Bolsonaro se referiu ao vitorioso do país vizinho como o "tal do Boric" e disse que determinou ao Itamaraty fazer os cumprimentos formais ao vencedor. No início da noite, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota.
Gabriel Boric, líder dos protestos estudantis de 2011, foi eleito presidente do Chile no domingo (19) ao derrotar o ultradireitista José Antonio Kast, candidato de apreço do bolsonarismo.
Ao reunir o apoio de 4,6 milhões de eleitores (55,8% contra 44,1%), o nome da Frente Ampla se tornou o candidato mais votado da história chilena.
Na live, Bolsonaro leu o que estava escrito em um papel impresso, ressaltando a abstenção no Chile, onde o voto não é obrigatório, e disse que 55% dos que foram às urnas votaram no "tal do Boric".
Pouco antes, por volta das 18h30, o governo brasileiro quebrou o silêncio e o parabenizou o presidente eleito chileno.
De acordo com a nota divulgada pelo Itamaraty, o governo Bolsonaro enviou a Boric "votos de êxito no desempenho de seu mandato".
"Ao reafirmar a solidez dos laços de amizade e cooperação, o governo brasileiro assinala a disposição de trabalhar com as autoridades chilenas no fortalecimento das iniciativas bilaterais e regionais em prol dos objetivos de desenvolvimento econômico, de defesa da liberdade e da democracia e de respeito ao Estado de Direito", afirmou o comunicado.
Entre os principais países da América do Sul, o Brasil foi o último a se pronunciar.
Em 2020, o governo Bolsonaro também foi o último entre os países que fazem fronteira com a Bolívia a parabenizar a vitória de Luis Arce, ex-ministro da Economia do esquerdista Evo Morales.
Bolsonaro esteve nos últimos dias de folga no Guarujá (SP). Ele voltou para Brasília nesta quinta.
Em uma eleição em que os partidos tradicionais foram rejeitados nas urnas, Boric, 35, representa uma nova geração de políticos que surgiram com as revoltas estudantis de 2011.
Para conseguir o apoio necessário para a vitória, porém, ele moderou o discurso e se reconciliou com a Concertação, aliança de centro-esquerda que governou o Chile por 20 anos.
Embora diametralmente oposto no espectro ideológico a Bolsonaro, experientes diplomatas no Itamaraty distinguem Boric de outras lideranças esquerdistas da região. Avaliam que o chileno não terá postura tão nacionalista na economia como o argentino Alberto Fernández, por exemplo.
Desde o domingo, filhos e aliados de Bolsonaro lamentaram o resultado da eleição no Chile nas redes sociais.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) destacou o nível de abstenção nas eleições chilenas, como fez o pai na live, e estabeleceu relação com a disputa em 2022 no Brasil.
"Bater no peito dizendo que não votou em político nenhum só fará a história [no Brasil] se repetir", afirmou Eduardo. "Se não percebermos a estratégia da esquerda acabaremos governados por um deles."
Carlos Bolsonaro, outro filho do presidente e vereador no Rio de Janeiro, disse que, "enquanto isso, no Brasil", cresce o possível voto na "terceira via", que chamou de "Lulo", dando a entender que pode beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que "o Chile caiu".
Já a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, publicou um mapa da América do Sul com o símbolo comunista da foice e do martelo. A imagem foi compartilhada por apoiadores do presidente.
Fonte: Folha S. Paulo - 23/12/2021 - 22h
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