Tânia Rêgo/Agência Brasil/Agência Brasil Antônio Ricardo Nunes deixa o Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa
O novo secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro exonerou, na noite de terça-feira, 15, o diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHGPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes, que comandava as Delegacias de Homicídios da Capital, de Niterói e da Baixada Fluminense. Em seu lugar, assume o delegado Roberto Cardoso, lotado até então na 27ª Delegacia Policial, em Vicente de Carvalho, na zona norte da capital fluminense. A troca foi publicada no boletim interno da corporação, a que VEJA teve acesso.
O novo titular do DHGPP ainda não confirmou, porém, se o delegado Daniel Rosa permanecerá como titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Em caso de troca, um dos cotados para assumir seu lugar é Moysés Santana, atualmente lotado na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Allan Turnowski, que assumiu a Secretaria da Polícia Civil ontem, foi anunciado na segunda-feira, 14, como o novo titular da pasta pelo governador interino, Cláudio Castro (PSC). Seu nome começou a figurar na disputa pelo cargo na noite de sexta e ganhou força durante o final de semana. A mudança na cúpula da Secretaria da Polícia Civil foi antecipada por VEJA na última sexta-feira, 11.
Outro nome previamente cotado para o cargo, Rodrigo Teixeira de Oliveira deve ser confirmado como titular da Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional (SSPIO), cargo da cúpula da força fluminense e braço-direito do novo secretário. Ele é ex-chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e atua como consultor da presidência da Petrobras. A mudança, que ainda não foi oficializada por meio do boletim interno, é tida como certa nos bastidores da Polícia Civil.
Embora tratada com naturalidade pelos quadros policiais, já que as nomeações a divisões e cargos importantes são feitas na base da confiança do secretário, a mudança na estrutura da DHGPP acontece em meio a investigações de grande repercussão na Delegacia de Homicídios da Capital: as apurações relacionadas a bicheiros, milicianos e contraventores, ao Escritório do Crime, grupo de criminosos que pratica assassinatos sob encomenda no Rio, e ao duplo homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018 no Estácio, região central do Rio.
O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, e são os réus apontados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio como executores dos assassinatos de Marielle e Anderson. Hoje, o crime completa 917 dias sem apontar os mandantes e o porquê da vereadora e de seu motorista terem sido mortos.
Trata-se da terceira gestão que assume as investigações do caso Marielle e Anderson. A primeira fase das investigações foi comandada pelos delegados Giniton Lages e Rivaldo Barbosa, que foram substituídos em 2019. O núcleo investigativo comandado por Antônio Ricardo e Daniel Rosa prosseguiu apurando os mandantes das execuções. Cardoso assume, então, a próxima etapa do inquérito, que já armazena 65 volumes e mais de seis mil páginas de investigações.
O novo titular da DHGPP é tido como um delegado de confiança de Turnowski. O departamento, por sua vez, é visto como “profundamente estratégico” pela nova gestão.
A troca no Departamento de Homicídios, porém, contraria uma promessa feita por Castro, governador interino, ao deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), amigo pessoal e padrinho político de Marielle. VEJA apurou que Castro se comprometeu pessoalmente com o deputado, no começo deste mês, a não mudar o núcleo investigativo que apura a emboscada contra a vereadora e seu motorista. A promessa, no entanto, não durou duas semanas. Procurada, a assessoria do governador em exercício declarou que “a troca administrativa é de responsabilidade do secretário de Polícia Civil”.
Com 37 anos de experiência na Polícia Civil, Roberto Cardoso, novo titular da DHGPP, já foi responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital entre 2007 e 2010. Em 2007, Cardoso resolveu o caso do lavrador Renné Senna, assassinado a tiros após ganhar um prêmio de R$ 52 milhões na Mega Sena. Ele apontou a viúva de Senna, Adriana Almeida, como a mandante do crime. No ano em que deixou a chefia da DHC, recebeu a Medalha Tiradentes, maior premiação concedida pela Alerj, pelas mãos do deputado Iranildo Campos (PR).
Em sua despedida por meio de uma mensagem no Whatsapp e do boletim interno da polícia, o delegado Antônio Ricardo listou algumas das investigações e casos solucionados – como a morte do pastor Anderson do Carmo, em que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) foi apontada como mandante do homicídio no fim do mês passado pela DH de Niterói, as investigações acerca da morte de Marielle e Anderson e as relacionadas ao Escritório do Crime. Apontou um aumento de 21% na taxa de resolução de homicídios e um total de 100% na elucidação de feminicídios.
Foi sob sua gestão que a DHC, junto ao Ministério Público do Rio, desencadeou a Operação Tânatos, que levou à prisão de Leonardo Gouvea da Silva, o Mad, em 30 de junho, além de outros milicianos relacionados ao Escritório do Crime. Mad é citado por investigadores como substituto do ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Adriano Magalhães da Nóbrega, em uma complexa organização criminosa que trabalha a mando de contraventores, além de dominar as comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio. Nóbrega foi assassinado em fevereiro durante uma operação policial com objetivo de capturá-lo na Bahia.
A última operação, batizada de Dèja Vu (algo já visto, em tradução livre), foi desencadeada no começo de setembro e está relacionada ao caso Marielle e Anderson. Mandados de busca e apreensão foram expedidos contra o ex-vereador Cristiano Girão Matias, apontado por um documento da PF como o mandante de um caso similar em que um casal foi morto na comunidade de Gardênia Azul. Quem teria desferido os tiros a mando de Girão seria o PM aposentado Ronnie Lessa, que já é réu pelas mortes de Marielle e Anderson.
fonte:Veja.com - 16/09/2020
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