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Heparina já foi usada em 80 pacientes e nenhum morreu
O anticoagulante heparina tem apresentado ótimos resultados no tratamento da covid-19 e tem seu uso defendido pela pneumologista Elnara Negri, que atua no Hospital das Clínicas da USP e no Sírio-Libanês.
A hipótese por trás do uso do remédio é de que a covid-19 deve ser tratada como uma doença trombótica. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) levantaram em abril a possibilidade de que que distúrbios de coagulação sanguínea estariam na base dos sintomas mais graves da COVID-19 - entre eles insuficiência respiratória e fibrose pulmonar.
Em menos de um mês, o tema ganhou destaque em reportagens publicadas nos sites da Science e da Nature, duas das mais importantes publicações científicas internacionais.
Entre as primeiras pessoas a perceber o "caráter trombótico" da doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) está a médica Elnara Negri.
"Foi por volta do dia 25 de março. Tratávamos uma paciente cuja função respiratória piorava rapidamente e, quando ela foi entubada, percebi que seu pulmão era fácil de ventilar. Não estava enrijecido, como seria esperado em alguém com síndrome do desconforto respiratório agudo. Logo depois notei que essa pessoa apresentava isquemia em um dos dedos do pé", conta Negri à Agência FAPESP.
O sintoma, que tem sido chamado de covid toes (dedos do pé de covid) é causado pela obstrução de pequenos vasos que irrigam os dedos dos pés. Negri já havia observado fenômeno semelhante, muitos anos atrás, em pacientes submetidos a aparelhos de circulação extracorpórea durante cirurgia cardíaca.
"O equipamento que se usava antigamente bombeava oxigênio no sangue e induzia a formação de coágulos no interior dos vasos. Eu já tinha visto aquele quadro e sabia como tratar", afirma.
A médica prescreveu heparina, um dos medicamentos anticoagulantes mais usados no mundo, e em menos de 18 horas o nível de oxigenação da paciente melhorou. O dedinho do pé, antes vermelho, ficou cor-de-rosa. O efeito se repetiu em outros casos atendidos no Sírio-Libanês.
"Após esse dia, tratamos cerca de 80 pacientes com covid-19 e, até agora, ninguém morreu. Atualmente, quatro estão na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e os demais ou estão na enfermaria ou já foram para casa", diz.
Enquanto a maioria dos estudos indica que casos graves de COVID-19 necessitam, em média, de 28 dias de ventilação mecânica para recuperação, os pacientes tratados com heparina geralmente melhoram entre o 10o e o 14o dia de tratamento intensivo.
A experiência clínica com as primeiras 27 pessoas submetidas ao protocolo desenvolvido no Sírio-Libanês foi descrita em artigo disponível na plataforma medRxiv ainda em versão preprint (sem revisão por pares).
fonte:Correio da Bahia - 15/05/2020 -19h.
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