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Desde o último 7 de outubro, quando começou a nova escalada de ataques israelenses contra palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, 106 jornalistas já foram mortos na Palestina pelas forças armadas de Israel, as chamadas “Israeli Defense Forces” (IDL) que, apesar do nome, não estão se defendendo. Ao contrário, estão promovendo uma verdadeira carnificina contra civis. De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Saúde de Gaza na última segunda-feira (25), já são mais de 20 mil mortos e 54 mil feridos na Palestina.
A contagem começa justamente na data em que também começou a nova escalada de agressões militares após uma operação militar do Hamas, o partido islâmico-palestino que governa a Faixa de Gaza, deixar uma centena de mortos em territórios controlados por Israel. De lá pra cá, o que se viu foram bombardeios e incursões terrestres que penalizaram coletivamente os palestinos com a desculpa de se combater o “terrorismo do Hamas”. No entanto, paralelamente, a Cisjordânia governada pelo Fatah também tem sofrido ataques tanto da IDF como de milícias civis formadas por colonos israelenses.
A recente informação de que a soma de jornalistas mortos chega a 106 desmonta uma vez mais a narrativa de que Israel seria uma espécie de “democracia” no Oriente Médio. O dado foi divulgado por Mnar Adley, jornalista palestina-estadunidense responsável pelo site Mintpress News, que faz jornalismo investigativo. Ela lembrou os colegas em texto que escreveu sobre um prêmio recebido e a eles dedicado.
“Recentemente recebi o Prêmio Mulheres e Mídia do Instituto da Mulher para a Liberdade de Imprensa. Embora seja verdadeiramente uma honra receber este reconhecimento pelo jornalismo que conduzo no MintPress News, é quase impossível para mim deleitar-me com este elogio quando o meu coração está completamente sobrecarregado pela turbulência em curso em Gaza. Como jornalista palestino-americana que viveu sob a sombra opressiva da ocupação israelense e testemunhou em primeira mão a brutalidade implacável do regime do apartheid, não posso permanecer calada enquanto o meu povo enfrenta a opressão e a violência implacáveis. Quero dedicar este prêmio aos intrépidos jornalistas em Gaza que arriscam as suas vidas para nos mostrar a dura realidade da vida sob as bombas israelenses”, escreveu Adley.
Para ela, Israel não quer que o mundo veja a realidade do seu ataque a Gaza, por isso está “assassinando os mensageiros”.
“Israel elimina sistematicamente jornalistas, um por um, e mata as suas famílias. O exército israelense já custou a vida de pelo menos 82 jornalistas palestinos em Gaza. Estas pessoas corajosas, empenhadas em revelar a verdade, tornaram-se alvos diretos de um regime desesperado por esconder as suas ações genocidas do escrutínio do mundo. Na maior parte do mundo, usar uma jaqueta marcada como ‘imprensa’ proporciona proteção. Mas neste momento, na Palestina, você se torna um alvo militar, pois Israel transformou Gaza naquilo que o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários chamou de “cemitério de jornalistas”, completa.
A jornalista também critica os colegas da chamada “mídia corporativa convencional”, a versão internacional da “mídia hereditária brasileira”, que não noticiam as mortes de colegas mas se esforçam em replicar ao infinito notícias que funcionam como verdadeiras propagandas de guerra para Israel.
“Os principais meios de comunicação social, como o New York Times ou a CNN, cobrem jornalistas palestinos mortos em Gaza, não têm a integridade jornalística básica para dizer quem os matou e não salientam que Israel os está a perseguir sistematicamente. A mídia corporativa está encobrindo os crimes israelenses e fazendo-se de boba, fingindo não entender de onde vêm os mísseis. Fingem não ouvir a retórica genocida que emana de Tel Aviv. E mesmo que Israel faça de Gaza o lugar mais perigoso do mundo para ser jornalista, eles ignoram o que está diante dos seus olhos, construindo consentimento para a limpeza étnica”, denuncia.
À continuação, ela lembra das corajosas mulheres jornalistas que perderam suas vidas tentando documentar o ataque israelense. Antes de falar das recentes mortes de colegas, ela se lembra de Shireen Abu-Akleh, uma cidadã americana e vencedora do mesmo Prémio Mulheres e Mídia, morta com um tiro em 2021 pelas forças israelenses.
“Mulheres como Alaa Taher Al-Hassanat, apresentadora da AlMajedat Media Network, cuja casa foi bombardeada por mísseis israelenses em 20 de Novembro. E Salma Mkhaimer, morta juntamente com o seu filho num ataque aéreo israelita contra a sua casa em Rafah, Gaza. A jornalista independente Ayat Khadoura também foi morta na sua casa por um ataque aéreo israelense. Em sua ‘última mensagem ao mundo’ postada no Instagram, ela disse: ‘Costumávamos ter grandes sonhos, mas agora nosso sonho é ser morto inteiro para que saibam quem somos’”, lembrou.
“Quanto às jornalistas como eu”, finaliza Adley, “estamos empenhados em continuar o seu legado e amplificar as suas vozes no Ocidente. Repetiremos a sua mensagem de esperança e verdade ao desafiarmos e confrontarmos o mesmo sistema que perpetua a destruição do meu povo, apoiado diretamente pelos nossos governos e pelos seus meios de comunicação social. Se as guerras podem ser desencadeadas pelo engano, então unamo-nos pela paz através da verdade inquebrantável”.
Os 106 jornalistas mortos
Conheça seus nomes completos e a data da partida.
