São Paulo – A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirma que registrou a devolução de um notebook e celulares funcionais do deputado federal Alexandre Ramagem (PL) após sua exoneração, em 2022. A apreensão de equipamentos internos em posse de seu ex-diretor-geral surpreendeu a agência, que vai investigar inclusive de qual departamento e de quem seria a responsabilidade pelo notebook e celular confiscados pela Polícia Federal nessa quinta-feira (25/1).
O próprio deputado, em entrevista à GloboNews, admitiu que computadores e telefones da Abin continuavam com ele. “Não tem utilização há mais de três anos, sem uso. Mesmo sem uso, não devolve. Poderia devolver, mas não devolvi”, disse. A questão é que, segundo a Abin, os computadores e celulares que eram de fato destinados a Ramagem foram devolvidos após sua saída da agência, em cumprimento ao protocolo de saída de qualquer um de seus integrantes.
Abin vai apurar de onde seriam equipamentos e como ficaram com Ramagem
A Abin afirma ainda que não tinha ciência de outros equipamentos em posse de Ramagem. Por isso, após a operação da PF, a apuração interna da agência vai averiguar como foi permitido que o deputado permanecesse com esses equipamentos e a quais departamentos pertencem o computador e o celular confiscados pela PF com o parlamentar. Após entender o ocorrido, responsáveis pela apuração poderão ou não abrir uma investigação sobre eventuais responsabilidades sobre o caso.
Faz parte do rito comum de desligamento de um agente da Abin que ele passe por uma entrevista e que não possa deixar o órgão antes de devolver todos os equipamentos que estejam com ele. Esses itens são catalogados e há controle interno com a atribuição de um código para cada um deles. Usualmente, se houver resistência ou não devolução, além de sindicância para apurar a apropriação indevida do patrimônio, o fato é comunicado a outros órgãos, e, enquanto houver a pendência, não pode nem ser indicado a outros cargos no governo.
Além do computador, agentes da Abin usualmente recebem celulares, que são trocados ao longo do tempo em razão de atualizações, e um pen drive criptografado, que dá acesso ao sistema interno da agência. Com Ramagem, foram apreendidos 20 pen drives. A PF não respondeu ao Metrópoles se algum desses pen drives pertence à agência e se tem as características de chave de acesso.nsível de todos, porque contém senhas de acesso a sistemas, inclusive remotamente, para quem estiver fora da agência. No entanto, a Abin ressalta que o bloqueio das senhas, por si só, neutralizaria a tentativa de utilizá-lo para ter acesso aos sistemas.
E-mails de Ramagem e da “abin paralela” ainda aparecem no sistema
A Abin afirma ao Metrópoles que todos os usuários e senhas de Ramagem foram bloqueados após a sua saída, em um procedimento também comum na agência. Agentes da Abin notaram, no entanto, uma situação pouco usual: e-mails de Ramagem, e outros policiais federais que integravam a chamada “Abin paralela” ainda aparecem em seus sistemas internos.
Entre eles, por exemplo, está o e-mail de Marcelo Bormevet, ex-chefe do Centro de Inteligência Nacional, e Luiz Felipe de Barros Félix, que foi lotado no gabinete do diretor-geral. Ambos foram alvos da Operação Vigilância Máxima, da PF, que murou a “Abin paralela” no governo Jair Bolsonaro (PL).
Personal do 04 e braço-direito de Ramagem
Segundo apurou o Metrópoles, quando estava na agência, Bormevet foi o responsável por mandar oficiais levantarem suspeitas sobre prefeitos e governadores em meio à pandemia da Covid. A ordem foi recebida com insatisfação por agentes da Abin. O movimento foi visto internamente à época como uma tentativa de abastecer o presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio a uma briga com estados e municípios no auge da CPI da Covid no Congresso Nacional.
Já Luiz Felipe Barros Félix foi o agente que seguiu o personal trainer do filho 04 do presidente, Jair Renan, no estacionamento de sua residência em Brasília. Acabou pego no flagrante e até foi denunciado à Polícia. A PF suspeita que ele tenha sido escalado para provar que um carro dado a Jair Renan por empresários estava, na verdade, em posse de seu amigo.
Abin diz que contas foram bloqueadas
O estranhamento dos agentes da Abin se dá em razão do fato de que os e-mails de outros colegas, por motivo de exoneração, ou até mesmo de óbito, desaparecem do sistema como opção para envio ou troca de mensagens. Todas as mensagens e atos do agente permanecem no sistema, para fim de manutenção de registros internos e auditoria, mas o desativamento de suas contas faz usualmente sumir o endereço do usuário para os demais oficiais e servidores.
O Metrópoles enviou um e-mail para a caixa de Ramagem e não houve um retorno que evidenciasse que o e-mail não mais existe ou não pode receber mensagens. A Abin explica que e-mails são mantidos para fins de auditoria e que, de toda maneira, todos esses agentes tiveram suas contas bloqueadas para acesso após suas exonerações. Ou seja, segundo a agência, não poderiam acessá-los de toda maneira.
Fonte: Metrópoles/reprodução 27/01/2024
0 comentários:
Postar um comentário