quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Aliada de Bolsonaro, família Gracie recebeu auxílio emergencial

A maioria da família Gracie ostenta sua proximidade e não esconde a sua estreita amizade com o presidente Jair Bolsonaro e membros de seu governo. Em 2018 Robson Gracie, então presidente da Federação de Jiu-Jitsu do Rio de Janeiro, presenteou o presidente com uma faixa preta. Recentemente, o secretário de Cultura do governo, Mário Frias, gastou R$ 39,1 mil para viajar ao encontro de Renzo Gracie e supostamente tratar de uma produção audiovisual com o lutador aposentado da “arte suave”.

Em uma pesquisa no Portal da Transparência, o Congresso em Foco encontrou, pelo menos, nove membros da família Gracie que receberam o auxílio emergencial de março até dezembro de 2020 e um que recebeu o Benefício de Prestação Continuada (BPC) mesmo sem, aparentemente, atenderem aos requisitos para os benefícios sociais.

Vale lembrar que não há nenhuma irregularidade em requerer o auxílio emergencial, desde que atendidos os critérios definidos pelo governo. Pelas regras, só podem se habilitar ao auxílio emergencial pessoa da família que recebesse até meio salário mínimo; ou aqueles cuja renda total familiar não ultrapassasse três salários mínimos.

Jenifer Gracie

Jenifer Gracie, em foto de julho de 2020, nos Estados Unidos: “Tempos de corona, vestida para nada.” Reprodução


Não parece ser o caso do empresário Rosley Gracie. Em sua conta no Linkedin, ele se apresenta como diretor de operações da Gracie Nutrition, cujo escritório fica no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Na internet, é possível ver que a empresa criada em 2008 é fabricante do suco Sley Juice. Entretanto, de abril a dezembro de 2020, o membro da família Gracie recebeu R$ 4600 referente ao auxílio emergencial. A reportagem tentou contato com Rosley pelo telefone mas, até o momento, não houve resposta.

Proprietário de uma academia no shopping Cittá America, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Reylson Gracie também aparece na lista de beneficiários do Governo. De junho a novembro de 2020, o ex-lutador e empresário, que voltou ao Brasil em 2013, foi agraciado com R$ 3000 referentes ao benefício criado durante a pandemia. Porém, a parcela de agosto, no valor de R$ 600 foi devolvida à União e o total recebido caiu para R$ 2400.

“Eu fiquei sem renda com essa pandemia. Eu estou há dois anos sem renda e estou apertado”, conta Reylson ao justificar o pedido do auxílio. “A minha escola não funciona há dois anos. Eu me vi na necessidade. Às vezes eu ia lá na academia olhando para os lados, para dar aula a uma ou duas pessoas e poder comprar comida. O governo nunca me deu nada, só essa merreca aí. Foram R$ 2400.”

Mesmo morando no Oregon, nos Estados Unidos, a afilhada e sobrinha de Reylson, Jenifer Oliver Gracie, também foi beneficiada com oito parcelas o programa que foi criado para auxiliar pessoas de baixa renda na pandemia. Na sua rotina mostrada em centenas de fotos no Instagram, Jenifer aparece em passseios e viagens ao longo do período em que recebeu os R$ 3900 do auxílio. No Portal da Transparência, Jenifer aparece como moradora de Teresópolis.

Até a mãe da ex-lutadora e apresentadora de TV Kyra Gracie ,e irmã do ex-lutador Renzo Gracie, Flávia Gracie tratou de garantir a sua parte do auxílio emergencial. Proprietária da FGX Assessoria e Consultoria de Eventos,  cuja faixa de faturamento está registrada entre R$240.000,00 a R$2.400.000,00, embolsou cinco parcelas de R$ 600 e outras três de R$ 300, totalizando R$ 3.900, entre maio e dezembro de 2020.

Moradora de Redondo Beach, na Califórnia, outra integrante do clã esportivo também foi beneficiada com o auxílio emergencial. Apoiadora de Bolsonaro e casada com um advogado, Ricci Gracie recebeu sete parcelas do auxílio emergencial durante 2020. No total, ela foi beneficiada com R$ 3.300, mesmo não morando no Brasil e estando nos Estados Unidos durante o pagamento do auxílio. Aliás, Ricci usa do mesmo artifício de Jenifer e aparece como moradora de Teresópolis, no Rio de Janeiro, no cadastro do programa.

Os irmãos Stephania Cunha Gracie Corte Imperial, Juramidam de Iemanjá Gracie Corte Imperial e  Tintuma Omicaia Gracie Corte Imperial também receberam, cada, R$ 4200 de auxílio.

Apenas Carlion Gracie e Carla Gracie tiveram os valores que foram depositados em suas contas estornados ao Governo.

Congresso em Foco tentou contato com os membros da família citados acima, seja por whatsapp ou Instagram, mas não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

Benefício de Prestação Continuada

Diferente de seus parentes, o faixa-preta do 9º grau no Jiu-Jitsu Reyson Gracie não recebeu nenhuma parcela do auxílio emergencial. Porém, o terceiro filho de Carlos Gracie, fundador do jiu-jitsu brasileiro, recebeu 15 parcelas do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que totalizou R$ 37.710,00.

O benefício é uma garantia de salário mínimo ao idoso com 65 anos ou à pessoa com deficiência em qualquer idade. Porém, para ter direito ao BPC, cuja gestão é feita pelo Ministério da Cidadania, é necessário que a renda da pessoa do grupo familiar seja igual ou menor que 1/4 do salário mínimo.

Em nota ao Congresso em Foco, o Ministério da Cidadania  disse que “o cidadão (Reysson Gracie)  é titular do BPC Idoso desde novembro de 2007 e não há renda formal registrada no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). Vale destacar que os dados inseridos no Cadastro Único em agosto de 2007, a partir de visita realizada por técnico da assistência social do município do Rio de Janeiro, mostram que a família do titular é unipessoal. Sendo assim, não há informações que indiquem recebimento indevido do benefício.”

Reyson Gracie aparece em suas redes sociais como proprietário da Reyson Gracie World Association que possui academias associadas em Manaus, Taiti, Niterói, Austrália, Espanha e Flórida.

Reportagem atualizada às 12h22 para incluir a nota do Ministério da Cidadania sobre o BPC de Reysson Gracie


Fonte: Congresso em Foco/reprodução - 17/02/2022


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