- 1. Ahmed Jamal Al-Madhoun (24/12/23)
- 2. Mohammed Abu Hwaidi (23/12/23)
- 3. Rizq Arrouq (22/12/23)
- 4. Muhammad Al-Saidi (22/12/23)
- 5. Adel Zorob (19/12/23)
- 6. Abdullah Alwan (18/12/23)
- 7. Haneen Ali Al-Qashtan (17/12/23)
- 8. Mashal Ayman Shahwan (16/12/23)
- 9. Assem Kamal Musa (16/12/23)
- 10. Rami Badir (15/12/23)
- 11. Ali Ashour Abu Malek (15/12/23)
- 12. Samer Abu Daqqa (15/12/23)
- 13. Khamis Hussain (15/12/23)
- 14. Ahmed Abu Abseh (13/12/23)
- 15. Hanan Ayad (13/12/23)
- 16. Narmeen Qawas (13/12/23)
- 17. Abdel Kareem Oudeh (12/12/23)
- 18. Mohammed Abu Samra (10/12/23)
- 19. Doaa al-Jabour (9/12/23)
- 20. Ola Atallah (9/12/23)
- 21. Hossam Omar Ammar (8/12/23)
- 22. Hamada Al-Yaziji (6/12/23)
- 23. Abdul Hamid Al-Qarinawi (3/12/23)
- 24. Mahmoud Salem (3/12/23)
- 25. Shaima Al-Jazzar (3/13/23)
- 26. Hassan Farajallah (3/12/23)
- 27. Hudhayfah Lulu (3/12/23)
- 28. Muhammad Farajallah (2/12/23)
- 29. Abdullah Darwish (1/12/23)
- 30. Muntaser Al-Sawwaf (1/12/23)
- 31. Marwan Al-Sawwaf (1/12/23)
- 32. Adham Hassouna (1/12/23)
- 33. Nader Al-Nazli (25/11/23)
- 34. Amal Zuhd (24/11/23)
- 35. Mostafa Bakeer (24/11/23)
- 36. Mohamed Mouyin Ayyash (23/11/23)
- 37. Mohamed Nabil Al-Zaq (21/11/23)
- 38. Assem Al-Barash (21/11/23)
- 39. Jamal Haniyeh (21/11/34)
- 40. Farah Omar (21/11/23)*
- 41. Rabih Al Maamari (21/11/23)*
- 42. Ayat Khadoura (20/11/23)
- 43. Alaa Al-Nimr
- 44. Bilal Jadallah (19/11/23)
- 45. Abdelhalim Awad (18/11/23)
- 46. Sari Mansour (18/11/23)
- 47. Hassouneh Sleem (18/11/23)
- 48. Mostafa El Sawaf (18/11/23)
- 49. Amr Salah Abu Hayah (18/11/23)
- 50. Mossab Ashour (18/11/23)
- 51. Mahmoud Matar (15/11/23)
- 52. Ahmed Fatima (13/11/23)
- 53. Yaacoub Al-Barsh (13/11/23)
- 54. Mousa Al-Barsh (12/11/23)
- 55. Ahmed Al-Qara (10/11/23)
- 56. Yahya Abu Manih (7/11/23)
- 57. Mohamed Abu Hasira (7/11/23)
- 58. Mohamed Al Jaja (5/11/23)
- 59. Haitham Harara (3/11/23)
- 60. Mohamad Al-Bayyari (2/11/23)
- 61. Mohammed Abu Hatab (2/11/23)
- 62. Majd Fadl Arandas (1/11/23)
- 63. Iyad Matar (1/11/23)
- 64. Imad Al-Wahidi (31/10/23)
- 65. Majed Kashko (31/10/23)
- 66. Nazmi Al-Nadim (30/10/23)
- 67. Yasser Abu Namous (27/10/23)
- 68. Duaa Sharaf (26/10/23)
- 69. Zaher Alafghani (25/10/23)
- 70. Jamal Al-Faq'awi (25/10/23)
- 71. Saed Al-Halabi (25/10/23)
- 72. Ahmed Abu Mahadi (25/10/23)
- 73. Salma Mkhaimer (25/10/23)
- 74. Hudhayfah Al-Najjar
- 75. Mohamed Al Hassani
- 76. Mohamed El-Shorbajei
- 77. A'ed Ismail Al-Najjar (24/10/23)
- 78. Iman Al-Aqili (24/10/23)
- 79. Mohammed Imad Labad (23/10/23)
- 80. Roshdi Al-Sarraj (22/10/23)
- 81. Mahmoud Abu Zarifa (22/10/23)
- 82. Hany Al-Madhoun (21/10/23)
- 83. Mohammed Ali (20/10/23)
- 84. Khalil Abu Aathra (19/10/23)
- 85. Sameeh Al-Nady (18/10/23)
- 86. Mohammad Balousha (17/10/23)
- 87. Issam Behar (17/10/23)
- 88. Abdulhadi Habib (16/10/23)
- 89. Yousef Maher Dawas (14/10/23)
- 90. Salam Mema (13/10/23)
- 91. Ali Nisman (13/10/23)
- 92. Husam Mubarak (13/10/23)
- 93. Issam Abdallah (13/10/23)*
- 94. Abdul Rahman Shihab (12/10/23)
- 95. Anas Abu Shamala (12/10/23)
- 96. Ahmed Shehab (12/10/23)
- 97. Mustafa Al-Naqeeb (11/10/23)
- 98. Rajab Al-Naqeeb (11/10/23)
- 99. Mohamed Fayez Abu Matar (11/10/23)
- 100. Saeed Al-Taweel (10/10/23)
- 101. Mohammed Sobh Abu Rizq (10/10/23)
- 102. Hisham Alnawaieha (10/10/23)
- 103. As’ad Shamlakh (8/10/23)
- 104. Mohammad Jarghoun (7/10/23)
- 105. Ibrahim Mohammad Lafi (7/10/23)
- 106. Mohammad Al-Salhi (7/10/23)
- FONTE: REVISTA FÓRUM - 29/12/2023
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