Foto: Reprodução / UOL
Os ataques à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo desencadeou declarações de repúdio por parte de personalidades da mídia, autoridades políticas e, principalmente, de entidades que representam a categoria. A repórter foi difamada por um ex-funcionário da empresa Yacows em depoimento mentiroso feito à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), nessa terça-feira (11).
Hans River do Rio Nascimento foi entrevistado por Patrícia para uma matéria publicada em dezembro do ano passado sobre os disparos em massa feitos via WhatsApp, usando o CPF de idosos para criar contas falsas (saiba mais aqui).
Em um primeiro momento, ele relatou à repórter como o processo ocorria, mas depois, após firmar um acordo com a empresa, declinou da divulgação. Agora convocado a depor na CPMI, ele negou ter encaminhado documentos à jornalista e afirmou não saber como o jornal teve acesso a um processo que é público. Sem apresentar qualquer prova, Nascimento chegou a dizer que a repórter queria "um determinado tipo de matéria a troco de sexo".
As acusações foram desmentidas por Patrícia e pela Folha, que apresentaram documentos e registros das conversas que ratificam o exposto nas reportagens.
Com isso, o jornal compartilhou os posicionamentos de entidades que representam os jornalistas em repúdio ao depoimento de Nascimento. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), por exemplo, destacou ser "assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia".
A Abraji criticou ainda a postura do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nas redes sociais, o parlamentar repercutiu as insinuações de Nascimento em meio a uma série de críticas ao trabalho de Patrícia.
No final do encontro Patrícia teria se insinuado para entrar na casa de Hans e ter acesso ao seu lap top. É neste momento que o Hans diz que ela toparia até fazer sexo com ele em troca do objeto de seu desejo: o lap top,onde ela acha que encontraria provas p incriminar Bolsonaro.
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"É mais uma ocasião em que integrantes da família Bolsonaro, em lugar de oferecer explicações à sociedade, tentam desacreditar o trabalho da imprensa", destacou a entidade. Patrícia é uma das diretoras da associação.
Neste sentido, o vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Cid Benjamin, analisou o contexto em que as ofensas são feitas. Representando a entidade, ele disse que "a grosseria de que foi alvo a jornalista Patrícia Campos Mello está relacionada com dois fenômenos: os contínuos ataques à imprensa e aos jornalistas em geral e a multiplicação de comportamentos cafajestes. Esses dois fenômenos têm sido estimulados por algumas das mais altas autoridades da República".
Já a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) disse que os insultos refletem os "ataques deliberados e estimulados pelo governo". "A Federação e o Sindicato repudiam, ainda, o caráter misógino, violento e sexista do ataque à profissional jornalista, utilizado para colocar em dúvida a credibilidade das informações apuradas por Patrícia, uma das profissionais mais respeitadas e premiadas do país. O ataque atinge não só a repórter da Folha, mas também os princípios democráticos, constitucionais e a liberdade de imprensa", diz o texto.
Todas essas entidades se colocaram à disposição da repórter para encaminhar as medidas cabíveis.
Além das associações de jornalistas, a Folha de S. Paulo também recolheu manifestações de repúdio de personalidades políticas. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reforçou a gravidade do caso.
"Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei", destacou.
Do lado da oposição ao governo Bolsonaro, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) pediu para que a Folha e Patrícia não deixassem essa situação impune. "Atacam a imprensa para atacar a democracia", ressaltou. Relatora da CPMI das fake news que interrogou Nascimento, a deputada federal baiana Lídice da Mata (PSB) vai acionar o Ministério Público contra Nascimento pelas mentiras que ela afirmou em depoimento e pelas ofensas à jornalista (veja aqui).
Como o assunto figurou entre os principais dos últimos dias, personalidades da mídia também se pronunciaram. O empresário e youtuber Felipe Neto publicou uma mensagem de "apoio e solidariedade" a Patrícia pelas "mentiras escabrosas e nojentas" a seu respeito.
A atriz Camila Pitanga também usou outra rede social para repudiar o fato, como mulher, profissional e cidadã. "É extremamente absurdo e sórdido tudo que a jornalista Patrícia Campos Mello, uma das mais sérias e competentes do nosso país, está passando", alertou.
Quem também não deixou o assunto passar batido foi a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes. Em seu programa, o Encontro, Fátima chamou atenção para o machismo na atitude de Nascimento. "É muito curioso, pois se fosse homem o repórter dessa matérias certamente ele não usaria esse argumento. Muitos homens e mulheres se solidarizando com essa acusação absurda", pontuou.
De fato, a rede de solidariedade a Patrícia é grande. Mulheres jornalistas divulgaram um manifesto em apoio a ela, que contou com mais de 2.250 assinaturas.
fonte:fOLHAPRESS - 13/02/2020 -
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