A decisão que determinou a prisão e busca domiciliar contra o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso preventivamente na manhã desta quarta-feira (9/8), traz o relato de dois servidores do Ministério da Justiça e Segurança Púbica (MJSP) que apontaram comportamento atípico no pedido de dados sobre eleitores para as votações do segundo turno das eleições de 2022.
Vasques foi preso em Santa Catarina e trazido a Brasília nesta quarta (veja imagem abaixo).
As investigações sobre possível interferência de Vasques nas operações ocorridas durante o pleito tiveram início com a oitiva de Clebson Ferreira de Paulo Vieira, que, entre maio de 2021 e fevereiro de 2023, foi analista de Inteligência da Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça se Segurança Pública, pasta que era chefiada por Anderson Torres.
Segundo relatos do analista, feitos à Polícia Federal, logo após o primeiro turno das eleições de 2022, foi pedido a ele, por orientação da diretora de Inteligência do MJSP, Marília Alencar, um painel com informações do resultado do primeiro turno, com o objetivo de robustecer informações estatísticas básicas, como o cruzamento de dados entre o georreferenciamento das sessões eleitorais com as áreas de domínio de tráfico de drogas do Rio de Janeiro, por exemplo.
Até esse momento, tudo corria bem. No entanto, no decorrer das análises foram solicitadas “impressões de listas dos municípios que concentrassem votação superior a 75% para ambos os candidatos que concorreriam ao segundo turno”.
Isso provocou estranheza ao analista por “fugir da lógica de análise seguida em outros projetos e que o foco era a segurança nas eleições, e as concentrações (de votos) nada tinham a ver”.
Mesmo assim, o trabalho foi realizado e chegou o pedido de Marília Alencar para que fossem impressos os dados sobre as votações em Lula. Assim, foi verificado que os municípios em questão ficavam no Nordeste.
Em reunião, segundo o analista, foi dito que “o resultado da concentração de votos acima de 75% se concentrando em municípios do Nordeste é porque no Nordeste havia muita corrupção e compra de votos, algo relacionado ao “coronelismo”.
Em seguida, segundo ele, ficou decidido que as ações da PRF seriam “blitze em municípios ou próximo a municípios nos quais o então candidato Lula tivesse votação acima de 75%” (SIC).
Reprodução
Prisão
O depoimento do analista está dentro dos documentos que embasaram a prisão de Silvinei. A preventiva ocorreu sob alegação de prevaricação, violência política, crime eleitoral e abuso de autoridade.
Além da planilha, o servidor percebeu uma tentativa o ex-diretor de omitir informações. Silvinei teria pedido para uma servidora formatar o celular e possivelmente esconder provas, além de registrar que ele também coagiu seus funcionários a não usarem celulares, pois poderia haver “vazamento” das reuniões do conselho.
“(…) além do que uma servidora da Polícia Federal teria procurado terceiro com o intuito de “formatar seu celular”, o que, em se comprovando as informações acima, pode caracterizar a alteração do estado de coisa, qual seja o conteúdo do aparelho, visando eximir-se de responsabilidade”, apontam as investigações após oitiva de testemunhas.
Anderson Torres
Clebson Ferreira de Paulo Vieira também afirma que o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, sabia da existência da planilha.
“Que solicitou que a planilha fosse extraída, impressa e entregue à declarante; que apresentou a planilha ao ministro Anderson Torres em reunião na qual também estavam presentes outros servidores da SEOPI, tendo explicado o intuito das análises”, escreve o documento. “Que pelo que sabe, não houve interferência do DPF Fernando para que a PRF atuasse de tal forma, não sabendo dizer se houve por parte do então Ministro Anderson Torres”, diz o termo de declaração.
Fonte: Metrópoles/reprodução 09/08/2023 21h:33
0 comentários:
Postar um comentário