sexta-feira, 18 de julho de 2025

Bolsonaro diz que sempre guardou dólares em casa, mas nunca declarou ao TSE

                                   foto:Divulgação

                               

Após ser alvo de uma operação da Polícia Federal e colocar tornozeleira eletrônica, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou a apreensão de US$ 14 mil e R$ 8 mil em dinheiro vivo na sua casa. Ele afirmou que tinha o hábito de guardar valores em moeda americana. Contudo, nunca declarou valores em espécie ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Questionado por jornalistas sobre a apreensão, Bolsonaro afirmou: “Sempre guardei dólar em casa, pô”. O ex-presidente ainda afirmou que tem os recibos de saque de dólares no Banco do Brasil.

Levantamento feito pela coluna em dados públicos de prestação de contas eleitorais mostra que Jair Bolsonaro não declarou manter nenhum dinheiro em espécie ao se candidatar.

O TSE disponibiliza publicamente as declarações de bens dos candidatos a cargos públicos desde 2004. No período, Jair Bolsonaro disputou as eleições de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022. Em suas declarações, Bolsonaro incluiu imóveis, veículos, valores em conta corrente e aplicações financeiras, mas nunca dinheiro vivo.

Só Carlos Bolsonaro já declarou dinheiro vivo

A falta de declaração contrasta com o uso de dinheiro vivo como modus operandi da família Bolsonaro em movimentações financeiras, inclusive para a compra de imóveis.

Levantamento feito pelo portal Uol em 2022 revelou que a família Bolsonaro comprou 51 imóveis com o uso de dinheiro em espécie.

Além de Jair Bolsonaro, a prática também inclui o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Apesar disso, nenhum dos dois declarou ao TSE possuir qualquer dinheiro em espécie –Flávio disputou as eleições de 2006, 2010, 2014 e 2018, enquanto Eduardo foi candidato em 2014, 2018 e 2022.

Mais novo político da família, Jair Renan Bolsonaro também não declarou nenhum dinheiro em espécie ao se eleger vereador em Balneário Camboriu (SC), em 2024.

A única exceção é Carlos Bolsonaro (PL-RJ): o vereador declarou manter dinheiro vivo nas eleições nas três últimas eleições que disputou. Em 2016, Carlos afirmou possuir o equivalente a R$ 20 mil em moeda estrangeira –o registro do TSE não informa se eram dólares.

Em 2020, o valor foi o mesmo, mas dessa vez em reais. Já em 2024, Carlos Bolsonaro afirmou guardar R$ 30 mil em dinheiro vivo.

Família Bolsonaro manteve cofres em banco no RJ

Em uma série de reportagens em 2024, a coluna revelou que Carlos e Flávio Bolsonaro mantiveram por anos um cofre em uma agência do Banco do Brasil no centro do Rio de Janeiro.

A investigação, feita a partir de documentos contidos na investigação sobre o esquema de rachadinha no gabinete de Carlos, revelou que os irmãos faziam visitas constantes ao cofre, inclusive em datas próximas a grandes transações imobiliárias que usaram dinheiro vivo.

Carlos Bolsonaro esteve no cofre em datas correspondentes a diversas transações imobiliárias da família, revelou o cruzamento de dados feito pela coluna.

Em janeiro de 2009, ele esteve no local no mesmo dia em que seu pai comprou a casa onde vivia até 2018 no condomínio Vivendas da Barra, em área nobre da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.

Apesar de não ter declarado o uso de dinheiro em espécie nessa negociação, a compra do imóvel levantou suspeitas por conta do valor declarado pelo ex-presidente: Jair Bolsonaro afirmou ter pago apenas R$ 409 mil pelo imóvel, mas a prefeitura avaliou a casa em pouco mais de R$ 1 milhão para o cálculo de impostos.

Carlos Bolsonaro também esteve no cofre menos de três horas antes de comprar um imóvel em março 2009.

A segunda casa no Vivendas da Barra foi comprada por Jair Bolsonaro em 13 de dezembro de 2012. O valor declarado foi de R$ 500 mil. No mesmo dia, Carlos Bolsonaro esteve no cofre que mantinha com Flávio. Até hoje, o imóvel é a residência do vereador, embora esteja no nome de seu pai.

Assim como ocorreu na compra da primeira casa, o valor registrado em cartório ficou muito abaixo da avaliação da prefeitura do Rio. Neste caso, o valor de referência para o pagamento de ITBI foi estipulado em R$ 2,23 milhões.

Em 3 de fevereiro de 2011, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) passou 24 minutos no cofre alugado. Na mesma data, Eduardo Bolsonaro, seu irmão mais novo, registrou em cartório a compra de um apartamento, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Na época, recém-empossado como escrivão da Polícia Federal, Eduardo declarou ter pago R$ 160 mil pelo imóvel, dos quais R$ 50 mil foram pagos em dinheiro vivo.

Flávio Bolsonaro também já exibiu comportamento semelhante. Em 26 de novembro de 2012, ele acessou o cofre, no Centro do Rio. Um dia depois, pagou R$ 638 mil em dinheiro vivo na aquisição de dois apartamentos em 2012.

Essa compra foi um dos principais achados da investigação de corrupção contra ele conduzida pelo MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), que ficou conhecida como o escândalo da rachadinha.

Ao obter a quebra de sigilo bancária de Flávio Bolsonaro, em 2019, o MP descobriu que, no mesmo dia da concretização do negócio, o vendedor também esteve em um banco HSBC, também no Centro do Rio, no qual depositou, ao mesmo tempo, os cheques recebidos de Flávio e de sua mulher Fernanda e, ainda, outros R$ 638,4 mil em dinheiro vivo.

Flávio, Fernanda e Dillard foram denunciados pelo MP-RJ por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Flávio foi acusado de um desvio de R$ 6 milhões. Para o MP, o caso dos imóveis de 2012, é um claro exemplo de lavagem do dinheiro obtido ilegalmente com a chamada “rachadinha”.

No entanto, os dados das quebras de sigilo foram anulados por uma decisão do STJ que cassou a autorização que tinha sido dada pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio). A investigação segue sob responsabilidade da Procuradoria-Geral de Justiça do Rio e é mantida em sigilo.


Fonte:IGOR MELLO/ICL NOTÍCIAS - 18/07/2025

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