A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns – divulgou nota de repúdio nesta sexta-feira (10) à declaração do vice-presidente, general Hamilton Mourão, que em entrevista ao programa Conflict Zone, da TV alemã Deutsche Welle, classificou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais notórios torturadores da ditadura, como “homem de honra e que respeitava os direitos humanos de seus subordinados”.
“Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: ‘Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia’”, diz a nota, encabeçada por Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns.
No texto, a Comissão lembra que a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-Codi comandado por Ustra.
“Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por esse militar e seus “subordinados”, nos porões da ditadura”.
Para a comissão, “as palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça”.
Em repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra
Em nota pública, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle, de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi “um homem de honra, que respeitou os direitos humanos dos seus subordinados”. As palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça.
Não é de hoje que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, de cujos porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros. Para se ter ideia da barbárie autorizada como política da Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-Codi comandado por Ustra.
Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por esse militar e seus “subordinados”, nos porões da ditadura.
Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a esse violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: “Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia”.
São Paulo, 9 de outubro de 2020
Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns
José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Paulo Sérgio Pinheiro, ex-presidente e membro da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista
André Singer, cientista político e jornalista
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado, ex–presidente da OAB-SP
Belisário dos Santos Jr., advogado, membro da Comissão Internacional de Juristas
Cláudia Costin, professora universitária, ex-ministra da Administração
Dalmo de Abreu Dalari, advogado, professor emérito e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP
Fábio Konder Comparato, advogado, doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, professor emérito da Faculdade de Direito da USP
José Gregori, advogado, ex-ministro da Justiça
José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares
Laura Greenhalgh, jornalista
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, ex-ministro da Fazenda, da Administração e da Reforma do Estado
Luiz Felipe de Alencastro, historiador, professor da Escola de Economia da FGV-SP e professor emérito da Sorbonne Université
Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, professora da USP e da Universidade de Chicago, ex-presidente da Ass. Bras. De Antropologia
Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política, professora titular da Universidade de São Paulo
Maria Victoria Benevides, socióloga e cientista política, professora titular da Faculdade de Educação da USP
Oscar Vilhena Vieira, jurista, professor da Faculdade de Direito da FGV-SP
Paulo Vannuchi, jornalista, cientista político, ex-ministro de Direitos Humanos
Sueli Carneiro, filósofa, feminista, ativista antirracista e diretora do Geledés
Vladimir Safatle, filósofo, professor do Departamento de Filosofia da USP
fonte:Revista Fórum - 10/10/2020 16h:25min.
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