quarta-feira, 3 de março de 2010

Educação: Destino das cotas entra em discussão no STF

As cotas raciais nas universidades públicas serão debatidas desta quarta até sexta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Convocadas pelo ministro Ricardo Lewandowski, as audiências públicas contarão com 38 expositores, contra e a favor das cotas. Lewandowski tem em mãos dois processos com o objetivo de acabar com as cotas. Um eles movido pelo partido Democratas (DEM), questionando a reserva de vagas na Universidade de Brasília (UNB) e o outro de um estudante que se sentiu prejudicado ao não alcançar vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Um levantamento feito pelo professor José Jorge de Carvalho, do Departamento de Antropologia e idealizador das cotas na UNB, mostra que 94 instituições de ensino superior do País usam algum tipo de ação afirmativa em seus processos de seleção, e 73% usam o critério racial.
Lutas e vitórias - Depois de duas tentativas frustradas, a estudante Vivian Carine Fernandes Sena, 23 anos, conseguiu ingressar no curso de engenharia civil da Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 2008, através do sistema de cotas. “A experiência foi forte, muito gratificante”, conta ela.
Filha de pai professor estadual e mãe desempregada, Vivian não encara seu ingresso na universidade como uma doação do Estado, mas como fruto de seu mérito. “Sinto a responsabilidade de levantar essa bandeira (das cotas) e mostrar aos outros estudantes que é possível. Minhas lutas e vitórias têm sido todos os dias”, disse ela, que é moradora do Tororó.
No quarto semestre do curso, Vivian, que estudou no Colégio Teixeira de Freitas, ainda sente dificuldade de adaptação. “Minha autoestima melhorou, mas ainda sinto dificuldade com o perfil dos estudantes da Politécnica, por serem de realidade muito diferente da minha. Alguns professores também acham que a cota é passar a mão na cabeça da gente. Não é. A gente tem um ponto de corte, é visto nosso histórico. Temos que estudar”, avalia Vivian.
Tentar de novo - Guilherme Ribeiro Matos, 17 anos, ex-aluno do colégio particular Sartre COC, não passou na segunda fase, apesar de ter se classificado na 103ª posição, dentro das 160 vagas disponíveis para o curso de medicina da Ufba.
“Não passei por causa das cotas. Se não tivesse elas, eu passaria”, conta. Ele está fazendo curso pré-vestibular e vai tentar novamente. Morador do Itaigara, Guilherme, que é filho de uma microempresária e de um engenheiro civil, não condena o sistema de cotas. “Não sou contra. Acho que é uma medida, que deve ser provisória, para dar oportunidade a esses alunos de estudar em universidades públicas”, afirmou.
Para o colega de Guilherme, Matheus Marques de Amorim, 18 anos, as cotas são importantes, “mas 45% é muito. Se fossem 20% seria bom”, analisou o estudante. Classificado na 113º posição, também ficou de fora do curso de medicina da Ufba. Vai se tornar médico pela Faculdade Bahiana de Medicina, que cobra por mês uma mensalidade de R$ 1,9 mil.

Fonte:Texto de Ludmila Duarte e George Brito/ag.atarde

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