Após 125 anos de história, o Colégio Nossa Senhora das Mercês,
localizado na Avenida Sete de Setembro, anunciou que vai fechar as portas
após a finalização deste ano letivo. A decisão foi comunicada em uma reunião de
pais online no último dia 18. Segundo pais de alunos e ex-alunos ouvidos pela
reportagem, não é de hoje que um dos colégios mais tradicionais de
Salvador enfrenta dificuldades financeiras.
Apesar dos boatos, estudantes e pais receberam com espanto e tristeza a
notícia do fechamento do Colégio das Mercês. No dia 15, o colégio enviou um
comunicado para os responsáveis dos alunos informando que três dias depois
daquela data haveria uma reunião para tratar de “assuntos de
extrema importância”. Foi durante esse encontro que a decisão de fechar o
colégio foi anunciada.
A autônoma Cátia Brito, 52, não pôde participar da reunião, mas sua
filha estuda no segundo ano do ensino médio no colégio. Logo depois do
encontro, Cátia ficou sabendo da notícia de fechamento através de outras mães
de alunos.
“Uma mãe de uma colega me ligou dizendo que a filha estava se
acabando de chorar porque disseram na reunião que o colégio vai fechar. Foi um
baque tão grande que na hora eu nem acreditei”, conta.
A relação dos filhos de Cátia com o Colégio das Mercês é antiga. Como a
família mora na região, o filho mais velho da autônoma foi o primeiro a estudar
no local. “Foram 22 anos de 'mãe Mercês'. A gente escolheu o colégio pela
proximidade de casa, mas depois fomos criando amor. A escola sempre foi muito
boa, não tenho do que me queixar”, diz
Segundo Cátia Brito, os próprios alunos do colégio comentavam sobre a
possibilidade de fechamento mesmo antes da pandemia, em 2019. “Os alunos
falavam que não demoraria muito para fechar. Tem a questão da estrutura que
precisava melhorar e financeiramente não estava dando. Lá tem muita
inadimplência”, revela. A mensalidade do ensino da filha custa em torno
de R$ 1,2 mil.
Patrick Santos, 25, é professor e estudou entre 2004 e 2015 no colégio.
Apesar da tristeza em saber do fim das atividades do colégio, ele conta que
desde sua época de aluno já havia preocupações sobre um fechamento. “Dá uma
tristeza, mas não era inesperado. Quando eu era aluno já havia boatos de
que poderia fechar e de que o colégio não andava bem financeiramente”,
relembra.
O diretor do Sindicato das Escolas Particulares da Bahia (Sinepe-BA),
Jorge Tadeu Coelho, lamentou o anúncio de fechamento. “O Colégio Nossa Senhora
das Mercês é uma escola de muito tempo e que teve seu auge na cidade de
Salvador atendendo a sociedade. É algo lamentável”, afirma. O diretor afirma
ainda que muitas escolas enfrentam consequências financeiras da pandemia da
covid-19.
“Todas as escolas sofreram muito com a pandemia porque passaram um longo
período com perda de alunos e dificuldades de receber mensalidades. Além de
empréstimos para poder manter a equipe de funcionários integradas”, explica
Jorge Tadeu.
Leia mais: Estudantes revelam
temor de andar pelo centro de Salvador
O Colégio Nossa Senhora das Mercês foi procurado para fornecer mais
informações sobre o fechamento, mas não retornou o contato até a publicação
desta reportagem. Já o Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (Sinpro-BA)
disse que não recebeu informação oficial sobre o fechamento da instituição de
ensino até a sexta-feira (21).
Tradição
Anos antes da fundação do colégio, a noviça Úrsula Luisa
Monteserrate, que fazia parte da congregação católica Companhia de Santa
Úrsula, fundou o Convento das Mercês, em 1735. Em 1897 foi criado o Colégio
Nossa Senhora das Mercês. Na gestão do governador J.J. Seabra, em
1913, a parte frontal do convento foi demolida para dar passagem à abertura
da Avenida Sete de Setembro.
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Ex-alunos que passaram pelo Colégio das Mercês lembram que uma das
características mais marcantes do colégio é a relação profunda entre
estudantes, professores e a instituição. “Eu vejo que nas Mercês se cria um
laço de família. Quando Cristal foi assassinada, houve uma comoção muito
grande. Os alunos sentiram como se pudesse ter sido qualquer um deles”, afirma
Patrick Santos.
A jovem de 15 anos foi morta em
uma tentativa de assalto no Campo Grande, quando ia para o
Colégio das Mercês com a mãe e a irmã mais nova.
Direção busca parceria para transferir alunos
Dois dias após a reunião com os responsáveis pelos estudantes, o
Colégio Nossa Senhora das Mercês anunciou que busca parcerias com
instituições similares que possam receber os alunos da instituição a partir de
2023. Uma proposta do Colégio Salette, nos Barris, foi enviada às familias dos
alunos .
O Salette oferece desconto de 30% no valor das mensalidades do ano que
vem para alunos que forem transferidos para a unidade. Estudantes que
possuem descontos maiores do que esse valor nas Mercês, atualmente, serão
atendidos de forma individualizada, segundo a direção do Salette. Para os
pais e mães de alunos ouvidos pela reportagem, a medida é interessante
para que os estudantes permaneçam juntos no próximo ano.
A direção das Mercês informou aos pais que o Colégio Nossa Senhora da
Soledade, na Liberdade, também estuda proposta para egressos da
instituição. Tanto o Salette como o Soledade possuem similaridades como
localização no Centro e valores morais religiosos.
Fonte:Maysa Polcri* *Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro -Correio da Bahia 25/10/2022
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