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Mensagens inéditas obtidas pela coluna mostram que o empresário Meyer Nigri, investigado pela Polícia Federal (PF) por difundir conteúdo antidemocrático e notícias falsas, tinha o costume de compartilhar textos que atacavam a atuação dos ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que colocavam em dúvida, sem provas, a lisura do processo eleitoral. Em agosto do ano passado, a coluna mostrou que Nigri e outros empresários bolsonaristas defenderam em um grupo de WhatsApp um golpe de Estado caso Lula fosse eleito.
Nigri foi um dos empresários alvos da operação da PF autorizada, em 2022, pelo ministro Alexandre de Moraes, após a coluna revelar a existência do grupo de WhatsApp Empresários & Política. Moraes arquivou a investigação contra seis empresários do grupo, mas estendeu o inquérito contra Nigri e Luciano Hang, o dono das Lojas Havan. O elo entre Nigri e Bolsonaro foi um dos motivos que levou Moraes a manter as investigações.
Nesta terça-feira (22/8), a jornalista Daniela Lima publicou detalhes da investigação da PF contra Nigri. Segundo o inquérito, o empresário atendeu a um pedido de Bolsonaro ao compartilhar um texto com ataques ao ministro Luís Roberto Barroso. A mensagem em questão foi citada pela coluna na reportagem publicada em 17 de agosto de 2022. “Repasse ao máximo”, solicitou o então presidente, ao que Nigri respondeu: “Já repassei para vários grupos. […] Abraços de Veneza”. Por esse motivo, o ex-presidente será intimado a depor à PF sobre o caso.
As mensagens obtidas pela coluna mostram que Nigri ia além. Procurado, o empresário afirmou que “jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros”.
No dia 1º de maio de 2022, às 9h19, Nigri enviou ao grupo dos empresários um texto afirmando que Bolsonaro não ganhou a eleição de 2018 no primeiro turno devido à atuação de hackers. “Mas não agiram da mesma forma no 2º turno porque o PT não lhes pagou a metade do prometido logo após o 1º turno”, dizia a mensagem.
O texto apontava que os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes haviam classificado um inquérito sobre a ação dos hackers como sigiloso, e que o TSE agia para acobertar fraudes. Tudo mentira.
Em 10 de maio do ano passado, às 10h53, Nigri enviou texto dizendo que o ex-ministro José Dirceu não confiava nas urnas até Lula ser eleito pela primeira vez, em 2002. “Depois disso, aparelhado o TSE, toda a esquerda brasileira passou a defender o atual sistema”, afirmava a mensagem.
No mesmo dia, Nigri encaminhou mensagem com informações falsas sobre a TV Globo ter confirmado a existência de uma sala que conduzia apurações secretas no TSE. “A sala secreta que Fachin nega existir é confirmada pela TV Globo. Fachin foi o relator da ação que retirou Lula da cadeia e o tornou candidato. Agora o TSE quer garantir a eleição do Lula, ao tentar desacreditar as Forças Armadas”, dizia o texto.
Dois dias depois, às 15h02, Nigri compartilhou que os ministros do TSE tinham “falta de caráter e de respeito com o voto do povo” ao impedir os militares de atuarem na apuração eleitoral. “Declarem logo Lula presidente”, concluía.
Nigri escreveu mensagem por sua conta, às 12h06 do dia 16 de maio, questionando por que EUA e Israel não tinham urnas eletrônicas. “E, se o processo é seguro, por que não deixar auditar?”, perguntava. Em seguida, Nigri disse que escutou do “presidente de um grande partido que, no passado, já tinham descoberto fraudes” nas eleições. “Isto foi há uns cinco anos. Não posso provar, nem estou afirmando, mas por que não deixar auditar?”.
Em 28 de maio, às 10h08, Nigri enviou vídeo da produtora Brasil Paralelo, postado no Instagram pelo empresário Fabrizio Fasano Junior, e escreveu: “STJ pior que o PT!”.
Às 05h52 de 21 de junho, Nigri compartilhou arquivos de mídia com o texto: “Eis o enredo das eleições/2022. Você confia nos 3 min [ministros] do TSE/STF?”. Os ministros em questão eram Barroso, Fachin e Moraes.
Em 21 de julho, às 8h52, Nigri enviou outro texto defendendo que militares fizessem a apuração paralela das urnas. “Estranhamente, sem qualquer justificativa, o ministro Fachin não aceitou essa sugestão para as eleições de 2022”, dizia a mensagem. “A sala-cofre (secreta) do TSE é uma afronta à transparência eleitoral.”
No dia 15 de agosto, às 23h10, Nigri compartilhou um texto assinado por uma falsa juíza e que classificava os ministros do STF como “a maior ameaça à nossa democracia”. “Vocês se constituem em um grave problema. A nova legislatura terá que, dentro do processo legislativo constitucional existente, encontrar formas legais e legítimas para reformar profundamente esta Corte, suas funções e mesmo a totalidade dos seus membros. Vocês é que são a ameaça à democracia que precisa ser anulada pelas instituições democráticas do Estado brasileiro”, dizia a mensagem.
O juiz Marlos Melek, do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, que estava no grupo, desconfiou da veracidade do texto e alertou Nigri. “Se a colega realmente falou isso, violou todas as normas da Lei Orgânica da Magistratura e vai estar na rua amanhã. Nós, juízes, não podemos falar sobre decisões judiciais alheias, tampouco criticar juízes, desembargadores ou ministros. Por isso existe silêncio na Magistratura”, escreveu.
O empresário respondeu: “Entendi. Recebi e repassei”. E Melek completou: “Não creio [que] seja verdade. De toda sorte, aqui nesse grupo tem liberdade! Eu fiz só um comentário do porque [sic] tantas vezes do meu silêncio. Não é fácil”.
Nigri é fundador da empreiteira Tecnisa e foi um empresário influente junto ao governo Bolsonaro. Ele criou a empresa em 1977 para atuar, de forma integrada, no mercado imobiliário, com atividades de incorporação, construção e vendas.
Atual presidente do conselho de administração da Tecnisa, Nigri foi um dos primeiros empresários a acreditar na candidatura presidencial de Bolsonaro, em 2016, e a levar o então deputado para conhecer representantes do PIB. Após a eleição, Nigri influenciou em decisões do governo, como na indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República e no respaldo ao nome de Nelson Teich para o Ministério da Saúde.
A coluna procurou o empresário Meyer Nigri por meio do seu advogado, Alberto Zacharias Toron, que afirmou: “Meyer Nigri reafirma que jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias. Inclusive, sequer possui contas em redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, nem em qualquer outra plataforma de disseminação em massa. Por fim, com serenidade e respeito, reforça confiar na Justiça e ter plena certeza de que ficará devidamente demostrado que não praticou crime algum”.
Fonte: Guilherme Amado/Metrópoles - 22/08/2023 22h:21
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