei de reciprocidade autorizando o governo a impor tarifas equivalentes aos produtos norte-americanos. A medida recebeu apoio de governadores e representantes do setor produtivo, especialmente da indústria e do agronegócio, duramente atingidos pelo tarifaço.
Na cúpula em Santiago, Lula pretende apresentar a seus pares uma denúncia contundente contra a escalada autoritária de Trump, apontando que as sanções econômicas e políticas configuram uma tentativa deliberada de interferência nos assuntos internos do Brasil. A expectativa do Itamaraty é que o encontro reforce a articulação internacional em defesa da democracia, da soberania e do multilateralismo, com possíveis iniciativas conjuntas sendo levadas à ONU em setembro.
Fonte: REVISTA FÓRUM - 20/07/2025
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