Duas semanas antes de ser executada a tiros em Simões Filho na quinta-feira (17), Mãe Bernadete pediu por mais segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF) através da Ministra Rosa Weber, com quem esteve em evento no dia 26 de julho.
Na ocasião, ela lembrou a falta de resolução no caso do assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, em 2017, e relatou ameaças que sofria na região e uma realidade em que vivia 'monitorada'.
"Recentemente, perdi um outro amigo e amiga de quilombo também. É o que nós recebemos: ameaças. Principalmente, de fazendeiros e de pessoas da região. É o que nós recebemos. Hoje vivo assim: não posso sair que tô sendo revistada, minha dela casa é toda cercada de câmera, me sinto até mal com um negócio desse", disse Mãe Bernadete em desabafo para a Ministra.
No Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, onde trata da liberação do corpo de Mãe Bernadete, Wellington Pacífico, filho da líder quilombola, lembrou o pedido da mãe. "Ela falou, pediu por mais segurança e eu estava presente no dia. Nós somos perseguidos, as nossas lideranças são mortas. Eu perdi meu único irmão há seis anos e, agora, perco minha mãe da mesma forma, através de execução", falou, expressando revolta com o caso.
A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Rosa Weber, se manifestou sobre a morte de Mãe Bernadete e cobrou esclarecimentos. Ela relembrou o encontro que teve com a líder quilombola.
Confira a nota na íntegra:
"Lamento profundamente a morte de Maria Bernadete Pacífico, do Quilombo Pitanga dos Palmares, com quem me encontrei há menos de um mês juntamente com outras lideranças no Quilombo Quingoma, na Bahia.
Mãe Bernardete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas.
As autoridades locais devem adotar providências para o urgente esclarecimento e reparação do acontecido, a fim de que sejam responsabilizados aqueles que patrocinaram o covarde enredo e imediatamente protegidos os familiares de Mãe Bernardete e outras lideranças locais.
É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados."
Wellington lembrou ainda que a mãe é figura de liderança nacional para o povo quilombola e travava diversas lutas para defender o direito dos quilombos em Salvador, na Bahia e no Brasil. "Minha mãe é coordenadora nacional dos Quilombos, do Conaq. Ela lutava por recursos, melhorias e direitos dos quilombolas. E toda pessoa que luta dessa forma é eliminada pelo sistema. A história está aí para provar", ressaltou.
O corpo de Mãe Bernadete vai ser liberado no Instituto Médico Legal às 10h30 dessa sexta-feira. Ela vai ser velada no Quilombo Pitanga de Palmares durante a noite e a madrugada, sendo sepultada no início da manhã no quilombo.
Investigação
Equipes das polícias Militar, Civil e Técnica estão em diligências para investigar o assassinato da ialoxirá e líder quilombola Mãe Bernadete. A informação foi divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (18).
Na nota, a SSP informa que "após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime". A secretaria pede que pessoas que tenham pistas sobre os autores informem à polícia, em sigilo, através do telefone 181.
Fonte: CORREIO DA BAHIA/REPRODUÇÃO 18/08/2023
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