terça-feira, 19 de agosto de 2025

Flip 2025: Pousada acusa escritora de furtar lençol


                                    Créditos: Divulgação


Dias depois de participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025, a escritora Lilia Guerra, autora de O Céu para os Bastardos, afirma ter sido acusada pela pousada em que se hospedou de levar um lençol e uma manta. O caso, revelado por ela ao g1, provocou indignação e abriu debate sobre racismo estrutural e desigualdade em espaços culturais.

Segundo a autora, a hospedagem no Garden Hotel Boutique Paraty foi custeada pela organização do evento, onde participou de mesas literárias. Lilia relatou que encontrou condições precárias no quarto e chegou a pedir um cobertor extra por conta do frio. Após relatar os problemas, foi transferida para outro hotel.

A polêmica surgiu dias depois, já em São Paulo, quando recebeu de um integrante da Flip uma mensagem no WhatsApp informando que a pousada alegava o desaparecimento de roupas de cama durante sua estadia. “Isso acabou comigo. Eu não conseguia acreditar que estavam cogitando que eu pudesse ter furtado”, disse a escritora, que associa a suspeita à sua condição de mulher negra e periférica.

Reações e versões divergentes

Procurada, a administração da pousada negou ter acusado a autora de furto. Em nota, explicou que, durante as trocas de hóspedes no período da Flip, constatou a ausência de uma peseira e de um cobertor, e que apenas pediu à organização do evento a checagem sobre possíveis enganos. O estabelecimento afirmou lamentar que a comunicação tenha sido interpretada de forma acusatória.

A Flip, por sua vez, também divulgou nota em solidariedade à escritora, declarando “profundo pesar pelo ocorrido” e se comprometendo a prestar apoio a Lilia.

Literatura e desigualdade

Moradora de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, Lilia Guerra tem se destacado como uma das vozes mais potentes da nova geração de escritores brasileiros. Esta foi sua segunda participação na Flip.

Para ela, o episódio reflete as barreiras enfrentadas por autores negros e periféricos ao ocupar espaços tradicionalmente elitizados. “As pessoas da minha comunidade ficaram orgulhosas da minha participação. Eu queria que fosse um momento memorável. Mas, se dias depois sou acusada de furto, como vou explicar que ocupar esses espaços é seguro?”, questiona.

Seu livro mais recente, O Céu para os Bastardos (Todavia, 2023), aborda justamente as tensões da vida nas margens sociais e os limites da dignidade humana. “Achei que não seria leal silenciar sobre o que aconteceu comigo. Escrever é o meu ofício, e eu precisava me posicionar”, afirmou.


fonte: revista fórum -19/08/2025


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