segunda-feira, 1 de março de 2010

São Paulo: Leia artigo do ex-governador Claudio Lembro sobre a visita do Presidente Lula a Cuba

El que nace tatú, muere cavando*

Cláudio Lembo De São Paulo (SP)

As pessoas quando atingem a idade adulta - chama-se aqui idade adulta os anos da etapa final da vida - começam a retornar ao passado. Recordações de experiências vividas. Momentos exuberantes revividos.

Um analista poderia dar explicações completas sobre este fato. Ao observador comum do cotidiano cabe apenas registrar e permitir aos demais a análise dos elementos recolhidos.
A última semana foi rica em retornos ao passado. As figuras centrais da política brasileira deixaram o presente, suas exigências, e retornaram ao passado longínquo.

Todos com mais de sessenta anos conviveram com os eventos da Revolução Cubana. Momentos repletos de heroísmo. Tudo se inicia no porto mexicano de Tuxpan.

Um iate - o Granma - solta amarra a caminho de Cuba. Encontrava-se sobrecarregado. Armas, munições e oitenta e dois rebeldes a bordo. Partiam para a derrubada do regime do ditador Fulgêncio Batista.

A bela ilha de Cuba se transformara, segundo o escritor Norman Mailler, no bordel da América. Valores morais se degradaram. A humilhação constante. A revolta uma necessidade irreversível.
Cuba se encontrava ultrajada. Aqueles oitenta e dois rebeldes, comandados por Fidel Castro, Raul Castro e Che Guevara, em seu ato corajoso, buscavam resgatar a história de dignidade da Ilha.

Lutaram bravamente como guerrilheiros, a partir das selvas de Serra Maestra, e, após longas jornadas, chegaram a La Habana, onde abateram um dos mais perversos e ignóbeis regimes impostos pelo imperialismo.

Foi uma etapa respeitável da história do povo cubano. Os aproveitadores do velho regime se refugiaram por toda a parte e particularmente em Miami.

Vieram depois os conflitos oratórios com os Estados Unidos e uma ingênua união com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A ilha passou a ser satélite de um distante país socialista.

Enquanto perdurou o socialismo, os cubanos obtiveram o mínimo para a sobrevivência digna. Com a queda do regime soviético, um período de plena estagnação começou e, com ele, uma férrea ditadura.

As ditaduras - de esquerda ou de direita - assemelham-se em suas essências. Ferrenho bloqueio dos direitos humanos em toda a imensa galeria dos hoje catalogados.

Nada de liberdade. Horror ao pensamento exposto. Aniquilamento de qualquer contendor. Expurgo dos dissidentes. Fim da dignidade dos oponentes. Morte aos adversários.

Tudo se assemelha, quando os ditadores são observados sem preconceitos. Pouco difere Hitler a Stalin. Um latino-americano age da mesma maneira que um totalitário balcânico.

Ora, se assim é, só pode se atribuir à busca de um retorno à juventude à ida do presidente da República brasileira a Cuba. Visita de turista. Nada de positivo. Nenhuma palavra de incentivo ao retorno à democracia.

Os dois irmãos - Raul e Fidel - assemelham-se, nas fotografias oficiais, a dois avôs já sem horizontes e esperanças, recebendo visitas extravagantes. Nada de palavras e observações. Não querem ouvir.

Os visitantes, com aparência desconfortável, não quiseram agredir aquelas figuras históricas e tristemente decadentes. Ficaram bloqueados perante a indigência de novas idéias.

Faltou o grande e solene documento, aquele que apontaria para o futuro e demonstraria que Cuba deseja ingressar na grande comunidade dos povos democráticos.

Os que viveram, pelos meios de comunicação, os feitos dos anos cinqüenta, esperavam, no presente, a grande apoteose da liberdade. Nada, porém, aconteceu. Apenas, convivência com antigas paisagens.

É compreensível, mas não é estimulante. O Brasil poderia solicitar aos caudilhos cubanos um aceno à democracia. Viagens para matar saudades não se realizam no cenário oficial. São próprias da vida privada.

E, no mesmo espaço da volta ao passado, o antecessor do atual presidente da República, subiu aos morros cariocas em pregação complexa e repleta de arestas.

Deseja a descriminação das drogas. Será este o caminho pretendido pela a sociedade? Parece que não. A sociedade é mais conservadora e deseja preservar os seus valores. Fugas da realidade não são bem recebidas.

*ditado popular boliviano.
Fonte: Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
publicado no site Terramagazine.com.br

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