quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Salvador: Meningite assusta e provoca corrida as clínicas particulares

O medo diante das mortes provocadas pela meningite meningocócica na Bahia e a ausência de distribuição gratuita da vacina na rede pública de saúde tem levado centenas de pessoas a procurarem imunização nas clínicas particulares de Salvador. Em pleno feriado ontem, a primeira programação de muitos pais foi a de vacinar as crianças, desembolsando um valor médio de R$100. Muitos saíram de municípios vizinhos, como Candeias para adquirirem a vacina na capital baiana.
Em uma clínica particular, devido a grande demanda de pessoas em busca da vacinação houve distribuição de senhas, limitadas ao número de 500 por dia. Eram 10h da manhã e a auxiliar de serviços gerais, Eliene Alves com a senha de nº. 159 na mão ainda aguardava em pé atendimento para vacinação de seus dois filhos de 15 e 16 anos. “Não dá para esperar a doença chegar, por isso vale o sacrifício. Estou pagando R$240”, disse ela que saiu cedo de Candeias, a 44 km de Salvador. Assim como ela, a balconista Maridalva dos Santos e a professora Gildenita Oliveira também saíram do município da Região Metropolitana para vacinarem seus filhos na capital. “Lá teve quatro casos de meningite. Não dá pra vacilar”, afirmou Gildenita.
Com o bebê nos braços, a técnica em edificação, Valquíria de Almeida não via a hora de ser atendida. “Não considero pagar pela vacina um sacrifício financeiro, mas um investimento. Agora bem que o governo poderia dá de graça logo. Essa doença é um risco para nossas crianças”, ressaltou.
Movimento é crescente nas clínicas especializadas
O surto de meningite no Estado tem mudado o dia-a-dia dos estabelecimentos particulares que comercializam a vacina. Na Clínica Probaby, na Avenida Princesa Leopoldina, Graça são disponibilizadas 500 senhas por dia, somente para a vacinação que previne a doença. No local, a vacina está sendo aplicada pelo valor de R$100 com pagamento à vista e R$ 119 no cartão de crédito, dividido em duas vezes.
Ontem os corredores e área externa da clínica estavam lotados de pessoas a espera da imunização. Às 9h30 da manhã, o agente de portaria Valdemar Souza Santos já havia distribuído 234 senhas. “Hoje ainda pudemos dizer que está tranquilo por ser feriado. Nos outros dias a procura tem sido bem maior”, disse.
Enquanto o porteiro distribui as fichas, cinco pessoas fazem o cadastro, duas organizam a fila e quatro aplicam a vacina. “A procura aumentou depois do registro do surto em Caixa D’Água, mas se intensificou ainda mais há cerca de uma semana”, afirmou o pediatra Pedro Rocha, que trabalha na clínica.
Segundo o especialista, além da vacinação recomendada a partir dos dois meses, os cidadãos devem evitar as aglomerações. “É recomendável que as pessoas se alimentem bem e se hidratem bastante. O surto tem sido maior em crianças e adultos jovens, mas pode acontecer com qualquer pessoa e em qualquer idade”, enfatizou. Conforme Rocha, a qualquer sinal de febre, vômito, dor de cabeça, dor e enrijecimento da nuca é preciso que se procure o médico.
Em pé na fila de um dos corredores, Sueli Azevedo comemorou quando viu seu nome sendo chamado. “Até que enfim chegou nossa vez”, disse olhando para o filho Gilmar de 11 anos. “Além de dar para o meu filho também vou tomar. A contaminação está demais, então é melhor evitar. Está chegando o verão, Carnaval, movimento de turistas, por isso não tem como não temer essa doença”, ressaltou.
Outras clínicas também tem sido bastante procuradas para imunização, a exemplo da Clínica Professor Cândido Pereira, localizada no Hospital da Bahia e a Datalab, na Pituba. Ambas que estavam fechadas no feriado não deixaram de ser procuradas. “Só funciona a amanhã a partir das 7 horas”, dizia o segurança Edvaldo Cabral, quando alguém se aproximava ontem em busca da vacinação no Hospital da Bahia.
Na Datalab houve procura também. “Apesar de ser feriado muitas pessoas vieram aqui hoje”, disse uma das pessoas que ajudavam em uma obra de reforma na clínica ontem. No local, a vacinação que previne a meningite meningocócica custa R$110, que pode ser dividido no cartão de crédito em duas vezes.
Em Lauro de Freitas, o movimento também tem sido grande na clínica Seimi, que funciona dentro do shopping Estrada de Coco. Famílias carentes têm se esforçado para pagarem R$90 à vista e R$102 no cartão. “O desespero é tão grande que muitas pessoas têm ido pra lá sem informação sobre a doença – muitos confundem inclusive com outros nomes. No dia em que fui tomar, um homem chegou procurando a vacina contra hepatite C. Foi então que a enfermeira conseguiu esclarecer dizendo que existia a vacina para meningite do tipo C”, contou o jornalista Rafael Carvalho, enfatizando que muitos dos cidadãos que procuram o lugar são humildes.
Casos
Conforme dados do boletim da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), até o dia 26 de novembro foram registrados 2.080 casos de meningite na Bahia. Desses, 178 foram da forma mais grave - meningocócica. No total, a doença vitimou fatalmente 48 pessoas. Ano passado morreram 26 pessoas.
O governo do Estado anunciou recentemente a compra de 1,5 milhão de doses para serem aplicadas em crianças de zero a cinco anos. A previsão é de que a vacinação comece em janeiro. Segundo a Sesab, as ações no sentido de combater a doença são seguidas de acordo com protocolo do Ministério da Saúde, que define a investigação dos casos e a medicação dos contatos com o doente, como medidas de controle.
Fonte:LIlian Machado/Tribunadabahia

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