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Enfrentando momentos bem desiguais em suas economias, os líderes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reúnem a partir deste sábado (15), no pequeno Estado indiano de Goa, com a difícil tarefa de tentar mostrar alguma unidade no grupo.
Os crescimentos da Índia -que ultrapassou Pequim, percentualmente, em 2015, com 7,3%- e da China -que, apesar de um processo de desaceleração, ainda deve crescer 6,5% neste ano- contrastam com as crises no Brasil e na Rússia, botando em xeque o semelhante potencial que, em 2001, levou o economista britânico Jim O'Neill a "agrupá-los" sob a sigla Brics.
"Há um descolamento do que muitos chamam de 'Chíndia', com a boa performance da Índia e um crescimento da China menos robusto mas que, no agregado, ainda é muito forte, e das outras três economias, que têm performance muito pior", afirma Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia e colunista da Folha de S.Paulo.
A discrepância dificultará um "desenvolvimento mais assertivo do grupo", observa o embaixador Fausto Godoy, coordenador do recém-criado Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM. E deve deixa pouco espaço para novas iniciativas.
Para o governo brasileiro, contudo, a parcela dos Brics que vive seu momento mais lento pode se beneficiar da "autoestima" trazida ao grupo pelo crescimento vigoroso da Índia. Durante a cúpula, que termina no domingo (16), a ideia é passar ao mundo a imagem de que o grupo, como um todo, "está bem", segundo um alto funcionário do governo.
No encontro, serão assinados memorandos de entendimento nas áreas ambiental e de pesquisa agrícola e será criado um comitê de cooperação entre as autoridades aduaneiras dos cinco países, para facilitação do comércio.
Há ainda a expectativa de que possa avançar a ideia sobre criação de uma agência dos BRICS de classificação de risco -que, segundo o grupo, avaliaria os países em desenvolvimento de uma forma "mais justa" do que as demais.
SAIA-JUSTA POLÍTICA
Numa cúpula sem expectativa de grandes anúncios nos campos econômico e institucional do grupo, Rússia e Índia devem tentar empurrar declarações políticas sobre temas importantes para eles.
Moscou já deu sinais de que buscará alguma forma de apoio dos Brics à sua contestada atuação na Síria. Já o anfitrião, o premiê indiano, Narendra Modi, deve tentar incluir na manifestação final do grupo um texto que remeta aos riscos representados pelo vizinho Paquistão.
É improvável, no entanto, que os demais países concordem com posicionamentos assertivos -o que deve resultar em parágrafos genéricos, como de condenação ao terrorismo.
Segundo a embaixadora Maria Luiza Viotti, subsecretária do Itamaraty para a Ásia, os cinco membros deverão seguir trabalhando apenas "em temas sobre os quais há consenso".
"O papel do Brasil é muito importante [para frear declarações nesse sentido], porque senão, ao invés de ser um veículo de integração para a economia global, os Brics vão se tornar um clube para denunciar os males do mundo", afirma Troyjo.
PACOTE DE CONCESSÕES
Para o Brasil, diz o diretor do BRICLab de Columbia, será interessante observar, nos próximos meses, que projetos e parcerias dos Brics farão parte do pacote de concessões anunciado pelo presidente Michel Temer em setembro.
Na comitiva brasileira, estão os ministros José Serra (Relações Exteriores), Marcos Pereira (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Blairo Maggi (Agricultura).
Pereira participou, durante a semana, do encontro de ministros de Comércio dos BRICS em Nova Déli, e teve reuniões bilaterais com todos os outros quatro representantes, nas quais falou sobre os "esforços" do governo Temer em tentar recuperar o crescimento no Brasil.
Representantes de 24 empresas brasileiras com negócios ou com interesse em investir na Índia também estão no país e participarão de reuniões com empresários dos Brics em Goa.
Na segunda-feira (17), Temer se reunirá com Modi, para tratar essencialmente de comércio. De Goa, o presidente segue para o Japão com a comitiva.
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