domingo, 14 de fevereiro de 2010

Recife: Familiares e amigos lembram o último dia do jovem Alcides

As imagens do jovem pobre, que vibrava ao lado da mãe por ter passado em primeiro lugar da rede pública no vestibular 2007 da Universidade Federal de Pernambuco emocionaram o Brasil. Todos lembram da garra de Alcides para seguir adiante.
Dona Maria Luiza, a ex-catadora de lixo que educou quatro filhos lembra momentos felizes que viveu com Alcides e as promessas que ele fazia. "Ele dizia: ‘A senhora deu sua vida por mim, para eu chegar onde eu estou. Então, se a senhora fez isso, eu vou fazer o que a senhora não teve’", recorda a mãe de Alcides. O último dia de vida de Alcides começou no auditório do hospital-escola onde ele fazia estágio. Logo cedo, participou de uma reunião científica em que foi elogiado pelo desempenho como bolsista.
Ao lembrar da luta de Alcides para chegar até ali, a diretora do centro, Paula Loureiro, diz que era difícil não fazer comparações. "Ele era uma pessoa extremamente humilde, de um esforço enorme. Imagine uma pessoa extremamente humilde estar neste mundo da ciência como ele estava", comenta. Mas na noite da sexta-feira (5), Alcides, de 22 anos, foi baleado na frente de casa e morreu no hospital. Alcides era bolsista de iniciação científica da Fundação Hemope, o hemocentro de Pernambuco, desde abril do ano passado. Todos os dias, sempre na parte da tarde, era no laboratório que ele ia trabalhar. “Ele vinha trabalhando intensamente para no final do ano poder participar da jornada final de iniciação científica que dá direito ao ganhador de passar um mês na Inglaterra”, diz Marcos André Bezerra, orientador da bolsa de Alcides.O material usado por Alcides no dia em foi assassinado ainda está do jeito que ele deixou. Mas, para os colegas e professores, o mais forte são as lembranças. "Acho que a felicidade e a determinação dele ficaram. Ele era uma pessoa muito determinada, que ia atrás do que queria", lembra a co-orientadora de pesquisa Betânia Lucena. "Ela já chegava ao laboratório desejando bom dia e perguntando como todos estavam. Estava sempre cantando”, conta a Ivane Bezerra.
Despedida
A bióloga Vera Lúcia diz que, naquele dia, quando Alcides passou na sala dela, sentiu algo diferente. "Para mim, ele estava simplesmente se despedindo. Ele sempre passava, mas naquele dia fez questão de ficar mais próximo, abraçar. Tanto na chegada quanto na saída foi diferente”, afirma.Na vila onde Alcides vivia, a fachada da casa da família virou um painel, com cartazes que pedem justiça. Cinco dias depois do crime, dona Maria Luíza, que está sob proteção da polícia, voltou e não segurou a emoção. Na casa, a bicicleta que ele usava para ir ao trabalho e o quarto simples, apenas com a cama, alguns livros e o computador que ganhou de presente quando passou no vestibular.
'Imperador'
Dona Maria Luiza também não esquece os conselhos que dava a Alcides e às irmãs. "Já que eu não tive essa oportunidade, mas Deus me dá a sabedoria para eu ensinar a vocês como é a vida. Porque eu passei uma vida sofredora e não quero que vocês sofram como eu sofri", diz. As irmãs de Alcides também estão tentando superar a dor da perda. Ana Paula, que acaba de passar no vestibular de farmácia, também na UFPE, lembrou que Alcides, do pouco que ganhava como bolsista, ainda pagava o cursinho dela.
"Ele sempre me ajudava em tudo, inclusive eu não sei como ficar sem ele”, desabafa. "Ele sempre gostava de dizer: ‘estuda, aprende e evolui’”. Com carinho, Ana Paula lembra também como Alcides gostava de ser chamado.
"O apelido dele era imperador, porque ele conquistava muitas coisas. As pessoas pensavam que era soberba. Mas não era. Era pelas conquistas dele, o desejo de mudar. Esse era o objetivo de ser ‘o imperador Alcides’. Todos o conhecem assim”. “Ele dizia que era o imperador e nós éramos as irmãs do imperador e iríamos conseguir superar e chegar aonde quiséssemos. Ele dizia para nunca desistirmos dos nosso sonhos”, finaliza.
Fonte:G1.com
Foto:Reprodução tv Globo

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