sexta-feira, 25 de junho de 2021

CPI da Covid-19: Servidor cita propina e revela gestores que “pressionaram” por Covaxin


Luis Ricardo_CPI da CovidEdilson Rodrigues/Agência Senado

foto:Edilson Rodrigues/ag. Senado

O servidor Luis Ricardo Miranda, do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, revelou, nesta sexta-feira (25/6), à CPI da Covid nomes dos superiores que teriam, segundo ele, o pressionado para dar celeridade nas tratativas pela compra de imunizantes Covaxin.

O servidor também apontou supostos indícios de pagamento de propina a gestores da Saúde na compra de imunizantes. “O ministério estava sem vacina. E um colega, Rodrigo, servidor, disse que um rapaz vendia vacina. E esse rapaz disse que alguns gestores estavam recebendo propina. Ele não disse nomes”, relatou.

Entre os nomes o teriam pressionado, o funcionário publicou citou o coronel Marcelo Pires. O militar chefiava desde janeiro a Diretoria de Programas do ministério, mas foi exonerado em meados de abril após a chegada do atual ministro Marcelo Queiroga. Ele também disse ter sofrido pressões do coordenador Alex Lial Marinho e do diretor Roberto Ferreira Dias.

Segundo Miranda, a cúpula do setor o procurava, constantemente, para saber detalhes do andamento das negociações. “Me procuravam para saber detalhes: se acionou a empresa, se conseguiu a documentação, se já foi protocolado na Anvisa, sempre o andamento, mas com bastante constância”, disse.

O servidor relata ter se sentido desconfortável com a conduta dos superiores. “Com essa pressão e as formas como recebemos os documentos, toda equipe do setor não se sentiu confortável com essa pressão, como estavam me pressionando, eu conversei e acionei o meu irmão [deputado federal Luis Miranda (DEM-DF)], que procurou o presidente”.


O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, prestam depoimento, nesta sexta-feira (25/6), à CPI da Covid, acerca das negociações da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.

Luis Ricardo foi convidado após a CPI ter tido acesso ao depoimento dele ao Ministério Público Federal (MPF), em investigações sobre supostas irregularidades no processo de aquisição do imunizante indiano. O servidor disse ter sofrido pressão atípica de superiores; ele também revelou que membros do governo federal articularam, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em favor da vacina.

O parlamentar, por sua vez, colocou-se à disposição da comissão para participar ao lado do irmão, alegando ter mais informações sobre o caso.

Depois de ser suspensa por mais de uma hora, a sessão começou, de fato, às 15h22. Após as apresentações dos depoentes, o deputado tomou a palavra e afirmou que os dois foram expostos pelo vazamento de uma gravação registrada pelo Ministério Público Federal. O parlamentar confirmou o encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para falar da pressão sofrida pelo irmão.

“Não procuramos essa CPI, fomos procurados. Procurei meus colegas parlamentares desta CPI para explicar que o caminho poderia ser muito ruim para meu irmão. A maioria dos problemas ocorreu na semana que antecedeu o encontro com o presidente da República, em 20 de março.”

Luis Miranda disse que, ao procurar Bolsonaro, fez “o que qualquer cidadão brasileiro deveria fazer”. “Não sou policial, não sou promotor de Justiça, não sou investigador. Levei para a pessoa certa, na minha opinião. Presidente olhou nos meus olhos e disse: ‘Isso é grave. Vou acionar o DG (diretor-geral) da Polícia Federal'”, contou.

Para o parlamentar, a decisão tomada por ele e o irmão foi o suficiente para o Brasil não dispender dinheiro público com um imunizante ainda não utilizado. “Se não fôssemos nós, 45 milhões de dólares seriam pagos por uma vacina que até agora não se resolveu e não sabemos se vai se resolver”, apontou.

Houve um bate-boca entre depoentes, senadores de oposição e governistas. O deputado Luis Miranda, então, ameaçou deixar a sessão. “Se for o caso, levantamos e vamos embora. Não acuse que nós estamos mentindo”, disse.

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Início com suspensão

Pouco depois de iniciada a sessão, o presidente da CPI, Omar Aziz, suspendeu a reunião por 15 minutos. “Fui informado que o servidor está no aeroporto, dirigindo-se para a CPI”, afirmou Aziz. O deputado Luis Miranda, no mesmo momento, chegou ao Senado, vestindo um colete a prova de balas e segurando uma Bíblia.

Por causa do atraso na chegada de Luis Ricardo, a sessão foi suspensa. Ele chegou ao Congresso às 15h20. Às 15h22, os senadores recomeçaram a reunião.

Integrantes do colegiado avaliam que Luis Ricardo é uma peça-chave nessa nova fase da comissão, que investiga corrupção na aquisição de vacinas. Diversos pontos dessa negociação, contudo, ainda precisam ser esclarecidos.

Na abertura da reunião desta sexta-feira, senadores do comando da CPI reclamaram da postura do Ministério da Saúde, de não dar acesso de técnicos do Senado e da Controladoria Geral da União (CGU) a documentos da pasta.

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) classificou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, realiza “obstrução delituosa”, ao dificultar que técnicos do colegiado possam verificar documentos da pasta. “Por isso, eu solicito que se tome as providências contra essas obstruções do ministro Marcelo Queiroga, que já é investigado nessa comissão”, disse.

Fonte: Metrópoles- 25/06/2021 21h

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