O médico e neurocientista foto:reprodução
Silencioso, beneficiado pelo lobby econômico, pela impaciência e pela falta de empatia - ou de informação - para se proteger e aos outros, o vírus SARS-CoV-2 samba na cara da sociedade, antes mesmo do Carnaval, do Réveillon e do Natal. Ninguém vai cancelar as festas, muito menos as férias, estamos na Copa do Mundo. Ônibus lotados, bares e boates bombando sem máscaras e hospitais enchendo.
Já é quase 2023 e o Brasil está sem barreiras sanitárias e em um vácuo de liderança que precisa ser assumido o mais rápido possível. Esse cenário é apontado pelo médico e cientista Miguel Nicolelis. Para ele, a pandemia sumiu do debate eleitoral, eliminamos o uso de máscaras muito cedo, e é mais que urgente dar informações concretas e claras à população, porque esse é um vírus para não se pegar.
Cenário atual
Como divulgado no boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na
última quarta-feira (23), cada vez mais estados, de todas as regiões do país,
têm registrado aumento de casos graves de Covid-19, a partir do final de
outubro e início de novembro. No momento, são 15 unidades federativas nessa
situação, principalmente entre a população adulta e nas faixas etárias acima de
60 anos. No Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba, o crescimento se destaca e é o
mais acentuado até o momento. As informações se referem ao período de 13 a 19
de novembro, e a análise tem como base dados inseridos no Sistema de Informação
de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 21 de novembro.
Variantes e subvariantes já estão em circulação no Brasil. Em cinco estados
brasileiros (São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Amazonas) e em mais de 60 países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
foi detectada a subvariante mais recente da Ômicron, a BQ.1, que ainda não
chegou à Bahia, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Devido ao aumento de casos da doença, a Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde voltou a recomendar, em novembro (13), a
utilização de máscaras, principalmente para imunossuprimidos, idosos, gestantes
e pessoas com comorbidades, e na sexta-feira (25), voltou a tornar obrigatório
o uso de máscaras em aviões e aeroportos do país. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou na segunda-feira (22) o uso de duas novas
vacinas contra a Covid-19, produzidas pela Pfizer. Os imunizantes são de
segunda geração, foram atualizados para oferecer proteção extra contra a
Ômicron e suas subvariantes.
Bahia
Na Bahia, o decreto nº 21637, de 28/09/2022, mantém a obrigatoriedade de uso de
máscara apenas em hospitais e unidades de saúde, para quem esteja com sintomas
gripais, tenha tido contato com pessoas com confirmação da doença ou
sintomáticas, para indivíduos com diagnóstico de Covid-19 (mesmo que
assintomáticos), para imunossuprimidos (mesmo que vacinados) e, por 14 dias,
para quem teve contato com pessoas positivadas.
O governador Rui Costa declarou, na segunda-feira (21), que ainda não é
o momento para retomar o uso obrigatório de máscaras de proteção contra a
doença e medidas restritivas mais rígidas. O anúncio foi feito durante
entrevista coletiva na Secretaria de Educação (SEC), no Centro Administrativo
da Bahia (CAB). As recomendações da Sesab para enfrentamento da pandemia são
completar o esquema vacinal, fazer testagem de sintomáticos e isolamento de
positivos, e usar máscara em unidades de saúde.
Como agir?
Se está
com sintomas gripais, fique em casa |
Evite
sempre aglomerações e lugares fechados, sem ventilação |
Aposente
as máscaras de tecido, elas são ineficazes |
Use
máscaras cirúrgicas por no máximo duas horas e a N95/PFF2 por no máximo uma
semana e somente se não houver sujeira aparente |
Higienize
as mãos antes e depois de tocar na máscara e fique atento ao momento de
colocá-la e retirá-la |
Em caso
de covid, não vale apenas contar os dias, mas fazer e refazer a testagem até
que o resultado dê negativo |
Complete
seu calendário vacinal o mais rapidamente possível |
Entrevista com Miguel Nicolelis
O cenário apontado pelo médico e cientista Miguel Nicolelis é preocupante.
Ele classifica como vergonhoso, no Brasil, o comportamento de não recomendar e
de não usar máscaras, a forma mais simples de proteção individual, que pode
ajudar a diminuir o grau de infecção quando usada de forma adequada. O
médico alerta que as pessoas estão se infectando sem saber, o que está
facilitando o fortalecimento de uma sopa de variantes de impactos
desconhecidos, para os quais as vacinas originais não têm a mesma eficácia.
Se está com sintomas gripais, fique em casa, doutor?
