Na companhia de uma amiga e da filha dela, de 12 anos, Yasmin Cândido da Silva, de 20, saiu de casa no domingo (24) para ver o pôr do sol na Serra da Barriga, em União dos Palmares. Ela foi uma das sobreviventes do acidente com um ônibus escolar, que deixou 18 mortos e dezenas de feridos.
Em entrevista à TV Pajuçara, a dona de casa contou que percebeu quando o veículo desligou na primeira ladeira. Então desligou novamente na segunda e o ônibus começou a tremer. Yasmin viu o momento em que uma única pessoa saiu assim que a porta abriu. Matheus Lopes foi o único passageiro que conseguiu sair antes da tragédia, com cerca de um minuto de diferença.
“Na segunda ladeira que ele foi subindo, o ônibus começou a dar a ré para continuar subindo de novo. Deu ré, deu ré e pelo visto já estava todo mundo se apavorando. Ele conseguiu subir a primeira ladeira. Quando foi na última ladeira mesmo, faltou freio. O motorista tentou, todos viram que ele tentou ligar o ônibus e não conseguiu. Faltou o freio e não sei o que aconteceu, que o ônibus começou a tremer. Ele ainda abriu a porta da frente para o pessoal descer, só que o pessoal da frente não levantou, só o pessoal de trás que levantou.”
Ela estava em pé na parte de trás do coletivo, que tinha 48 pessoas. Não deu tempo de sair. “Quando olhei para trás, vi só a árvore que tínhamos passado lá atrás e ele estava descendo, perdeu totalmente o controle do ônibus. Ninguém acreditou, porque ele desceu de ladeira abaixo, foi um verdadeiro renascimento para aquelas pessoas. Não escutei o motorista falar nada, porque eu estava lá atrás.”
Em determinado momento, como relembrou, estava encostada na porta, que quebrou. A mulher caiu e o veículo continuou descendo. “Não vou mentir, não gritei porque estava em pânico. Quando vi todo mundo gritando, falei: 'O ônibus vai cair'. Tremeu tanto que só percebi quando ele estava rolando. Só fui sacudida. A porta de vidro atrás, a preta, segunda porta, estava trancada, não abriram em nenhum momento aquela porta. Ela quebrou em cima das minhas costas e o ônibus passou por cima de mim, me segurei nos matos, na ladeira. Aí consegui. Só vi um vulto, quando tornei, vi o ônibus caindo lá embaixo”.
Yasmin falou que conseguiu escalar a ribanceira com a ajuda de alguém, que estendeu a mão. A mulher teve apenas arranhões. “Não demorou muito tempo, porque eu estava pedindo socorro, gritei muito e não vinha ninguém. Tinha um senhor do meu lado, que falou assim: 'Temos que subir'. Falei: 'Então, vamos subir'. Eu estava com os pés cortados, porque a porta tinha caído por cima de mim, e tinha pedaço da porta do meu lado. Peguei o vidro da porta e joguei. Comecei a pegar nos matos para subir e escalar. Minha família, meus primos que vieram descendo. No desespero, não vi o rosto de ninguém. Só sei que peguei em uma mão e ela foi me subindo. Aí eu fui escalando e cheguei lá em cima, creio que fui uma das primeiras a chegar lá.”
Depois de sobreviver, a jovem contou que ficou traumatizada e só conseguia chorar no hospital. “Vi a morte. Não vou mentir. Vi a morte de frente. Foi uma situação muito delicada, foram várias vidas. Poderia ser eu entre as vítimas que se foram. Minha cabeça ali... E olhe que eu não tive nenhuma lesão grave. Não sofri nada.”
Este seria o primeiro ‘pôr do sol’ de Yasmin na Serra da Barriga, mas o que marcou para ela foi a ‘segunda vida’ que marca seu ‘renascimento’. “Como nasci dia 2 de agosto, dia 24 de novembro foi uma sensação muito ruim para todos, mas foi um livramento muito grande para muita gente.”
A amiga dela e a filha tiveram mais ferimentos e passam bem. As duas seguem internadas no hospital.
Fonte: TNH1/reprodução 26/11/2024
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