foto:reprodução/instragam
A morte do funcionário público
Juliano de Brito Oliveira, de 42 anos, chocou a cidade de Caetité, localizada
no Alto Sertão Baiano. Ele foi encontrado morto dentro de um prédio escolar em
construção, na tarde do último domingo (4), na zona rural da cidade. Seu corpo
foi identificado com sinais de violência, mas, de acordo com familiares e
amigos, Juliano não tinha nenhuma inimizade.
“Meu irmão era um cara
trabalhador, um funcionário público decente, honesto, que tinha muitos amigos.
Era uma pessoa de reputação ilibada. Ele foi brutalmente assassinado por
motivos que nós ainda não conhecemos, e isso é o que mais comoveu a cidade
inteira. Ele era uma pessoa muito querida e conhecida”, afirma a servidora
pública Ana Karla Oliveira, 35, irmã de Juliano. Após uma semana sem respostas, os amigos
decidiram organizar uma caminhada para exigir justiça por Juliano. Prevista
para 8h deste sábado (10), logo após a missa de sétimo dia do funcionário
público, a mobilização terá como ponto de partida a Praça da Catedral, onde
será lido um texto feito pelos participantes em um carro de som.
Líder da iniciativa, a oficial de
justiça e amiga de Juliano, Myna Silveira, 43, salientou a preocupação em não
deixar que o crime fique impune. “Desde domingo, os amigos não têm notícias das
autoridades, nem uma publicação a respeito de como andam as investigações. Nós
não estamos entendendo o que está acontecendo. O inquérito policial só foi
instaurado três dias depois e a autópsia do corpo só foi feita horas depois
porque não tinha perito, então estamos muito preocupados de um crime brutal
virar somente estatística”, relata.
Segundo Myna, a morte de Juliano
foi muito sentida porque ele era muito prestativo e amigável. Ela conta que ele
participava de todos os eventos que era convidado na cidade e costumava dividir
a atenção entre os amigos e a família, uma vez que era chefe de família e
cuidava da mãe e da irmã desde que perdeu o pai e o irmão em um acidente
trágico. “Não tinha nada para falar de ruim de Juliano, só tudo de bom. Era só
alegria o nosso amigo”, resume.
Além do ato nas ruas de Caetité,
os vizinhos, familiares, amigos e outros moradores também estão se unindo nas
redes sociais através da hashtag #JustiçaPorJuliano. A esperança deles é
conseguir mobilizar o máximo de pessoas possíveis para obter respostas sobre o
crime.
Crime
O corpo de Juliano Brito de
Oliveira foi encontrado com sinais de violência dentro de um prédio escolar em
construção, na tarde do último domingo (4), na zona rural de Caetité. A Polícia
Militar, assim que recebeu a notícia do ocorrido, se dirigiu ao local e
encontrou o corpo de bruços, com muito sangue na parte de trás do crânio e um
bloco com marcas de sangue ao lado. O Departamento de Polícia Técnica foi
acionada para periciar o local e o crime passou a ser investigado com
tipificação de latrocínio, uma vez que a motocicleta, celular e carteira da
vítima foram levadas.
No entanto, a moto foi localizada
dentro da própria cidade a aproximadamente 3 km do local e, com isso,
familiares e amigos passaram a contestar a versão de latrocínio. Segundo João
Carlos Aguiar Soriano, advogado da família, Juliano foi visto pela última vez
por volta de 22h em um aniversário com amigos. O advogado ainda relatou que a
polícia informou que três indivíduos teriam se encontrado com ele na noite de
sábado para domingo.
Dois desses indivíduos teriam
sido conduzidos para a delegacia, onde prestaram depoimento e foram liberados
por não haver flagrante. Para o advogado da família, os depoimentos trouxeram
ainda mais suspeitas. “Como está em sigilo as investigações, eu posso adiantar
apenas que há muita contradição nos dois depoimentos. Ainda não sabe a
motivação, inicialmente o crime está sendo investigado como latrocínio, mas não
podemos afirmar se foi latrocínio, homofobia ou outra motivação, só quando os
policiais encerrarem as investigações”, ressalta.
O CORREIO contatou Joseberto
Ribeiro Cruz, delegado responsável pelo caso em Caetité, que afirmou não ter
identificado nenhum suspeito. Perguntado sobre avanços nas investigações, o
delegado afirmou que o inquérito corre em sigilo e que, portanto, não daria
informações a respeito dos desdobramentos.
A Polícia Civil informou que
diligências, oitivas e demais providências de polícia judiciária estão sendo
adotadas para identificar e prender os autores.
Leia na íntegra o texto que será lido durante a mobilização
“Estamos aqui reunidos neste ato
público para informar a sociedade caetiteense a respeito do assassinato cruel
do seu filho Juliano Oliveira, no último domingo e clamar pela atenção e apoio
de todos na busca por justiça.
Juliano era uma pessoa maravilhosa, alegre, cheia de sonhos,
amigos, bom filho, trabalhador, bom irmão e teve sua vida ceifada de forma
cruel e covarde.
Passados 7 dias da sua partida, não sabemos de nada a
respeito dos autores desta barbárie.
Então temos várias perguntas. As primeiras são:
- Nenhuma câmera da cidade viu Juliano?
- E a perícia, que foi feita muitas horas depois por falta
de perito, apontou o que? DNA?
- E o inquérito, que demorou três dias para ser instaurado,
mas solicitou as quebras de sigilo telefônico e bancário que não apontaram
nada?
- E as digitais na moto?
Todos nós estamos estarrecidos em cada canto da cidade
remoendo essas perguntas sobre o crime.
Mas tem outras perguntas de abrangência maior que são:
- Então estamos à mercê, porque a cidade não tem
monitoramento?
- Então estamos à mercê, porque não temos estrutura para
apurar crimes?
E o que é pior:
- Então Caetité é uma cidade onde acontece impunemente esse
tipo de crime?
São essas e tantas outras perguntas que nos fazemos e
exigimos resposta das autoridades desta cidade. Todas elas! Todos devemos isso
a Juliano!
Enquanto os responsáveis estiverem à solta, a sensação de
insegurança, de revolta e de angústia não deixará os corações dessa cidade.
Porque a dor só o tempo dirá se ela vai passar.
Seguimos contando com o apoio de todos para não deixar esse
crime virar estatística.
E por fim, pedimos paz! Muito amor e paz!”
Fonte: Larissa Almeida*/Com
orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo –Correio da Bahia – 09/12/2022
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