terça-feira, 17 de maio de 2022

Polícia investiga uso de estudantes de Medicina como ‘mulas’ do tráfico

 SÃO PAULO E SOROCABA – Estudantes brasileiros que cursam Medicina em países como Bolívia e Paraguai estão sendo cooptados como ‘mulas’ pelo tráfico para transportar drogas ao Brasil. Somente na capital paulista, dois deles foram presos em flagrante pela Polícia Civil em um mesmo terminal rodoviário em um período de três meses. As suspeitas são que há mais casos ocorrendo, o que tem ligado o alerta de investigadores.

Conforme o Departamento de Operações de Fronteira (DOF), vinculado à Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, o aliciamento passou a ser uma das formas usadas na tentativa de ludibriar a fiscalização da polícia. Investigações apontam que o lucro dos estudantes que transportam drogas – normalmente de perfil mais caro, como cocaína e skank – pode chegar a R$ 5 mil em uma única remessa.

“Chamou atenção, em um período de três meses, dois estudantes que fazem Medicina fora do Brasil nessa situação”, disse ao Estadão o delegado Fernando Santiago, titular da 4ª delegacia da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil.

 Em 2020, policiais prenderam no Paraná estudante de Medicina de faculdade paraguaia com cocaína
© Divulgação/PRF Em 2020, policiais prenderam no Paraná estudante de Medicina de faculdade paraguaia com cocaína

As prisões dos alunos de Medicina foram feitas em flagrante e ocorreram como parte de investigações que não tinham os estudantes como foco. Mas as semelhanças entre o novo perfil das ‘mulas’, como são chamadas as pessoas cooptadas pelo tráfico para transportar drogas, chamou atenção da polícia. As investigações devem ser intensificadas.

“De um tempo para cá, a gente teve três casos em um intervalo de um ano que envolviam estudantes de Medicina”, acrescentou o delegado. Além dos dois que ocorreram neste ano, de alunos que vieram da Bolívia, Santiago relembra que um estudante foi preso no ano passado após ser flagrado transportando cocaína. Ele cursava Medicina no Paraguai.

“Eles vão para lá para estudar mesmo. Só que aí surge a oportunidade, já que eles estão vindo para o Brasil desses países que são produtores de droga, e o traficante alicia”, explicou Santiago. “Pensam ‘estou indo para São Paulo de qualquer jeito, vou ganhar R$ 4 mil, R$ 5 mil nesse transporte’ e acabam aceitando.”

O caso mais recente ocorreu na última quarta-feira, 11. Uma estudante brasileira de 29 anos foi presa após desembarcar no Terminal Barra Funda, zona noroeste de São Paulo, com quase 13 kg de skank na mala. A droga é descrita pela polícia como uma “maconha gourmet”. “O skank tem um valor de mercado muito próximo da cocaína, é uma droga que tem que ter a planta exata, que é modificada geneticamente”, explicou Santiago.

Segundo o delegado, os traficantes pagam por volta de R$ 20 mil no kg para comprar a droga. “No varejo, esse valor vai ficar muito maior. Uma ou duas gramas, o equivalente a um cacho da planta, custa de R$ 60 a R$ 80”, disse o delegado.

A estudante de Medicina, apontam investigações da polícia, iria lucrar R$ 5 mil com a efetivação da transação. Ela estava com 36 pacotes da droga envoltos em um lençol e guardados em uma mala rosa. O ônibus em que estava saiu de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

“No caso dessa moça, fugiu até um pouco da normalidade”, explicou o delegado. “Normalmente, eles costumam apanhar 2 kg, 3 kg, 4 kg de drogas no máximo, e muitas vezes a droga fica dissimulada na mala.”

Em fevereiro deste ano, um estudante de Medicina de 34 anos foi preso em flagrante com 3 kg de cocaína costurados na parte interna da mala. Ele veio para o Brasil de um ônibus de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e também desembarcou no Terminal Barra Funda. No caso flagrado no ano passado, a droga apreendida também era a cocaína. Os estudantes foram indiciados e estão presos.

Fonte:ESTADÃO -17/05/2022



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