domingo, 26 de julho de 2020

Em cartas, Marcelo Odebrecht relatou ameaça da Lava Jato; força-tarefa nega

Em cartas, Marcelo Odebrecht relatou ameaça da Lava Jato; força-tarefa nega

foto:Henry Andrey

As cartas escritas pelo ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, enquanto esteve na prisão apontam que ele disse ter sido ameaçado pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF). Escritas em 2017, elas vieram à tona porque a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) as anexou ao processo que ele responde em Curitiba sobre um terreno para o Instituto Lula que teria sido comprado pela empreiteira.

A informação sobre a ameaça está contida em uma carta datada de fevereiro de 2017, quando Marcelo menciona que mudou o rumo de sua negociação. "Foi quando o Mouro [Sergio Moro, então juiz da 13ª Vara de Curitiba] ia me soltar (por volta de maio/16) e o MPF nos ameaçou dizendo que se eu fosse solto, outras operações seriam deflagradas", escreveu o executivo à época, segundo a Folha de S. Paulo. 

Os relatos indicam que inicialmente ele não pretendia delatar e fez diversas críticas aos demais executivos, especialmente seu pai, Emílio Odebrecht, sobre a forma como conduziram a crise instalada no grupo empresarial.

Quanto à ameaça, Marcelo disse ter "certeza de que era blefe", mas ainda assim aceitou abrir mão de "um período de liberdade" desde que fosse para o regime domiciliar com a assinatura do acordo, o que não aconteceu. Ele só progrediu para a prisão domiciliar um ano após a assinatura da delação, em dezembro de 2017. Atualmente, ele está em regime semiaberto.

A publicação procurou a força-tarefa da Lava Jato, que negou ter havido qualquer pressão indevida e disse que todo contato com o empreiteiro sempre ocorreu com o acompanhamento de seus advogados. "A eventual apresentação de esclarecimento ou informação para o investigado ou réu sobre a existência de investigações de caráter público e sobre as consequências legais de seus possíveis crimes não caracterizaria qualquer 'ameaça' ou pressão indevida, mas sim a exposição legítima de dados que permitam a investigados e réus tomarem decisões", respondeu o MPF.

A defesa de Lula usa essas cartas para apontar contradições na delação, a exemplo de pontos como o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como "departamento de propina". Em um texto, o executivo disse que a empreiteira precisava se manifestar sobre "absurdos que estão dizendo". "Onde estão nossos sócios nos projetos? E as estrangeiras? Não tínhamos um departamento de propina, nem muito menos este tipo de relação com o setor público era só nós que fazíamos...", defendia Marcelo.

Em outra carta, ele disse que foi "mentirosamente acusado de ter praticado atos ilícitos nos quais não se envolveu". Esses "atos" são relativos à propina na Petrobras, que serviu como base na condenação de Lula no caso do sítio de Atibaia.

Com base em trechos como esses, a defesa do petista diz que as cartas mostram "calibragem de relatos" e falta de espontaneidade na delação. Já os advogados de Marcelo criticam a utilização desses documentos, trocado entre ele e seus defensores - as cartas também foram usadas como prova pela Justiça de São Paulo e culminaram no bloqueio de R$ 143,5 milhões que o grupo havia pago a Marcelo na época do acordo.

Para os defensores do ex-presidente da empreiteira, a Odebrecht violou o sigilo da comunicação com advogados ao fazer uso dessas cartas.

fonte:BN  c/adaptações - 22/07/2020 -12h:37min.

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