foto:(Marcos Corrêa/PR/reprodução
No Piauí, onde visitava um projeto de irrigação, o presidente Jair Bolsonarovoltou-se novamente para as eleições presidenciais na Argentina e chamou os candidatos da Frente de Todos, Alberto Fernández e Cristina Kirchner, de “bandidos de esquerda”. A chapa peronista saiu-se vitoriosa nas primárias de domingo 11, com vantagem de 15 pontos sobre o presidente Maurício Macri, candidato à reeleição em 27 de outubro.
“Olha o que está acontecendo na Argentina agora. A Argentina está mergulhando no caos. A Argentina começa a trilhar o rumo da Venezuela porque, nas primárias, bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder”, afirmou Bolsonaro na cidade de Parnaíba (PI).
Bolsonaro já havia dado declarações anteriores contra a campanha de Fernandéz-Kirchner e em favor de Macri, consideradas como interferências no processo eleitoral do país vizinho. Mas não havia, até o momento, insultado os candidatos da oposição no país vizinho. Tanto na Argentina quanto no Brasil, porém, analistas consideraram que suas iniciativas não chegaram a favorecer o candidato à reeleição e mais favoreceram os oposicionistas.
Em junho passado, enquanto visitava oficialmente Buenos Aires, uma manifestação de partidos de esquerda, sindicatos e entidades de direitos humanos foi convocada para pedir sua saída imediata do país. Além de contrariados com o perfil de extrema direita do governante brasileiro, os manifestantes repudiaram as declarações de Bolsonaro contra eventual vitória dos peronistas nas eleições.
Em julho, em entrevista ao jornal Clarín, Bolsonaro disse que apoia a reeleição de Macri porque não quer o retorno de Cristina Kirchner ao poder. Também alertou que para a possibilidade de atrito do Brasil com a Argentina se Fernández for eleito e mantiver sua atual postura. O presidente brasileiro chegou a levar sua preocupação ao ex-presidente americano George W. Bush, durante sua passagem por Dallas, no Texas, em maio passado. “Como patriotas, democratas e amantes da liberdade, nós gostaríamos que a Argentina não retrocedesse nessa questão ideológica”, teria dito a Bush.
Na segunda-feira 12, o próprio Fernández atiçou Bolsonaro ao agradecer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando recebeu os resultados definitivos das primárias. O candidato argentino havia visitado Lula na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, um gesto mal recebido pelo atual presidente brasileiro. “Muito obrigado, querido amigo Lula. Como você bem disse, devemos dar esperança ao nosso povo e cuidar dos que mais precisam”, escreveu o argentino no Twitter.
As declarações anteriores de Bolsonaro já causavam constrangimento também no Brasil, com larga tradição de seus líderes de não interferirem nas eleições de outros países. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reprovou o posicionamento público de Bolsonaro sobre as eleições na Argentina durante o último programa Roda Viva, da TV Cultura, e chegou a indicar que essa postura ajudaria mais à oposição do país vizinho.
“A gente deveria primeiro aguardar o resultado do processo eleitoral para depois tomar qualquer tipo de atitude. Isso é importante para não ficar parecendo tentativa de interferência. Não sei se essa tentativa é real ou não. Mas sendo, acho que talvez dê voto e até consolide voto pra chapa da ex-presidente Kirchner. Creio que ninguém gosta de ver interferência de um país no outro”, avaliou Maia.
Fonte:Veja.com /Estadão Conteúdo/reprodução 14.08.19
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