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O 55º aniversário da Rota, batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo, marca nesta segunda-feira (1º/12) o último ato de Guilherme Derrite (PP) como secretário da Segurança Pública. Após quase três anos no cargo, o tenente vai reassumir sua cadeira na Câmara dos Deputados e começar a se preparar para a eleição de 2026, em que deve disputar vaga no Senado.
Em seu lugar na SSP, quem assume é o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, anunciado na noite dessa sexta-feira (28/11).
Como bandeira de campanha, Derrite deve apostar no combate ao crime organizado, enaltecendo operações feitas durante sua gestão pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) com apoio da PM e na diminuição no número de roubos.
Ao mesmo tempo, o secretário terá que enfrentar o desgaste pela explosão da letalidade da PM em todo o estado, escândalos sobre a ligação entre policiais e o Primeiro Comando da Capital (PCC) e suspeitas envolvendo suas relações com empresários e seu aumento patrimonial.
A saída de Derrite da pasta da Segurança Pública ocorre cerca de cinco meses antes do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral para que ele permanecesse no cargo antes de concorrer em 2026.
Em novembro, ele já havia se licenciado temporariamente, por cerca de duas semanas, para relatar o projeto de lei Antifacção na Câmara dos Deputados. Antes de ser aprovado, o texto foi duramente criticado por opositores e autoridades de diferentes esferas, que diziam que a proposta criava dificuldades para a investigações nos estados. Na semana passada, Derrite retornou à pasta por uma semana, antes de deixar o cargo de forma definitiva nesta segunda-feira.
Explosão da letalidade
A gestão de Guilherme Derrite à frente da Secretaria da Segurança de São Paulo foi marcada, desde 2023, por ações violentas da Polícia Militar. Naquele ano, após a morte de um policial da Rota no Guarujá, em julho, a corporação deflagrou a Operação Escudo, que enviou batalhões de elite da capital para a Baixada Santista, e resultou na morte de 28 pessoas em 40 dias.
Meses depois, entre fevereiro e março de 2024, a região foi palco de uma outra operação, ainda mais violenta. Após a morte de um segundo policial da Rota em Santos, teve início a Operação Verão III, que levaria à morte de 56 pessoas.
As ações foram marcadas por inúmeras denúncias de execuções sumárias e tortura. Entre as vítimas, há, por exemplo, um deficiente físico, que, segundo a polícia, teria apontado uma arma contra os agentes, apesar de usar muletas. Meses depois, em novembro daquele ano, o filho dele, o menino Ryan, de 4 anos, foi morto por um policial militar na mesma região, no Morro do São Bento.
A postura violenta da PM de Derrite se refletiu nos índices de letalidade em todo o estado. De acordo com dados do MPSP, em 2022, último ano da gestão da gestão Camilo Campos, foram 396 homicídios cometidos por policiais militares. No ano seguinte, primeiro da gestão Derrite, foram 463. Em 2024, o número chegou a 780. Entre janeiro e novembro de 2025, foram 700 vítimas.
Na reportagem especial Política da Bala, publicada em junho, o Metrópoles analisou todos os homicídios praticados pela PM na capital no ano passado e descobriu que, das 246 vítimas, 85 não tinham arma de fogo e 47 foram baleadas pelas costas.
Racha entre as polícias
A gestão de Derrite também intensificou o “racha” entras polícias de São Paulo. O secretário foi acusado por delegados e associações que representam a Polícia Civil de tentar usurpar competências da instituição, ampliando os poderes da Polícia Militar.
Principal exemplo foi a tentativa de implementar o termo circunstanciado de ocorrência, que daria aos PMs a competência de realizar atos de investigação, como a coleta de provas e a requisição de exames. Após ser revelado pelo Metrópoles, o plano provocou uma reação negativa, obrigando o governo a recuar.
Os policiais civis também criticaram duramente o secretário da Segurança por escolher um PM para comandar o grupo de trabalho que discute a nova Lei Orgânica da instituição, prometida há mais de dois anos.
