o repórter Marcelo Castro e Jamerson Oliveira foram demitidos pela empresa -foto:reprodução/redes sociais
O advogado de defesa do repórter Marcelo Castro e do
editor-chefe do programa Balanço Geral, Jamerson Oliveira, considera as
demissões dos clientes "desproporcionais". Em entrevista ao CORREIO,
Victor Gurgel criticou a falta de apuração da Record/TV Itapoan e disse que
estuda formas de reverter a decisão. Ambos os jornalistas foram demitidos nesta
sexta-feira (31), dia em que voltaram de férias.
“A demissão foi precipitada, sem a devida apuração e sem
ouvir os jornalistas demitidos. Não houve um procedimento interno com o
contraditório e a ampla defesa”, critica o advogado. Victor Gurgel acredita que
a pressão das redes sociais pode ter colaborado para a decisão da Record e
admite que havia possibilidade de que os jornalistas pedissem demissão por
conta da repercussão negativa.
A emissora foi procurada, mas não se pronunciou sobre os
desligamentos. A Polícia Civil investiga desvios de dinheiro que deveria ser
doado para entrevistados do Balanço Geral.
O CORREIO apurou que o diretor nacional da emissora, Rafael
Perantunes, veio de São Paulo para Salvador para tratar sobre as investigações
do caso. Foi a primeira vez que ele falou com jornalistas da casa desde que a
“polêmica do pix” ganhou força.
Havia expectativa de que Rafael Perantunes falasse
abertamente sobre o caso, mas o diretor de jornalismo foi breve e não entrou em
detalhes. Rafael disse apenas que os funcionários poderiam entrar em contato
com a direção caso houvesse dúvidas ou problemas.
Alguns jornalistas da emissora já prestaram depoimento sobre
o suposto desvio de dinheiro, mas Marcelo e Jamerson ainda não foram ouvidos
pela polícia. Advogados de defesa e funcionários comentam que não havia mais
clima para que os dois continuassem na emissora. Mesmo assim, Marcelo Castro
foi visto chorando em seu carro nas redondezas da emissora após o ocorrido,
segundo relataram ex-colegas de trabalho.
Nesta tarde, Zé Eduardo, apresentador do Balanço Geral, revelou em uma rede social que Marcelo e Jamerson são investigados pela polícia. Na postagem, o jornalista anunciou os desligamentos e afirmou que “os ex-colaboradores são investigados por participar de um suposto esquema de desvio de doações“. A defesa dos ex-funcionários, no entanto, nega que eles tenham caráter de investigados. Já a Polícia Civil, divulgou apenas que investiga dois suspeitos, sem citar nomes.
Os jornalistas foram dispensados sem o pagamento de verbas
rescisórias e seguro-desemprego, além de terem o fundo de garantia retido.
Todas as características são de praxe nas demissões por justa causa, que é a
maior penalidade que um empregado pode receber do seu patrão.
Porém, o fato de haver uma investigação em andamento não é motivo suficiente para a demissão por justa causa, como explica a advogada Ana Paula Studart, sócia do 4S Advogados e mestre em Direito do Trabalho.
Quando a investigação veio à tona, Marcelo Castro estava em
viagem à Dubai com a namorada Daniela Mazzei, também repórter da TV Itapoan.
Ela teve seu nome ligado ao caso quando o ambulante Adriano Lima, que deveria
ter recebido doações, contou que foi entrevistado por uma mulher. Procurada,
Daniela disse que não se pronunciaria sobre o assunto, uma vez que não é
investigada.
No dia 15 de março, a jornalista disse ao CORREIO que não entrevistou o homem e que estava tomando medidas jurídicas legais. “Apesar de ter a consciência muito tranquila de que não fiz nada e que não tenho envolvimento com isso, fico triste com toda a repercussão negativa envolvendo meu nome”, afirmou na ocasião. Depois que a polêmica ganhou força, Daniela e Marcelo apagaram as fotos que tinham juntos em redes sociais.
A Polícia Civil investiga 15 casos possíveis de fraudes em
campanhas divulgadas na emissora de televisão através da Delegacia de Repressão
aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber).
A polícia confirmou que investiga dois jornalistas e que pessoas que cederam a chave pix para as transações têm o nível de participação apurado. Três aparelhos celulares foram apreendidos e passam por perícia.
Relembre o caso
As investigações do suposto crime que ficou conhecido como
“golpe do pix” tiveram início quando o ex-jogador do Bahia, Anderson Talisca,
doou uma quantia em dinheiro para a família de uma criança com câncer,
entrevistada no Balanço Geral. Talisca procurou os familiares e descobriu que
eles não haviam recebido dinheiro algum. A criança, inclusive, faleceu dias
após o ocorrido.
Esse foi o pontapé inicial para que a emissora fizesse um
pedido formal de investigação à polícia. No dia 13 de março, o apresentador Zé
Eduardo fez a primeira manifestação pública sobre a denúncia ao iniciar o programa
falando sobre honestidade e defendendo sua história pública.
Quatro dias depois, o apresentador revelou que foi a
primeira pessoa ligada à emissora a saber do caso. “O mundo desabou na minha
cabeça. Foi exatamente o que eu senti. Porque fui eu quem descobri a situação,
através do empresário Talisca [...] Fiquei três dias sem dormir, tentando
acreditar que aquilo era um pesadelo”, contou em entrevista ao podcast
BahiaCast.
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba)
acompanha o caso. Em nota, o sindicato reforçou que, até o momento, não há
confirmação oficial dos nomes dos supostos envolvidos. “O Sinjorba alerta para
o cuidado e rigor na apuração jornalística desse fato, para evitar
pré-julgamentos e ilações, visando preservar o conjunto dos profissionais de
jornalismo, que exerce de forma ética o seu ofício na Rede Record no Estado”,
pontuou.
Fonte: Maysa Polcri*Com orientação da subeditora Fernanda Varela do Correio da Bahia 31/03/2023
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