quinta-feira, 22 de julho de 2021

 Pela primeira vez durante a minha carreira, a região começa a ‘cheirar’ cada vez mais como a América Latina dos anos 1970.” A frase é do cientista político e acadêmico Steven Levitsky, em entrevista à “BBC News Brasil“. Professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e co-autor do livro “Como As Democracias Morrem“, ele acredita que o cenário por aqui se assemelha cada vez mais ao de quando golpes militares eclodiram pelo continente.  


© Veronica Raner
Vejo níveis elevadíssimos de polarização no Chile, no Peru, no Brasil, na Bolívia, no México, na Colômbia…“, observa. No entanto, Levitsky acha improvável que um golpe militar como o de 1964 aconteça no Brasil. 

O pesquisador alerta que a proximidade do pleito presidencial de 2022 coloca o país sob um risco real de ver episódios de violência inflamados caso o presidente Jair Bolsonaro não aceite uma eventual derrota nas urnas. As reações se assemelhariam àquelas que aconteceram nos EUA quando o ex-presidente Donald Trump não aceitou a vitória do presidente Joe Biden. 

Os brasileiros elegeram alguém ainda mais autoritário do que Donald Trump. Jair Bolsonaro é uma das figuras mais autoritárias eleitas nas últimas décadas nas Américas“, afirma. 

No entanto, a aprovação extremamente baixa de Jair e a preferência dos militares de atuarem nos bastidores tornam improvável que a história se desdobre em favor de um levante de apoio ao atual presidente. 

Se ele fosse popular, como Fujimori no Peru de 1991, ou Hugo Chávez na Venezuela dos anos 1990, talvez. Mas um Bolsonaro com 24% de aprovação… me surpreenderia. Alguns dos militares têm uma afinidade ideológica com Bolsonaro, mas, olhando a corporação como um todo, acho que é muito arriscado e muito custoso afundar com o navio — e o navio Bolsonaro está afundando.

Enquanto o nível de polarização estiver nos níveis que estamos vendo hoje, em certa medida semelhante ao que vimos nos anos 1970, a democracia estará em risco. Há muitas maneiras pelas quais uma democracia pode morrer, mas, em um contexto de extrema polarização, as chances de crise na democracia são sempre muito altas.

Fonte: 22/07/2021

 

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