sexta-feira, 19 de março de 2010

Bahia: Prefeito de Irecê é acusado de comprar testemunha


O prefeito do município Irecê (centro-norte baiano), Zé das Virgens (PT), é acusado pelo presidente do PSOL na cidade, João da Hora, de tentar corromper Valcelio dos Santos, testemunha da ação judicial que pede a cassação de seu mandato por compra de voto. Da Hora, em contato com o Bahia Notícias, revela que o assessor do gabinete do prefeito, Osvaldo Pereira, conhecido como “Osvaldinho”, teria negociado a nomeação na Prefeitura da irmã de Valcelio, que seria beneficiado também com materiais de construção. Em troca, Valcelio se manteria calado no dia do julgamento. O dirigente enviou três gravações de conversas telefônicas e um vídeo que aparentemente comprovam sua denúncia.
Na primeira conversa, Valcelio trata diretamente da contratação da irmã, de nome não citado, que passou no concurso público na Prefeitura, mas não foi nomeada: “Ajeita a galega. A bichinha tá parada, está precisando trabalhar. Mesmo você não me ajeitando, mas ajeitando ela, pra mim eu estou satisfeito”, disse, literalmente, Valcelio, que recebeu a garantia do assessor: “O que eu puder fazer por ela eu vou fazer”. O diálogo prossegue sobre a desistência das demais testemunhas em depor sobre o caso. Valcelio chega a intermediar o encontro entre o Osvaldo e Alessandro, de sobrenome não revelado, supostamente outra testemunha, “para você ouvir a proposta dele e você também fazer a sua”. Em certo ponto, o assessor filosofa: “Como diz Machado de Assim: ‘É dando que se recebe’. A vida hoje é assim, é conveniência. Não vá esperando tapinha nas costas”. Na conversa, os dois marcam um encontro para o dia seguinte.
PREFEITO É ACUSADO DE COMPRAR TESTEMUNHA II
Em outra gravação, a testemunha Valcelio dos Santos, chateado com a dificuldade de conseguir o material que lhe foi prometido, sugere a Osvaldo que a ele seja doada uma das casas populares que estavam em construção na cidade, pela Prefeitura. O assessor dá a solução: “Eu vou com você até Celso Cambuí e ele dá uma chave a você, e você entra lá”. Cambuí é Secretário da Ação Social de Irecê.
Na última escuta telefônica, Osvaldo revela que, em conversa com Alessandro, a testemunha teria divergido sobre a forma de entregar o material negociado, mas havia seguido as ordens de não comparecer ao julgamento contra o prefeito Zé das Virgens por compra de voto. “Ele disse ‘mas eu também não fui na audiência, não’. Aí eu disse: ‘Você não foi porque sabe que não dá nada”. Na mesma conversa, os dois voltam a tratar do material acertado como suborno: “Então quer dizer que Zé das Virgens liberou, está tudo certinho para pegar o material lá, não é?”, questiona a testemunha. “Zé disse que amanhã conversasse com você, explicasse direitinho, vamos conversar pessoalmente”, disse Osvaldo – eles marcaram um encontro às 9 horas do dia seguinte. Questionado sobre o emprego para a irmã, Osvaldo diz que “eu pedi a ele (Zé das Virgens) ao menos um contrário de diarista, ai ele mandou eu ver (sic) onde é que tinha um lugar. Eu já to vendo, para mim (sic) botar sua irmã”.
PREFEITO É ACUSADO DE COMPRAR TESTEMUNHA III
O vídeo, gravado de longe, mas com o áudio de uma escuta instalada no corpo de Valcelio dos Santos, registra o dia seguinte ao último diálogo. O assessor do prefeito Zé das Virgens é flagrando levando a testemunha Valcelio dos Santos até uma casa de materiais de construção. No local, o assessor demonstra intimidade com a comerciante, para quem pede que efetue uma compra de mil tijolos, cimento e um caminhão de areia fina, com nota fiscal emitida para a Prefeitura. A comerciante reclama da demora do Executivo municipal para realizar o pagamento: "A Prefeitura não tem jeito não. Ela sempre leva mais de um mês para pagar". Osvaldo, então, dá a solução: "O cimento eu lhe pago, porque você não pode vender na nota, e aí tira só a áreia fina, os mil blocos (...) você sabe como fazer a coisa". Durante o diálogo, o assessor cobra sigilo de Valcelio sobre a operação. “Você tenha cuidado. Ninguém pode nem sonhar que estamos te dando esse material”, disse. No final da gravação, é possível visualizar Osvaldo Pereira se dirigir ao veículo acompanhado de Valcelio dos Santos. Em entrevista ao Bahia Notícias, João da Hora, autor da denúncia, revela que vem sofrendo com constantes ameaças de morte depois que descobriu o esquema. Ele já prestou queixa à Polícia Civil.
ZÉ DAS VIRGENS ADMITE AÇÃO DE ASSESSOR

O prefeito de Irecê, Zé das Virgens (PT), em contato com o Bahia Notícias, minimiza as denúncias de que estaria tentando corromper uma testemunha de acusação na ação contra ele por compra de voto. “Isso é matéria requentada. Ele deveria ir ao Ministério Público e à Polícia Civil, e não ficar na imprensa requentando matéria”, disse, se referindo ao presidente do PSOL em Irecê, João da Hora, autor da denúncia. O prefeito nega que tenha negociado nomeações para beneficiar qualquer testemunha, contrariando o que disse o seu assessor nas gravações. “Ele não tem autorização nenhuma para falar em meu nome”, afirmou. O petista reconhece, entretanto, que as escutas podem ser verídicas. “Hoje em dia tudo que a gente fala está sujeito a ser gravado. E todo mundo erra. Eu não sou nenhum santo, porque sou homem”, admite. “Esse é um caso de polícia e não de política”, completa. O prefeito acusa João da Hora de lhe “perseguir” e atrapalhar a administração municipal, por exemplo, ao ocupar, com membros do movimento dos sem-teto, 300 casas populares que estavam sendo construídas pela Prefeitura. “Ele se autoproclamou a liderança oposicionista contra mim”, reclama.

Fonte:Transcrito do Blog Bahia notícias/19/03/2010
Rafael Rodrigues
Foto: Google

0 comentários:

Postar um comentário