sexta-feira, 3 de julho de 2020

Visão no Planalto é que se caso Queiroz chegar a Bolsonaro, investigação é 'congelada'

BRASÍLIA -  Enquanto tem adotado a moderação para escapar das polêmicas criadas pelas próprias declarações, o presidente Jair Bolsonaro faz cálculos políticos diante da encruzilhada de investigações que o cercam.  
Em conversas com ministros mais próximos no Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo diz que a crise está controlada, apesar dos pedidos de impeachment e inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do caso de Fabrício Queiroz, que apura o esquema de “rachadinha” no gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) de seu filho e hoje senador Flávio Bolsonaro (Podemos-RJ).
Queiroz preso
O ex-assessor Fabrício Queiroz após ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira
A tranquilidade do presidente se ampara, segundo auxiliares, na confiança de que quaisquer das investigações em curso não lhe alcançarão pelo menos durante o mandato.  A trégua com o Congresso e o avanço num diálogo com STF também reforçam a expectativa de que os pedidos de impeachment e uma eventual cassação do mandato deixem de assombrá-lo.
No caso Queiroz, a análise é que se, porventura, o ex-assessor envolver o presidente no suposto esquema de “rachadinha”, o inquérito deverá ser paralisado. Pela legislação, o chefe do Executivo não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato.  
Nesta quinta-feira, 3, o Estadão revelou que Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz,  tinha um caderno com números de celulares atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, ao próprio Flávio, à primeira-dama Michelle e a diversas pessoas ligadas à família. Segundo o Ministério Público o Rio de Janeiro, os contatos deveriam ser acionados quando o ex-assessor fosse detido.

Queiroz foi preso no dia 18 de junho em Atibaia, interior de São Paulo, na casa de Frederick Wassef, então advogado de Flávio. Márcia é considerada foragida desde então. O nome do ex-assessor parlamentar veio à tona em dezembro de 2018, quando o Estadão revelou movimentações financeiras atípicas de integrantes do gabinete de Flávio na Alerj.
Wassef, que também se apresentava como advogado de Bolsonaro, deixou a defesa do senador, alegando que há uma estratégia para atingi-lo e assim chegar ao presidente.  Com a saída do advogado, a ordem  é deixar a investigação envolvendo Flávio Bolsonaro longe do Planalto e evitar comentários na tentativa de blindar o governo. 
Na avaliação de auxiliares próximos a Bolsonaro, os pedidos de impeachment e os de cassação no TSE só andam se o discurso golpista voltar e atos antidemocráticos ganharem força. Essa opinião também é compartilhada por integrantes do Congresso, que têm retribuído com apoio os acenos do governo. 
Nos últimos dias, o presidente, de acordo com auxiliares, vem percebendo que a mudança de seu comportamento foi fundamental para controlar a crise.  Embora aconselhado há tempos a evitar confrontos e a diminuir o tom de seu discurso, a versão “Bolsonaro paz e amor” só foi adotada  porque o presidente se convenceu que era necessário.

Até então, o chefe do Executivo se mostrava mais suscetível aos estímulos do grupo mais radical instalado no seu governo. Deste núcleo, fazem parte seguidores do guru Olavo de Carvalho, mas ganhou o reforço de alguns militares, como o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que também passaram a adotar postura mais agressiva contra Judiciário e Legislativo.
fonte:Estadão - 03/07/2020 -13h:35min.

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