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A vila de Igatu (Andaraí - Chapada Diamantina/BA) vai contar, a partir de outubro, com o Colabora Bens, aplicativo que reúne informações do Patrimônio Cultural e Imaterial da vila, que é conhecida pelas “casas de pedra” e cujo conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico, tombado pelo IPHAN desde o ano 2000. Turistas e moradores terão a tecnologia como aliada para conhecer um pouco mais sobre cultura, patrimônio imaterial e educação patrimonial na região. O aplicativo será lançado no próximo dia 30 de outubro, em evento online com os idealizadores do projeto, os pesquisadores Maurício Oliveira e Fernanda Gallo.
O aplicativo foi projetado durante a pandemia, como uma forma de atrair os jovens da região para o reconhecimento de seu próprio patrimônio e fortalecer suas relações de pertencimento e proteção dos bens culturais imateriais. Por isso, todo o conteúdo da plataforma é produzido e alimentado por 15 moradores da vila, maiores de 16 anos, capacitados como agentes patrimoniais na Oficina de Inventário Participativo em Patrimônio Cultural Imaterial, que aconteceu no último mês de agosto.
“O projeto possibilitou que os mais jovens conhecessem, além de sua história, parte de seus lugares de referência, como o chamado ‘cemitério dos bexiguentos’, espaço afastado do centro da vila para onde foram enviados e enterrados os doentes de varíola durante um surto da doença, por volta de 1920, e que alguns dos jovens da oficina nunca tinham ido”, conta a pesquisadora e idealizadora do projeto, Fernanda Gallo. A ideia também passa por incentivar o turismo da região a partir das referências culturais identificadas pelos próprios moradores de Igatu.
O grupo foi selecionado entre 54 inscritos e realizou 30 horas de atividades teóricas e práticas, como a discussão sobre os conceitos e marcos jurídicos que envolvem o tema, a confecção de uma cartografia social da vila, noções de ética de pesquisa e a realização de entrevistas, fotografias e filmagens. Após recolherem as informações indicadas nas fichas de inventário, os dados foram incluídos no aplicativo por cada um dos participantes, com seus respectivos logins e senhas do sistema. Além de fotos, vídeos e áudios coletados em campo, há uma seção sobre o calendário cultural da vila e informações sobre o conceito de Patrimônio Cultural Imaterial. As cartilhas educativas produzidas durante a oficina de capacitação dos agentes serão distribuídas em janeiro de 2024, na vila de Igatu, durante os festejos de São Sebastião, padroeira da vila.
Durante o trabalho de campo, foram identificadas em Igatu 51 referências culturais, subdivididas nas categorias: Lugares, Celebrações, Formas de expressão e Saberes. “Entre os saberes, podemos destacar benzedeiras, raizeiras, rendeiras, garimpo manual, modo de fazer as construções em pedra, uso de plantas locais na culinária como a batata da serra, palma, xique-xique, entre outros”, explica Maurício Oliveira, designer, documentarista e idealizador. Ele informa que o trabalho de identificação e inventariação não está fechado e pode continuar sendo alimentado, caso os participantes do projeto tenham interesse, já que eles permanecem com o acesso ao sistema do aplicativo.
Igatu - O município foi escolhido para dar ponto de partida ao projeto, sobretudo, por seu conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico ter sido tombado pelo IPHAN em 2000. “Pensamos que seria importante visibilizar as pessoas e suas referências culturais imateriais, cujos saberes construíram a vila e compõem o que ela é hoje”, pontua Fernanda. “E foi justamente no ano 2000 o lançamento do Decreto nº. 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o Registro de Bens culturais de Natureza Imaterial, cria o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial e consolida o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR)”, lembra.
Mas, é possível que o projeto não fique apenas por lá. A aplicação de inventários participativos é recomendada desde a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO, 2003) e enfatizada pelo IPHAN, já que a participação da comunidade na salvaguarda de seus Bens Culturais é essencial. “Acreditamos que o projeto tem potencial de ser aplicado em outros lugares e já estamos trabalhando nessa direção”, antecipa Maurício.
SOBRE O PROPONENTE: Maurício Oliveira é designer e documentarista e atua com projetos sobre práticas sociais, culturais e patrimoniais, a exemplo dos trabalhos: "Museu Digital do Barro de Maragogipinho" (2023), acervo documental sobre o ofício dos oleiros do distrito de Maragogipinho (Aratuípe/BA) e a plataforma multimídia "As Marés da Ilha: Entre Cotidiano e Conflitos Ambientais", que retrata o racismo ambiental nas comunidades quilombolas de Ilha de Maré em Salvador. Também dirigiu os documentários: "A porta das 4 Marias" (2022) que narra a história de quatro irmãs através de um objeto centenário, reconstruindo a memória do lar onde vivem há cinco gerações; "Esta cultura que te ajuda a saber ser: Um olhar sobre o fortalecimento das capacidades nacionais para a salvaguarda do Patrimônio Imaterial nos países africanos de língua oficial portuguesa" (Cabo Verde e Moçambique, UNESCO-2015) e o documentário "Rotas da Marrabenta – Música Moçambicana em Movimento" (2014) sobre a expressão cultural do sul de Moçambique.
SERVIÇO:
Live de Lançamento do Aplicativo Colabora Bens
Data/Hora: 30 de outubro de 2023, às 19h30
No perfil do projeto no instagram: @colaborabens
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