O valor declarado em cartório para a transação foi de R$ 70 mil. O imóvel foi comprado por um valor muito abaixo do mercado. O apartamento, um apart-hotel, tinha sido avaliado pela prefeitura do Rio, para fins de cobrança de impostos, em R$ 236 mil, à época.
Na escritura do imóvel consta que Carlos efetuou o pagamento por meio de transferência bancária, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo em 2020. No entanto, ao analisar as contas bancárias do vereador, o MP não identificou nenhuma transferência bancária.
No extrato bancário de Carlos, consta um débito no valor de R$ 60 mil, cujo lançamento foi identificado como “pagtos diversos autorizados”.
Para atingir saldo suficiente para a transação, Carlos já havia recebido um depósito de R$ 10 mil, em espécie, dias antes.
No dia 20 de março, data em que o pagamento do imóvel foi feito, consta um novo crédito, dessa vez de R$ 31.687,05, identificado como “resgate poupança” – o relatório não indica de qual conta teriam vindo esses recursos, nem se ela pertencia ao vereador.
Após analisar as transações, os investigadores pediram mais informações ao Banco do Brasil e foram informados de que Carlos tinha feito um depósito em dinheiro vivo, na boca do caixa, para uma conta que consta em nome do vendedor.
O documento relata que “a título de informação, este depósito de R$ 60 mil, cuja origem se deu no saldo da conta Banco do Brasil, foi efetuado na boca do caixa às 14h40min”, duas horas e quarenta minutos depois que Carlos esteve no cofre. Não foi encontrado nenhum outro pagamento da conta de Carlos ao vendedor para totalizar os R$ 70 mil declarados em escritura de compra e venda e também na declaração de imposto de renda do vereador.
Ao mesmo tempo, os investigadores apontam que o depósito em espécie para o vendedor, no total de R$ 60 mil, foi feito em uma agência do BB que fica a 500 metros de onde Carlos mantinha o cofre — ambos os endereços são vizinhos à Câmara dos Vereadores do Rio.
A perícia do MP destaca a ida ao cofre poucas horas antes da transação: “Ademais, com base nas informações constantes no Contrato de Locação de Cofre, Carlos Bolsonaro no mesmo dia 20/03/2009 esteve na agência 0001-9 Rio (Rua Lélio Gama, 105 — Centro) e acessou o seu cofre n.º 225 entre os horários de 11h48min a 12h”, completa o documento. Carlos já havia mexido no cofre dois dias antes, em 18 de março.
Carlos Bolsonaro mexia em cofre com frequência
Ao verificar os dados sobre o cofre de Carlos, o MP descobriu que ele possuiu o mesmo a partir de 24 de novembro de 2004, no fim de seu primeiro mandato como vereador. “Foi contratado cofre grande, de n.º 225, contendo 02 caixas de tamanho 22,9 X 22,9 X 54,0”, registra o documento. O vereador possuía o cofre em conjunto com outra pessoa. O nome dela, porém, foi tarjado dos documentos. Na ocasião da abertura do cofre, o valor declarado foi de R$ 20 mil. Carlos teve o cofre até 10 de outubro de 2016.
Nos documentos encaminhados pelo Banco do Brasil, o MP também obteve o “Cartão de Controle” e o “Controle de Frequência de acesso ao Cofre nº 225” que contém data e hora de entrada e saída dos locatários. “Carlos Bolsonaro, por vezes, realizou pelo menos um ou mais acessos por mês, fato este que despertou a atenção deste Laboratório, uma vez que cofres bancários, usualmente, se destinam à guarda de joias, metais preciosos, documentos, além de grandes somas em dinheiro”, apontou o MP.
Em 2020, o jornal Folha de S. Paulo revelou que Carlos tinha um cofre no BB e apontou que ele não declarou os valores que guardava ali para a Justiça Eleitoral, em 2008. Em 2009, o vereador pagou R$ 15,5 mil, também em dinheiro vivo, para cobrir um prejuízo que obteve em uma operação na bolsa de valores.
A 1ª Vara Criminal Especializada do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio) autorizou a quebra de sigilos fiscal e bancário de Carlos Bolsonaro e de seus assessores entre 2005 e 2021. A 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada apura peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de Carlos e pediu uma análise dos dados obtidos. O relatório obtido pela coluna é de 22 de agosto de 2023.
Fonte: JULIANA DAL PIVA/ICL NOTÍCIAS/REPRODUÇÃO - 03/05/2024 22h:30
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