Hery Kattwinkel no plenário do STF e ao lado de Tarcísio de Freitas em Barretos/Instagram
Advogado do golpista Thiago de Assis Mathar, segundo condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos atos golpistas de 8 de Janeiro, Hery Waldir Kattwinkel Júnior foi condenado em 2019 por agredir a mãe e a irmã em ato de violência doméstica.
A agressão ocorreu em 6 de novembro de 2016 em uma briga pela herança do pai. Em sua defesa, o advogado alegou que agiu em legítima defesa, tese que foi refutada pelo juiz Maurício José Nogueira, que justificou dizendo que nos autos não havia qualquer agressão realizada pelas vítimas.
Na sentença em que estipulou prisão de 3 meses e 15 dias, o juiz apontou os maus antecedentes, mas substituiu a detenção pela proibição do advogado frequentar alguns lugares.
"Ante a conduta social do réu e sua responsabilidade, bem como os motivos e as circunstâncias, concedo-lhe o benefício da suspensão condicional da pena, pelo período de dois anos, estabelecendo-se as seguintes condições: proibição de frequentar determinados lugares, proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, trimestralmente, para informar e justificar suas atividades", diz a sentença.
À época, Kattwinkel Júnior atuava como vereador na cidade de Votuporanga, no interior de São Paulo, pelo Podemos. Ele foi expulso do partido após a condenação, que foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Assessor de deputada lavajatista
Mesmo após a condenação em primeira instância, Kattwinkel Júnior foi nomeado no dia 3 de janeiro de 2021 como assessor da deputada federal Renata Abreu, que é presidente do Podemos e foi responsável pela filiação à sigla de Deltan Dallagnol e de Sergio Moro, que foi para o União Brasil após desistir de concorrer à Presidência em 2022.
O advogado foi demitido seis meses depois, em julho de 2021, após a condenação da agressão à mãe e à irmão ser confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Em nota, o Podemos disse que a deputada não poderia ter em seu gabinete alguém envolvido em violência contra a mulher.
Kattwinkel Júnior, no entanto, mentiu dizendo que foi ele quem pediu demissão para se aproximar de partidos ligados a Jair Bolsonaro (PL).
Vergonha histórica
Nesta quinta-feira (14), ao defender o golpista Thiago Assis Mathar no STF, Kattwinkel Júnior protagonizou um dos momentos mais constrangedores já vistos na Corte.
O defensor, em vez de defender seu cliente, atacou o ministro Alexandre de Moraes, afirmando que o magistrado tem um "misto de raiva com rancor dos patriotas", e fez o discurso fraco, repetindo as teses bolsonaristas que circulam nas redes sociais.
Em dado momento, Kattwinkel soltou uma pérola que vem gerando uma onda de memes nas redes sociais: confundiu a obra clássica "O Príncipe", do filósofo italiano Nicolau Maquiavel, com o romance "O Pequeno Príncipe", do francês Antoine de Saint-Exupéry.
"Disse o pequeno príncipe: os fins justificam os meios. E podemos passar por cima de todos", disparou o advogado, causando constrangimento no plenário.
Alexandre de Moraes, atacado por Kattwinkel, respondeu de forma contundente, classificando o discurso do advogado como "patético e medíocre".
“Presidente, é patético e medíocre... E eu repito, patético e medíocre que um advogado suba à tribuna do Supremo Tribunal Federal com um discurso, um discurso de ódio, um discurso para postar depois nas redes sociais, que veio aqui agredir o Supremo Tribunal Federal, talvez pretendendo ser vereador em seu município, no ano que vem... O advogado não analisou nada, absolutamente nada, não analisou a associação criminosa, não analisou o dano, não analisou nada porque o advogado preparou um discursinho para postar em redes sociais, e isso é muito triste..", declarou o ministro.
"Os alunos que aqui se encontram, os alunos da Universidade de Rio Verde, de Goiás, hoje tiveram uma aula do que não deve ser feito na tribuna da Suprema Corte do país... E só não é mais triste porque ainda confundiu ‘O Príncipe’, de Maquiavel, com ‘O Pequeno Príncipe’, de Antoine de Saint-Exupéry, que são obras que não tem absolutamente nada a ver, mas obviamente, quem não leu nem uma, nem outra, vai no Google e às vezes dá algum problema... E é o problema do mundo das redes sociais”, prosseguiu Moraes.
O advogado ainda cometeu novo erro crasso ao falar em "lavar as mãos de Afonso Pilatos", referindo-se à passagem bíblica que cita o governador da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36, Pôncio Pilatos, que segundo a tradiçao cristã teria sido o juiz que "lavou as mãos" diante do julgamento de Cristo.
Quem é Hery Kattwinkel
Hery Kattwinkel é natural de Votuporanga, município na região Noroeste do estado de São Paulo, e se define em seu perfil no LinkedIn como "um dos palestrantes de direito mais requisitados do mercado".
Bacharel em Direto pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, o advogado foi vereador em Votuporanga entre 2017 e 2020. No ano de 2022, se candidatou a deputado estadual pelo Solidariedade, mas não se elegeu e, atualmente, é suplente.
Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Hery Kattwinkel, que concorreu como "Dr. Hery", declarou, entre seus bens, R$ 100 mil em espécie - isto é, dinheiro vivo. Os dados são públicos e constam na plataforma DivulgaCandContas no portal do TSE.
Ao longo de 2022, o advogado fez campanha vinculando sua imagem com a do governador bolsonarista Tarcísio Gomes de Freitas. Recentemente, inclusive, Hery Kattwinkel publicou uma foto em que aparece com o mandatário estadual na Festa do Peão de Barretos.
Pouco antes do início da sessão do STF que condenou seu cliente pelos atos golpistas, nesta quinta-feira (14), o advogado fez uma enquete, através dos stories, para saber se seus seguidores concordam com a afirmação de que os ministros do Corte são "os mais odiados do país".
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