quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Professor autor de laudo dos áudios atribuídos ao Gen. Heleno explica trabalho realizado; Vídeo


   Professor Mario Gazziro, da UFABC, autor do laudo dos áudios atribuídos ao general Heleno. YouTube/Reprodução

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (27), o professor da UFABC e especialista em computação forense Mario Gazziro (UFABC) explicou o seu método de análise empregado para chegar ao laudo que mostrou que os áudios golpistas atribuídos ao general Augusto Heleno seriam do próprio militar.

As análises periciais de Gazziro não são novas, tampouco inexpressivas. Com uma carreira sólida nessa atividade, o acadêmico já atuou em casos de grande repercussão nacional, produzindo laudos que foram divulgados por vários veículos de imprensa de todo o Brasil, como nos episódios de áudios que supostamente mostrariam o ex-presidente Jair Bolsonaro xingando sua esposa, Michelle, no desfile de 7 de Setembro de 2022, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, das mensagens em que supostamente Lula ameaçaria o ex-ministro Antônio Palocci, no mesmo ano, no portal UOL, e das falas supostamente ditas por Ciro Gomes afirmando que haveria uma tomada de poder pelos militares caso Lula vencesse a eleição, também de 2022, checada e desmentida pelo GZH (Rádio Gaúcha e jornal Zero Hora), do grupo RBS.

Como foi demonstrado com exclusividade pela Fórum, o laudo produzido pelo professor da UFABC mostra que os áudios atribuídos a Augusto Heleno tinham compatibilidade de 86% com a voz do general e que, segundo os métodos de análise, que usam Inteligência Artificial (IA) e apresentam "coeficientes cepstrais", eram do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

O laudo é assinado pelo professor adjunto de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC), que é também pós-doutorando e pesquisador visitante na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP). Também participaram da análise e elaboração do documento alunos de extensão do grupo Ganesh, da USP, e Greenteam, da UFABC.

Heleno negou a veracidade dos áudios durante sua participação na CPMI dos Atos Golpistas na última quarta-feira (27). Confira abaixo o laudo completo realizado por Gazziro no caso dos áudios atribuídos ao general Augusto Heleno.

Tecnologia de ponta

O professor explicou ao Fórum Onze e Meia que a técnica utilizada é a mais avançada dentro da computação forense, a chamada MFCC. "A gente usa o que a gente chama de estado da arte para averiguar a autenticidade dos áudios", disse.

Ele afirma que, a partir de uma grande quantidades de excertos da voz, o algoritmo cria uma espécie de "impressão digital" e, a partir da compatibilidade entre o áudio analisado e o mapa cepstral, os cientistas são capazes de afirmar ou não se aquela é a voz do sujeito. O algoritmo também é capaz de identificar se os áudios foram produtos de montagens ou de imitadores.

Os áudios golpistas dão 86% de compatibilidade com a voz de Heleno, nível que, segundo os padrões, indica que a probabilidade da voz não ser de Heleno é ínfima.

Ele reforçou que, ao longo de sua trajetória, desmentiu áudios falsamente atribuídos a Bolsonaro, a Lula e a Ciro Gomes. De acordo com Gazziro, a análise é integralmente técnica e supera outras escalas.

O engenheiro de dados também reforça que a técnica é replicável, de código aberto, e pode ser verificado por quem desejar revisitar o processo do laudo.

"A gente só trabalha com softwares de código aberto, não trabalha com software fechado. Nosso software é aberto, a gente consegue ver lá a base dele, o fundamento matemático por trás", disse. "A gente já disponibilizou no GitHub, no YouTube, os dados, né? É uma coisa que tem que ser refeito, nós somos cientistas. O método científico é esse, o outro tem que reproduzir o seu resultado e tem que dar certo", completou.

Como foi o mapeamento da voz de Augusto Heleno

Mario Gazziro relatou que ele e sua equipe de pesquisadores passaram mais três dias analisando os dados da voz de Heleno e os comparou com os áudios que incitariam um levante golpista.

"Deu um trabalho extensivo, a gente ficou três dias fazendo essa análise, porque é uma coisa muito séria", disse. O principal esforço é analisar palavra por palavra, para que se garanta que não existam montagens no meio do áudio. "A gente faz essa análise quase que vocábulo a vocábulo. Então, a gente tem que fazer pedacinho por pedacinho", explicou.

Ele também nega que exista a possibilidade de se tratar de um deepfake. "Se eu pegar um imitador, que imita de forma que as outras pessoas ficam em dúvida, não vai passar de 40%, 45% nesse batimento do nosso sistema. Se for um deepfake, que a gente gera deepfakes aqui, vai ficar nesse limiar, entre 40 e 60%. Acima de 60%, o deepfake não passa. Como você falou, ele não é perfeito", reforçou o pesquisador.

Confira a entrevista completa de Mario Gazziro para a TV Fórum:

 

Fonte: Revista Fórum - 27/09/2023

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