Foto: Marcos Corrêa / PR
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta sexta-feira (18) que a ida do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, às instalações da Operação Acolhida em Roraima é uma "afronta às tradições de autonomia e altivez" da política externa brasileira.
Em nota, Maia afirmou que a visita de Pompeo a apenas 46 dias das eleições nos Estados Unidos "não condiz com a boa prática diplomática" e internacional. Pompeo é secretário de estado de Donald Trump, que busca o segundo mandato como presidente dos EUA.
"A visita do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa", diz Maia na nota.
Maia também afirmou que é necessário atentar para a preservação do convívio pacífico com os países vizinhos. Pompeo está em missão a quatro países da América do Sul, dos quais três fazem fronteira com a Venezuela --Brasil, Guiana e Colômbia. Nenhum dos países reconhece o ditador Nicolás Maduro como legítimo mandatário do país.
"Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco deixou-nos um legado de estabilidade em nossas fronteiras e de convívio pacífico e respeitoso com nossos vizinhos na América do Sul. Semelhante herança deve ser preservada com zelo e atenção, uma vez que constitui um dos pilares da soberania nacional e verdadeiro esteio de nossa política de defesa", escreveu Maia.
No ano passado, o alinhamento entre o governo brasileiro e o norte-americano em relação à Venezuela trouxe incômodos. Em fevereiro, os EUA pressionaram o Brasil a usar força militar para entregar ajuda humanitária à Venezuela, com participação de soldados americanos.
No início de 2019, a Colômbia, país que já abrigava cerca de mil militares americanos, começou a montar seu centro de distribuição de ajuda perto da cidade fronteiriça colombiana de Cúcuta. Ali, a Força Aérea dos Estados Unidos opera livremente, mas Maduro bloqueou a ponte de Tienditas, que liga os dois países, para a passagem de remédios e alimentos.
A intenção dos EUA era que houvesse uma cooperação semelhante. À época, a Folha de S. Paulo apurou que o Departamento de Estado dava como certa a presença de tropas americanas na operação no Brasil, devido aos primeiros contatos sobre o tema com o chanceler Ernesto Araújo.
Em março de 2019, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirmou em entrevista a um jornal chileno que para tirar Maduro do poder, "de alguma maneira vai ser necessário o uso da força na Venezuela".
Eduardo havia ecoado uma declaração de Trump ao dizer que "todas as opções estão sobre a mesa" para resolver a crise no país. Trump que já havia indicado àquela época a possibilidade de realizar uma ação militar contra Caracas.
O filho do presidente voltou atrás após a repercussão da declaração. Segundo ele, não havia intenção de se partir para um conflito.
"Ninguém quer uma guerra, a guerra é ruim. Haverá vidas perdidas e consequências colaterais, mas Maduro não vai sair do poder de maneira pacífica", afirmou o deputado brasileiro. "De alguma maneira, será necessário o uso da força, porque Maduro é um criminoso", disse.
Meses depois, durante a reunião na cúpula do G20, em junho do ano passado, Bolsonaro descartou a consulta do mandatário americano sobre apoio brasileiro a eventual ação militar na Venezuela.
De acordo com os relatos feitos à reportagem, Trump se mostrou disposto a fazer uma ação conjunta com o Brasil para provocar mudanças no país sul-americano em crise. Ele sondou então se o brasileiro via a possibilidade de uma intervenção militar conjunta.
Bolsonaro prontamente descartou essa alternativa. O presidente brasileiro argumentou que as Forças Armadas do Brasil foram enfraquecidas nas últimas duas décadas e ponderou que a topografia do país vizinho favorece o regime, porque beneficia a atuação de guerrilhas locais.
fonte: por Isabella Macedo e Danielle Brant | Folhapress - 19/09/2020
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