Sim. E fazer o mais rápido possível o teste para saber o que você tem e para
saber a conduta que deve seguir. Com qualquer sintoma gripal, não saia de casa
sem máscara, principalmente em transportes públicos, em locais fechados e sem
ventilação, ou em aglomerações. A máscara adequada é o que vai garantir alguma
proteção contra um vírus que está no ar. Se o teste der positivo, a pessoa deve
ficar no mínimo de 7 a 10 dias isolada, refazer o teste, e só voltar a sair
após o teste dar negativo. E tomar a vacina e as doses de reforço, caso ainda
não tenha feito.
A subvariante BQ.1 da ômicron começa a se espalhar pelo Brasil, já detectada em cinco estados, mas ainda não chegou à Bahia, embora haja um aumento de casos. O que explica esse espalhamento, mesmo sem a variante ser identificada?
Eliminamos o uso de máscaras muito cedo no Brasil. As pessoas relaxaram sem a
obrigatoriedade e sem as informações claras e adequadas à população. Estamos
vivendo um vácuo de informações, e esse vácuo precisa ser ocupado. É preciso
urgência na mobilização para informar a população sobre os perigos de se
infectar, porque essa é uma doença para não se pegar. Permitiram que o vírus
circulasse, ele sofreu mutações, e agora estamos no meio de uma sopa de
variantes. Cancelar o vírus por decreto não funciona. No embate entre a
política e a biologia, a biologia ganha de lavada! Se não tem dados oficiais,
isso não quer dizer que a variante não chegou. Temos diversos apagões de dados,
subestimam a média móvel em 5 a 7 vezes, e, principalmente, os dados não
mostram as mortes de pessoas que se infectam, desenvolvem doenças crônicas e
morrem, pois no atestado de óbito não consta a Covid-19 como causa e sim a
doença que causou a morte.
Por que é importante a liberação dessas duas novas vacinas aprovadas pela Anvisa e o que podemos esperar?
As vacinas salvaram dezenas de milhares de vidas. Elas foram feitas com o vírus
original. As novas vacinas aprovadas pela Anvisa são atualizadas, mas elas
precisam chegar até a população. Esse vácuo de liderança que estamos vivendo
precisa ser assumido o mais rápido possível, a população precisa urgentemente
de informações claras e concretas para poder se proteger e parar com o
comportamento de risco o quanto antes. Para muitos, principalmente para os
políticos, a pandemia não existe mais, acabou, mas ela não acabou, ela
continuou e continua, independente de haver ou não dados. É preciso com
urgência restituir a checagem nos aeroportos! Já tem variante nova na China que
não chegou no Brasil. Estamos de portas abertas para o vírus. Também estamos
sequenciando muito pouco o vírus para conhecê-lo e as variantes estão todas
circulando por aí, fazendo turismo de forma silenciosa, infectando, causando
outras doenças que podem matar a curto, médio e longo prazos.
O que aprendemos com a pandemia de Covid-19?
A maior lição da pandemia é que o lobby econômico triunfou. Acompanhado pelas
subnotificações que escondem sua real face, pela subestimação da média
móvel, pelo incentivo a relaxar, aglomerar, festejar, comprar, se juntar para
seguir políticos, o que vivemos no Brasil é vergonhoso e uma tragédia. A
pandemia sumiu do debate eleitoral e o rojão vai explodir na mão do novo
governo. Os cidadãos estão à deriva, estamos à deriva, sozinhos, e isso é
inaceitável.
SITUAÇÃO ATUAL
FIOCRUZ
Nas últimas quatro semanas, a prevalência entre os casos com
resultado positivo para vírus respiratórios foi de 6,2% para influenza A; 0,2%
para influenza B; 16,3% vírus sincicial respiratório (VSR); e 61,8% Sars-CoV-2
(Covid-19). Entre os óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os positivos
foi de 2,0% para influenza A; 0,0% para influenza B; 0,7% VSR; e 93,3%
Sars-CoV-2. (Período de 13 a 19/11, e análise baseada em dados inseridos no
Sivep-Gripe até 21/11)
BAHIA
Na semana de 13 a 19/11/2022, foram registrados 2.988 novos
casos de covid na Bahia (+195,3% em relação à semana anterior), média de 1.260
casos ativos (+51,2% em relação à semana anterior) e 5 óbitos foram
notificados. (Esses dados representam notificações oficiais compiladas pela
Diretoria de Vigilância Epidemiológica em Saúde - Divep-BA, em conjunto com as
vigilâncias municipais e as bases de dados do Ministério da Saúde).
FONTE: CORREIO DA BAHIA - 27/11/2022 13h:07
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