Foto: Raphael Müller | Ag. A TARDE
Atravessar a praça da Piedade é fazer uma viagem no tempo. Ali, há 220 anos, era abafado um dos movimentos mais importantes do Brasil Colonial e que teve protagonismo dos negros libertos e escravos, a Revolta dos Búzios. Com o enforcamento e esquartejamento dos líderes do movimento, no meio da praça, a revolta foi reprimida, mas as bases para as mudanças políticas que aconteceriam no País estavam fincadas em Salvador.
Pensar a capital baiana nesse momento histórico, final do século XVIII, é remeter ao período onde outras revoltas eclodem pelo País. Nesse sentido, a Piedade funciona como um local de convergência, debates e encontros e, ao mesmo tempo, como local de punição, onde condenados eram executados.
Quando, em 12 de agosto de 1798, dez boletins são afixados em locais estratégicos da cidade, com lemas baseados na Revolução Francesa como igualdade, liberdade e fraternidade, a sociedade recebe a mensagem de forma horrorizada, conforme lembra a historiadora Libânia Silva. Em contraponto ao objetivo de adesão popular que era esperado.
Motivações
Ela destaca que a Revolta dos Búzios ou dos Alfaiates ou Conjuração Baiana tinha além da influência da Revolução Francesa, objetivos como fim da escravidão, Proclamação da República e abertura dos portos às nações estrangeiras.
“Diferente de outros movimentos do período, a Revolta dos Búzios tem protagonismo do negro. Era composta por alfaiates, militares que reivindicavam aumento salarial, críticos da Igreja Católica pela postura repressora. Engloba a classe baixa da sociedade, mas também algumas pessoas de influência econômica, além de intelectuais. Esses últimos não foram mortos como pessoas das camadas desfavorecidas”, destaca.
Apesar da investida, o movimento não alcançou sucesso por causa de delações e investigações que resultaram na prisão dos líderes.
Atualmente, o busto de quatro mártires da Revolta dos Búzios estão na Praça da Piedade: Lucas Dantas do Amorim, Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus e Manuel Faustino dos Santos.
Contudo, muitos transeuntes que por lá passam não percebem ou desconhecem a história por trás dos bustos. “Eu não vou mentir. Trabalho aqui há muito tempo e nunca parei para ver esses bustos”, conta a comerciante Lídia Costa, 42 anos.
Em frente ao equipamento público, era pela Rua da Forca que passavam os condenados antes da execução. “As pessoas que foram enforcadas e esquartejadas tiveram esse fim por causa da posição social que ocupavam e por questões políticas. É fundamental lembrarmos desse momento histórico. Ele faz parte de um período importante e faz lembrar que muitos objetivos daquela época ainda não foram alcançados”, ressalta a historiadora.
fonte:Henrique Almeida* |atarde/reprodução
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
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