terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mundo: Presidente do Irã diz que acordo nuclear é possível, mas alerta que vai reagir as sanções


Em mais um discurso dúbio, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou nesta terça-feira que está disposto a um acordo para troca de urânio por combustível nuclear, mas alertou que o país responderá de maneira dura a qualquer nova sanção pelos avanços de seu programa nuclear.
"Se alguém criar problemas ao Irã, nossa resposta será como as do passado. Será dura o suficiente para fazê-los se arrependerem" de ter aprovado sanções, advertiu Ahmadinejad, em entrevista a jornalistas, diante da campanha norte-americana para a aprovação de uma nova rodada de sanções da ONU em reação ao recente anúncio iraniano de enriquecimento de urânio a 20%.
Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, fala a jornalistas sobre programa nuclear e diz que vai reagir a qualquer nova sanção
O discurso duro de Ahmadinejad acontece um dia após a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pedir à Arábia Saudita ajuda para convencer a relutante China a aprovar sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Clinton disse que uma nova rodada de sanções deve ter como alvo a Guarda Revolucionária, que, segundo ela, está comandando o país como uma ditadura militar.
"Sanções não vão prejudicar o Irã", disse Ahmadinejad, repetindo um discurso conhecido. Apesar da campanha internacional, o ultraconservador presidente sabe que os iranianos aprenderam a burlar as três rodadas de sanções da ONU já impostas ao país --e que acabaram trazendo efeitos negativos ao Ocidente, como estimular o mercado negro e beneficiar os líderes iranianos devido à irritação da opinião pública.
Em um tom mais ameno, Ahmadinejad disse também que Teerã ainda discute a proposta das potências para o enriquecimento do urânio iraniano em solo exterior e que o assunto ainda não está encerrado.
Acordo
As potências ocidentais ofereceram em outubro passado um acordo no qual o Irã enviaria boa parte de seu urânio enriquecido a 3,5% para a Rússia e França. Em troca, receberia urânio a 20%, suficiente para a produção de isótopos médicos e bem abaixo dos 90% necessários para a produção de uma bomba nuclear.
Apesar do discurso do iraniano, a Agência Internacional de Energia Atômica nunca recebeu uma resposta oficial de Teerã, que anunciou na semana passada que começou a produzir seu próprio urânio a 20%.
"Há algumas conversas em andamento sobre a troca de combustível nuclear", disse Ahmadinejad, sem dar maiores detalhes. "Este caso ainda não está fechado. Nós já anunciamos que estamos prontos para uma troca de combustível dentro de condições justas".
Ahmadinejad disse ainda que a troca pode ocorrer até mesmo com os Estados Unidos, país que considera inimigo da República Islâmica.
Segundo o presidente, o país prefere enviar o urânio para exterior em vez de enriquecê-lo em casa, mas não encontra "boa vontade" para tal. "Nós dissemos a eles que se eles não providenciarem o combustível a tempo, começaríamos a produzir dentro [do Irã]", explicou o presidente.
"E até agora, se eles nos derem o combustível necessário, as condições serão mudadas", completou Ahmadinejad, em um discurso que não deve mudar a disposição americana a novas sanções.
O anúncio do presidente na semana passada de seus planos para produzir urânio enriquecido a 20% para seu reator e construir mais dez usinas nucleares em apenas um ano instigaram uma campanha internacional, liderada pelos EUA e Israel, para uma nova rodada de sanções.
Para que a sanção seja aprovada no Conselho de Segurança da ONU, os EUA têm que conseguir nove dos 15 votos do Conselho de Segurança e nenhum veto dos cinco membros permanentes --os próprios EUA, China, Rússia, Reino Unido e França.
A França deu apoio declarada às sanções. A Alemanha também citou a ameaça de sanções, enquanto o Reino Unido disse que os novos planos do Irã violam resoluções da ONU e que está preocupado com o anúncio.
A Rússia declarou nesta terça-feira que não mudou sua postura em relação a uma nova rodada de sanções contra os avanços do programa nuclear iraniano, mas deixou uma abertura ao admitir que medidas punitivas não devem ser excluídas caso Teerã não cumpra suas obrigações. Já a China defende firmemente a continuação do diálogo nuclear.
Fonte:Folhaonline c/ag.internacionais
Foto:Vahid Salemi/Ap

0 comentários:

Postar um comentário