quinta-feira, 3 de junho de 2021

À PGR, Salles afirma que se reuniu com madeireiros à pedido do ministro Ramos da Casa Civil

 

À PGR, Salles afirma que se reuniu com madeireiros à pedido do ministro Ramos
Foto: Isac Nóbrega/PR

Em esclarecimentos apresentados por escrito à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que se reuniu com madeireiros da Amazônia à pedido do ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos.

 

Salles responde à PGR após a instituição pedir abertura de inquérito para apurar suspeitas de atrapalhar investigações e favorecer madeireiros em ações de desmatamento ilegal. O inquérito relacionado ao caso foi autorizado, nesta quarta-feira (2), pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. 

 

De acordo com informações do jornal O Globo, no documento apresentado à PGR, o ministro alega que atuou com “espírito público” nas reuniões e em viagens à Amazônia. Segundo Salles, ocorreram duas reuniões entre o setor e o ministério, uma delas com parlamentares de Santa Catarina e empresários catarinenses que atuam no Pará. Ele afirma que, na ocasião, ouviu queixas da comitiva a respeito do delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, responsável pela investigação sobre desmatamento ilegal.

 

"Segundo eles, parte de sua produção estaria então retida há mais de 100 dias pela operação empreendida pelo delegado Saraiva, sem que, até então, o referido delegado tivesse facultado oportunidade para que pudessem exercer sua defesa", disse ele.

 

No texto enviado à PGR, Ricardo Salles afirma ainda que a assessoria da Casa Civil encaminhou à sua pasta uma demanda parecida, mas referente ao estado de Roraima. "O Ministério do Meio Ambiente também foi procurado pelo senador da República Telmário Mota (Pros-RR), acompanhado do secretário-executivo do Ministério da Justiça, dr. Tercio Tokano, ambos encaminhados pela assessoria da Casa Civil, dando conta de que produtores rurais do Estado de Roraima também estavam sendo impedidos de efetuar o transporte de produtos resultantes de manejo florestal", relatou.

 

O ministro disse ainda que o governo chegou a aventar a possibilidade de uma viagem à região, junto com a equipe do Ministério da Justiça, à época comandado por André Mendonça. Em seguida, segundo Salles, o ministro Ramos atuou no assunto. 

 

"Dias depois, o Ministério do Meio Ambiente recebeu nova solicitação, dessa vez feita pessoalmente pelo então ministro chefe da Secretaria de Governo (Segov), hoje ministro chefe da Casa Civil, general de Exército Luiz Eduardo Ramos, no sentido de que se fizesse uma reunião conjunta entre aquele ministério (Segov), com o Ministério da Justiça, Ministério do Meio Ambiente, Procuradoria do Estado de Roraima, senadores da República, deputados federais e demais órgãos do governo", diz texto enviado à PGR.

 

A reunião em questão ocorreu em 25 de março, com a presença de parlamentares,  representantes do setor madeireiro da Amazônia, além do secretário executivo de Ramos, Jonatas Castro, e do Ministério da Justiça, Tércio Tokano. Após o encontro, Salles diz que ficou decidido o deslocamento à Amazônia para fiscalizar as investigações contra o desmatamento. De acordo com notícia-crime apresentada pela Polícia Federal, é justamente essa viagem que é considerada como uma tentativa de obstruir as investigações.

 

Salles, no entanto, nega irregularidades e alega que a iniciativa se deu para agilizar o desfecho da investigação. "A posição adotada pelo MMA, e por todos os demais participantes das reuniões e das viagens ao Pará foi que houvesse uma decisão rápida, seja ela pela legalidade, se assim concluir o inquérito, ou mesmo pela ilegalidade do manejo sob análise", afirmou, justificando que a reunião ocorreu para ouvir o setor madeireiro e não para defendê-lo. Neste sentido, ele diz que o próprio delegado Saraiva teria sido convidado pelo Ministério da Justiça, mas não participou por estar de férias.

 

"Ao tratar da suposta advocacia administrativa, levianamente afirma que o ministro do Meio Ambiente realiza defesa pública de madeireiros, o que não é verdade. A reunião que o delegado Saraiva levianamente afirma que teria sido para defender madeireiros foi realizada pela já mencionada lista de autoridades, inclusive pelo seu superior, o secretário-executivo do MJ, para ouvir os madeireiros, e não para defendê-los", defende-se Salles.



fonte: BN - 03/06/2021 16h:50min.

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