quinta-feira, 4 de junho de 2020

No Recife: "Faltou paciência para tirar meu filho do elevador", diz mãe de criança que morreu ao cair de 9º de prédio

Faltou paciência para tirar meu filho do elevador, diz mãe de criança que morreu ao cair de prédio no Recife
Mãe de Miguel concedeu entrevista para a TV Jornal - Foto: Reprodução/TV Jornal
"Infelizmente, faltou um pouco de paciência dela para tirar o meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse um pouquinho mais de paciência, se ela tivesse pego ele pela mão, ao invés de ficar só falando, pegasse ele pela mão e tirasse [ele do elevador], meu filho tava hoje comigo",
A mãe de Miguel conta que não sente raiva e nem ódio de ninguém pelo ocorrido. "Só sinto uma dor muito forte no meu peito. Meu coração está sangrando pelo perda da minha vida, do amor da minha vida. Eu deixava faltar pra mim, mas pra ele não deixava faltar nada. Tinha planos para o futuro dele. Infelizmente, os planos para o futuro do meu filho foram interrompidos", lamentou a mãe. A avó do garoto, que o considerava ao mesmo tempo filho e neto, fez coro ao sofrimento da mãe. "Tudo que eu quero é só justiça", declarou Marta.


Sobre os acontecimentos antes da queda da criança, a mãe de Miguel contou que deixou o filho dentro do apartamento e saiu para passear com o cachorro dos patrões.
Na entrevista, a mãe contou que, antes de ter que sair para passear com o cachorro de estimação dos proprietários do imóvel, informou a patroa que não levaria ao passeio o garoto e a filha dos patrões, que costumavam brincar juntos. Segundo ela, a patroa disse que cuidaria das crianças. "Quando eu saí do apartamento, eu deixei ele dentro do apartamento. Antes de sair, disse para minha patroa que não iria levar as crianças para passear a cadela porque eles aperrearam. Eu disse que, por não terem se comportarem, eu não iria levar. E, se depois eles obedecessem, de tardezinha eu levaria. A menina (a filha dos patrões) se conformou, mas meu filho não se conformou, ficou chorando. Ela disse que eu fosse, que ela ficar com Miguel", relatou", relatou a mãe.
As imagens do circuito de segurança do prédio mostram que Miguel tentou entrar no elevador em busca da mãe. Na primeira vez, ele foi detido pela patroa de Mirtes. Numa segunda tentativa, após a criança apertar no interruptor de vários andares, a moradora deixou o menino seguir no elevador e ficou apenas observando a porta do equipamento se fecha. 

Liberada após fiança

Nesta quarta-feira (3), a Polícia Civil autuou a patroa em flagrante pelo crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A mulher, que era empregadora da mãe de Miguel, teve a identidade preservada e foi parcialmente responsabilizada pela morte da criança.
Como previsto em lei, ela pagou fiança - determinada pelo delegado Ramón Teixeira em R$ 20 mil - e foi liberada. As primeiras investigações apontaram que a mulher teria permitido que o garoto subisse sozinho no elevador antes de cair do 9º andar - uma altura de 35 metros.
De acordo com a polícia, as imagens das câmeras de segurança foram a principal prova da "negligência" da mulher, como a polícia definiu. No entanto, a investigação descartou qualquer relação da moradora com a queda da criança e o que provocou a sua morte. 
*O nome da suspeita não foi divulgado pela Polícia Civil em cumprimento da Lei de Abuso de Autoridade nº 13.869/2019, que, entre outros pontos, proíbe a divulgação de imagens e nomes por parte dos policiais e servidores públicos membros dos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e do Ministério Público. A pena é de até quatro anos de prisão, caso a autoridade descumpra a legislação.


O acidente 

De acordo com o perito André Amaral, as imagens do circuito interno de segurança mostram que a criança saiu do quinto andar, entrou no elevador sozinho e subiu até o nono andar. Lá, ele teve acesso ao hall de serviço onde fica o condensador de ar condicionado. Ainda segundo o perito, o menino teria escalado o guarda peito de metal e caiu de uma altura de 35 metros. “Tinha marca de sandália e caracteriza de 1,20 m que é a altura da vítima”, disse. “Na área de acesso lá [no 9º andar], a janela estava aberta, não tinha nenhuma proteção, qualquer pessoa tem acesso, mas não era uma coisa comum ter um acesso a uma criança naquele trecho (...) Verificamos que se trata de uma natureza acidental”, completou. Testemunhas relataram que o menino estava procurando a mãe, ainda conforme o perito.
O corpo da vítima foi liberado do Instituto de Medicina Legal (IML) na manhã desta quarta-feira (3) e o sepultamento aconteceu nesta tarde no cemitério de Bonança, distrito de Moreno, cidade da Região Metropolitana do Recife.

Depoimentos

A mãe de Miguel prestou depoimento na Delegacia de Santo Amaro, ainda na terça-feira. Os patrões dela também foram ouvido, além de um representante da empresa que instalou as câmeras de segurança do prédio.
Após ser ouvida, Mirtes foi levada para a casa de familiares em Jaboatão dos Guararapes. Os donos do apartamento saíram horas depois. Eles montaram um esquema para deixarem a delegacia em dois carros e não responderem às perguntas da imprensa.


O caso do menino Miguel vem gerado repercussão e comoção nacional após serem elucidadas as condições que levaram a sua morte. Mais de 77 mil pessoas já haviam assinado a petição que cobra por justiça pela vida do menino até o final da manhã desta quinta-feira (4), um dia após a Polícia informar que a patroa da mãe de Miguel facilitou o acesso do menino ao elevador do condomínio conhecido como as Torre Gêmeas.  
No fim da manhã desta quinta-feira (4), a hashtag #JustiçaPorMiguel encabeçava o topo da lista dos termos mais usados por usuários do Twitter. 

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