sexta-feira, 30 de julho de 2021

Em SP: Ex-vereador do Rio é detido por morte de ex-policial; autor seria Ronnie Lessa

 

Ex-vereador é detido em São Paulo por morte de ex-policial; autor seria Ronnie Lessa
Foto: Reprodução

O ex-vereador Christiano Girão foi preso, na manhã desta sexta-feira (30), pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), em operação realizada em São Paulo. O policial militar reformado Ronnie Lessa, detido pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, também foi alvo da operação. 

 

Segundo o Globo, investigações comprovam a ligação de Cristiano Girão, ex-vereador e ex-chefe da milícia de Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, com Lessa. Girão teria contratado Lessa para executar o ex-policial André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e sua companheira, Juliana Sales de Oliveira, de 27 anos, crimes ocorridos em 14 de junho de 2014, em razão de uma disputa pelo controle da Gardênia.


O vínculo é considerado pela polícia e pelo Ministério Público do Rio de Janeiiro como um passo decisivo na elucidação do Caso Marielle. O ex-vereador foi denunciado pelo MP no último dia 19. Outros mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos por agentes da DHC no Rio e em São Paulo. Pouco depois das 10h, Girão foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito. O ex-vereador deve ser transferido ainda nesta sexta-feira para o Rio de Janeiro.


Na ocasião, o casal estava em um Honda Civic, dirigido por André Henrique, quando foi interceptado por um Fiat Dobló, branco, de onde foram feitos diversos disparos de armas de fogo em frente à sede da associação de moradores local. De acordo com as investigações, Lessa executou o crime por determinação de Cristiano Girão. Miliciano do bairro, Zóio levava a companheira para o trabalho. O casal foi fuzilado com 40 tiros. O crime estaria relacionado à disputa pelo poder da Gardênia.


Girão foi preso nuum rua da capital paulista, após um trabalho de monitoramento e vigilância. As investigações mostraram que, nos últimos dias, ele não estava dormindo em casa, mas sim em uma loja, de onde saía diariamente antes das 6h, o horário regular para início de operações policiais.

 

"Causa estranheza uma prisão ser decretada por fato ocorrido há 7 anos, mas preciso ter acesso aos autos para me manifestar sobre o mérito da acusação — afirmou Zoser Hardman, advogado do ex-vereador, completando que vai pedir habeas corpus", disse.

 

Para as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, que integravam a força-tarefa do caso Marielle e foram as responsáveis pela denúncia, ao provar que Girão contratou Lessa para matar Zóio, é aberta a possibilidade, segundo as investigações, de ele tê-lo chamado para outras empreitadas criminosas semelhantes, inclusive as execuções da vereadora e do motorista, mortos numa emboscada em março de 2018. O ex-vereador é um dos personagens denunciados pela CPI das Milícias, conduzida, dez anos antes do duplo homicídio, pelo então deputado estadual Marcelo Freixo. Ao ser preso, em 2009, Girão chegou a jurar vingança ao parlamentar.

 

Por meio de testemunhos e quebras telemáticas de celulares e computadores dos investigados, chegou-se a um elo em comum: o ex-policial civil Wallace de Almeida Pires, vulgo Robocop, morto em julho de 2019. A polícia acredita que ele tenha sido assassinado como queima de arquivo. Robocop era miliciano e braço-direito de Girão. Era ele quem tocava os negócios, principalmente aluguéis de imóveis na Gardênia Azul, durante os oito anos em que o ex-vereador ficou preso.


Na época da CPI das Milícias, Marielle atuava no gabinete de Freixo, dando apoio às famílias de vítimas das milícias. Com o tempo, passou a ser afilhada política do então deputado estadual, se tornando vereadora em 2017. Como Freixo andava cercado de seguranças, seria necessário buscar um alvo com menos resistência. Daí, segundo a investigação, a escolha pelo nome da parlamentar.

 

A força-tarefa do Ministério Público e o delegado Moyses Santana, que estava a frente da DHC, encontraram evidências que levaram o ex-vereador à posição de suspeito como mandante da morte da parlamentar, a começar pelas informações obtidas dos celulares e computadores de Lessa, mediante a quebra do sigilo temático. Antes de analisarem o celular de Lessa, o inquérito não apontava a autoria do assassinato de Zóio. Chamou a atenção dos investigadores, no entanto, o fato de Ronnie Lessa ter usado o buscador Google para pesquisar, em 2018, a morte do miliciano e de Juliana, provavelmente, para saber, por meio da imprensa, o que a polícia havia investigado até então. Foi o fio da meada os investigadores apurarem o motivo do interesse de Lessa no crime do suposto rival de Girão.

 

Após constatar o interesse tardio de Lessa pelo duplo homicídio, o inquérito da Delegacia de Homicídios da Capital concluiu que as caraterísticas do crime contra Zóio e Juliana, na Gardênia, em 2014, não foram exatamente iguais à emboscada que mataria Marielle e Anderson quatro anos depois. Os tiros, neste caso, foram disparados de fora do carro assim que Lessa desembarcou - Robocop já estava na rua.


Para os investigadores, a sequência de tiros com o carro em movimento naquele duplo homicídio e a precisão dos disparos indicam que o crime tem a assinatura de Lessa. Juliana morreu como “efeito colateral”, linguagem usada pelos bandidos como uma espécie de consequência da ação para se atingir o objetivo principal: a execução de Zóio, o desafeto. O mesmo ocorreu no Caso Marielle com a morte do motorista Anderson Gomes.

 

Outro ponto em comum foi o uso de uma arma automática — no caso de Zóio, um fuzil M16, arma pequena e de pouco recuo. Na morte de Marielle, o assassino atirou com uma submetralhadora HK-MP5, usada, normalmente, para a segurança de autoridades por ser curta, leve e precisa. Grupos de elite das Forças Armadas também a utilizam, e no Rio, especificamente, é empregada por equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil em escolta de presos e de magistrados que estão sob ameaça.

 

O assassinato de Zóio e Juliana foi cometido por volta das 10h. Na época, um morador que não quis se identificar contou à polícia que os assassinos estavam aguardandoo alvo desde as 8h. Nas investigações das mortes de Marielle e Anderson, Lessa teria ficado cerca de duas horas aguardando a parlamentar sair de um evento, no qual participava na Casa das Pretas, no Centro do Rio, para assassiná-la em seguida. O policial ficou num carro fechado e com película escura nos vidros, sem ar-condicionado, num dia típico de verão.

 

Ao prestar depoimento na DH, em 15 de agosto de 2018, sobre os assassinatos de Marielle e Anderson, Girão declarou que, no momento do crime, em 14 de março de 2018, ele estava na churrascaria Rio Brasa, na Barra da Tijuca, onde teria permanecido por mais de dez horas, saindo à meia-noite. Disse ainda que estava com a mulher e um empresário de São Paulo, do ramo da moda. A polícia e a Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson, no entanto, ao se concentrarem na busca do mandante, acharam estranho Girão ter passado a metade de um dia numa churrascaria. Eles encontraram indícios de que Robocop estaria com ele.


Fonte: folhapress - 30/07/2021 - 20h:38min.

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