sábado, 17 de dezembro de 2011

Bahia: Demissões da azaleia provocam temor nas cidades que terão fábricas fechadas

Fábrica da Azaleia em Itapetinga-Foto:reprodução ag.atarde

O medo da inadimplência e a retração nas vendas durante o período natalino e nos meses subsequentes marcaram o dia seguinte ao anúncio do fechamento de seis unidades da Vulcabras/Azaleia em Potiraguá, Itarantim, Maiquinique, Ibicuí, Iguaí e Itati, onde atuavam os 1,8 mil colaboradores afastados nessa sexta-feira, 16. “Se já estava difícil receber notas assinadas pelos nossos clientes que trabalham na Azaleia, agora está pior. O povo está com medo de vender fiado para quem trabalha na Azaleia e isso é ruim para todos”, contou o comerciante do ramo atacadista, Everaldo Oliveira Campos.

O colega do ramo, Jairo Lacerda Dantas, concorda. “Corremos o risco de perder mais da metade do capital aplicado, já que eles também têm outras dívidas a quitar e não sabem como conseguir dinheiro depois que findar o seguro-desemprego”, lamentou o comerciante estabelecido em Maiquinique.

“Acabou nosso clima de festa para o Natal e não sabemos o que fazer de agora em diante. Ainda não sei o que vou fazer, se aceito a proposta para outra cidade ou se fico aqui cuidando dos meus filhos e vivendo de bico”, lamentou um operário da extinta filial de Maiquinique.

“A empresa empregava mais de 300 funcionários aqui em Maiquinique e o fechamento pode decretar a falência de boa parte do comércio, uma vez que muitos estabelecimentos comerciais da cidade depende dos empregos gerados pela fábrica”, disse o operário Rafael Jesus Santos.

Pelas outras cidades o assunto também virou motivo de preocupação e dominou as rodas de conversa, monopolizando os comentários nos blogs e redes sociais. “É visível a reação negativa nas pessoas, principalmente nos pais e mães de família que lotaram a sede do sindicato em busca de informações ou para homologações”, assinalou o diretor do Sindicato, que assiste a categoria, Sidney Mendes.

Segundo ele, a maioria dos operários ainda não decidiu se irá aceitar a proposta da empresa, que sinaliza com a relocação de mão-de-obra, das unidades fabris suspensas para as que continuam em manutenção, como nos casos de Itapetinga, sede da matriz e filiais de Itambé, Macarani, Firmino Alves, Itaiá, Itororó e Caatiba e nos distritos de Bandeira do Colônia e Rio do Meio.

Na matriz em Itapetinga o expediente no sábado foi aparentemente normal, com grupos se revezando nos galpões e cumprindo a rotina de saída da fábrica para conversas e lanches na parte externa. Nenhum operário quis conversar com a equipe de A TARDE, temendo represálias. A direção da empresa não permitiu acesso ao interior da unidade.

Para o sindicato, isso é reflexo de novos cortes no início de 2012. “Além de estarem inseguros, temendo cortes futuros, os nossos filiados reclamam da política da empresa, já que não leva em conta o fato de afastar chefes de família do seus lares, em distâncias de até 100 km”, continuou o sindicalista, que disse ter acompanhando uma média de 100 rescisões diárias entre novembro e dezembro.

“Além do fechamento das filiais a Azaleia já havia demitido, nesses meses, 1,5 mil operários na matriz em Itapetinga”. As atividades no sindicato só foram suspensas no sábado, para folga dos diretores, porém na segunda-feira o grupo promete se reunir e anunciar medidas para tentar amenizar o impacto dos cortes.

Os diretores não descartam manifestações em frente à matriz da fábrica, nem protestos nas ruas para chamar a atenção da comunidade. “Vamos mostrar que as demissões são impactantes, representando mais de 10% da força de trabalho da empresa, que mantinha 16 mil empregados”, finalizou.

Na sexta-feira o Ministério Público do Trabalho instaurou procedimento para apurar as causas das 1,5 mil demissões em massa na matriz da em Itapetinga, a 560 km de Salvador e dos critérios para relocação dos 1,8 mil afastados das seis unidades fechadas nesse mesmo dia.

Caso este contingente de operários não acate a proposta de relocação da empresa para outras unidades da região, as demissões entre novembro e dezembro chegariam a 3,3 mil. De acordo com a assessoria de comunicação da empresa, somente quando houver sinalização dos operários, se acatam ou não a proposta de relocação, é que os números podem ser consolidados.

Em nota a direção da empresa justificou o fechamento e as demissões, informando que “a decisão foi tomada com base em um estudo para reduzir gastos para que a companhia recupere as condições para fazer frente à concorrência no mercado interno, especialmente com os produtos importados”.

Também em nota, assinada pelo presidente da Vulcabras/Azaleia, Milton Cardoso, o grupo sustenta que irá disponibilizar transporte diariamente para estas localidades. “Aos que não optarem pela transferência, concederemos uma gratificação financeira de dois salários mínimos, além do pagamento de todas as verbas rescisórias”, prosseguiu.

Dentre as razões para os cortes ele explica que influenciaram fatores como o baixo volume de produção, elevados custos logísticos e concorrência de calçados importados. As seis filiais apresentavam baixo volume de produção, prosseguiu Cardoso, “Isso não permite ganhos de escala para melhorar a competitividade”.

Ainda sobre o fechamento, o executivo ressaltou que as filiais estão distantes da matriz, o que, segundo ele, “onera os custos com manutenção de máquinas e equipamentos de informática, custos de conexão de dados e, sobretudo, transportes”. Feitas as contas, Cardoso informou que, apenas em termos de materiais e produtos acabados, a empresa deixará de realizar mais de 10 mil km mensais em viagens.

Em relação a concorrência de calçados importados, divulgou, também em nota, que o comportamento da taxa de câmbio amplia a concorrência de calçados importados. “Nossos produtos têm que disputar o desejo do consumidor brasileiro ao lado de concorrentes cujos custos não evoluem como os nossos”, frisou no documento.




Fonte:Juscelino Souza/Sucursal de atarde em Vitória da Conquista

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