Ao mesmo tempo, durante toda a gestão, importantes oficiais da Polícia Militar acusaram, nos bastidores, delegados da Polícia Civil de não serem confiáveis, evitando o compartilhamento de informações consideradas sensíveis, por medo de vazamentos para beneficiar investigados.
No fim da gestão, em 18 de novembro, um protesto contra a Derrite e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) uniu as polícias rachadas. Os manifestantes se reuniram em frente ao Largo São Francisco, no centro da capital, para cobrar melhores salários e condições de trabalho, acusando as autoridades de mentirem durante o governo.
A polícia e o PCC
O assassinato do corretor Vinícius Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024, revelou relações obscuras entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e as polícias de São Paulo.
De acordo com as investigações, o crime foi cometido por PMs da ativa, contratados pela facção. As investigações mostraram que pelo menos 16 policiais estavam envolvidos em um esquema de segurança armada pelo criminoso.
Como revelado pelo Metrópoles, a prática era conhecida pelo menos cinco anos pela cúpula da PM. Em 2021, quando o MPSP deflagrou a Operação Sharks, o então líder do PCC nas ruas, Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, teria escapado após pagar R$ 5 milhões a PMs do setor de inteligência da Rota.
O atual comandante da Polícia Militar, José Augusto Coutinho, teria sido informado, mas não tomou providências.
Além disso, a Polícia Federal prendeu, em dezembro do ano passado, sete policiais civis envolvidos com Vinícius Gritzbach e seus esquema de lavagem de dinheiro.
Casa de luxo em Porto Feliz
Durante a gestão, Derrite também teve que se explicar sobre sua relação com bilionários. O secretário passou a circular com jatinhos e frequentar ambientes luxuosos no Brasil e no exterior. Em julho deste ano, o Metrópoles revelou que o secretário está construindo uma casa de R$ 3 milhões em Porto Feliz, no interior do estado, e que um empresário do setor de eventos seria o responsável pelos pagamentos.
O empreiteiro Genilton Mota, responsável pela obra, disse que Guilherme Moron Peres Trindade, o Gui Moron, é quem “alinha” os pagamentos. “Essa parte [pagamento da obra] é uma parte que eu alinho com o amigo dele e daí ele que faz o pagamento para a gente, mediante nota, certinho”, disse o empreiteiro a um jornalista que se passou por pessoa interessada em contratar seus serviços.
Após a publicação da reportagem, o Ministério Público de São Paulo pediu explicações a Derrite sobre o caso. Sem ouvir o empreiteiro e o empresário Gui Moron, o órgão determinou o arquivamento. Derrite afirma que o valor da “edificação” da casa foi R$ 359 mil e que todo o valor foi pago com recursos próprios, por meio de transferências bancárias.
Índices criminais
Para enaltecer sua gestão, Derrite destacou, enquanto esteve no cargo, a mudança em alguns índices criminais. Entre eles, o de roubos. Foram 242,9 mil em 2022, que caíram para 228 mil em 2023 e 193,7 mil em 2024.
Na capital, o secretário associou, em diferentes oportunidades, a melhora nos índices à dispersão dos usuários de drogas da Cracolândia. Em julho deste ano, foram 8.601 roubos registrados na cidade. Nos meses seguintes, o total caiu para 8.355, 7.966 delitos, até chegar em 7.613 em outubro.
O secretário da Segurança de São Paulo tem dito em entrevistas que a Cracolândia “acabou” durante sua gestão. Ele atribui o fenômeno a operações realizadas pelo MPSP em parceria com a Polícia Militar para desarticular o núcleo do PCC na Favela do Moinho. Segundo as investigações, a facção controlaria, de dentro da comunidade, o tráfico em toda a região central.
Derrite também tem destacado a queda nos índices de homicídio. Segundo os dados da Secretaria da Segurança, sua gestão manteve a tendência de queda que prevalece desde os anos 2000. Foram 3.044 em 2022, 2.728 em 2023 e 2.630.
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