O possível envolvimento do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) com o esquema de espionagem montado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), alvo de operação da Polícia Federal nesta segunda-feira (29), já havia sido apontado pelo ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência). Doze dias antes de morrer de infarto, em março de 2020, em entrevista ao Roda Viva, Bebianno disse que tomou conhecimento que Carlos pretendia montar uma “Abin paralela” e que aconselhou, junto com o também ex-ministro general Santos Cruz (Secretaria de Governo), que o então presidente abortasse a iniciativa, por entender que aquilo poderia resultar em sua cassação em processo de impeachment.
Segundo ele, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, a quem a Abin era subordinada, também tinha conhecimento do plano de Carlos. “Um belo dia o Carlos me aparece com um nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin. O general Heleno foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas Heleno não é de confronto. A conversa acabou comigo e com o Santos Cruz [então ministro da Secretaria de Governo]. Aconselhamos ao presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma. Muito pior que o gabinete de ódio, aquilo também seria motivo para impeachment. Depois eu saí, não sei se isso foi instalado ou não”, declarou Bebianno. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal”, ressaltou.
Bebianno e Santos Cruz foram as primeiras baixas do governo Bolsonaro. Foram demitidos após entrarem em atrito com Carlos Bolsonaro.
Na semana passada, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), delegado licenciado da Polícia Federal e diretor-geral da Abin no governo Bolsonaro. O parlamentar, que é amigo pessoal dos filhos do ex-presidente, nega que a Abin tenha espionado ilegalmente adversários políticos de Bolsonaro ou favorecido seus aliados.
Entre os alvos da espionagem, conforme as investigações, estavam o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (PSD-RJ), a ex-deputada Joice Hasselmann (SP), o atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), o próprio Moraes e o ministro Gilmar Mendes, também do Supremo.
A PF apontou, ainda, que o órgão foi usado indevidamente para favorecer ao menos dois filhos do ex-presidente: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Jair Renan. A espionagem, segundo as investigações, dava-se por meio do software espião israelense de geolocalização FirstMile. Por meio dele, a Abin acompanhava os passos dos seus alvos sem a devida autorização judicial.
Até o momento, Carlos Bolsonaro não se pronunciou sobre as ações da PF em seus endereços.
Fonte:Congresso em Foco 29/01/2024
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