quinta-feira, 13 de julho de 2023

Década 80: Documentário mostra voo e queda do Balão Mágico

                              Mike, Simony, Tob e Jair, em comparação com os tempos da banda. Crédito: divulgação


Uma menininha de cinco anos de idade, que se comunica com habilidade e era muito afinadinha. Um menino tímido, mas que, no palco, também sabia soltar bem sua voz. Um segundo garotinho, que era o representante da turma do fundão da escola, inquieto, nunca havia cantado, mas era muito comunicativo e simpático. E, por fim, mais um rapazinho, que era o que cantava melhor ali e era filho de um dos maiores cantores da história do país.


Simony, Tob, Mike e Jairzinho formaram o maior fenômeno infantil da indústria fonográfica brasileira, A Turma do Balão Mágico, e, antes de Xuxa, foram os maiores ídolos daquela geração, formada por crianças que hoje têm entre 40 e 50 anos. Agora, depois de mais de 40 anos da formação do grupo, os quatro integrantes se reuniram.

Roupa Suja

Mas fique tranquilo: não é para mais uma nostálgica reunião naquelas festas que nos levam com alguma melancolia de volta aos anos 1980. Os quatro se juntaram para gravar a série documental A Superfantástica História do Balão Mágico, que chegou nesta quarta-feira (12) no Star+. Sim, é verdade que há uma grande dose de nostalgia e alguma melancolia nos depoimentos e nas imagens desse lançamento. Mas há também algumas trocas de acusações, lavação de roupa suja, desabafos e confissões.

Os três episódios seguem a cronologia e mostram, por ordem, a formação do grupo, a sua popularidade, a decadência e o final. Embora haja depoimentos de pessoas famosas que foram fãs do grupo e também de artistas que gravaram com o Balão, os melhores momentos ficam mesmo com os ex-integrantes, seus familiares e os profissionais da indústria do disco e da TV.

Mike, hoje um madeireiro, continua o moleque divertido de sempre e traz no DNA a malandragem do pai, o inglês Ronald Biggs (1929-2013), que ficou famoso por se refugiar no Brasil após ter assaltado um trem em seu país. "Sou filho de uma stripper com um assaltante de trem. Meu padrinho era um falsificador de quadros e minha madrinha, uma atriz pornô. Que nicho de vida maravilhoso que eu tive, né?", pergunta, rindo, aos 48 anos.

Enquanto Mike é o bon vivant, que se gaba de ter gastado em farras com o pai o dinheiro todo que ganhou na banda, Tob hoje é uma artista plástico que revela suas angústias e sua extrema timidez. Percebemos em sua fala e em seu olhar o quanto era difícil encarar a plateia e a fama, ainda que gostasse do que fazia aquele filho de um taxista e uma dona de casa.

Privilégios

A mãe de Simony, Maricleuza, também aparece e, desconfia-se, pelo depoimento dela e dos colegas de sua filha, que a única menina do grupo tinha um tratamento diferenciado e que aquilo gerava uma saia-justa nos bastidores. A troca de empresário, quando saiu Mônica Neves e entrou um outro, chamado Paulo Ricardo, foi um desejo de Maricleuza, segundo alguns depoimentos. E tudo indica que era para sua filha ganhar mais dinheiro que os outros.

Paulo Ricardo, segundo os meninos do grupo, prejudicou a rotina alegre e leve daquelas quatro crianças e impôs um ritmo de trabalho que não era compatível com alguém que tinha nove ou dez anos de idade. Tudo aquilo, claro, para faturar mais e aproveitar a fonte, enquanto ela não secava.

E não é só aí que sabemos que na época não havia preocupação com a preservação emocional do artista mirim, ao contrário do que ocorre hoje. Tob novamente se emociona ao lembrar de um chilique que Orival Pessini - que interpretava o Fofão - deu, quando perdeu a paciência porque o menino não conseguia decorar o texto.

Jairzinho recorda do dia em que gravou um clipe num carro e as quatro crianças subiam uma ladeira no veículo aberto, sem sequer usar cinto de segurança. E pasme: um deles, Tob, andava "pongado" num Calhambeque do lado de fora, segurando na porta, enquanto Fábio Jr. dirigia. Sim, amigos, os anos 80 foram essa loucura!

A série, claro, tem seus momentos nostálgicos, que são inevitáveis, e às vezes apela para um tom mais emotivo. Usa, por exemplo, em alguns momentos, a textura de uma imagem de uma fita de VHS ou tem como parte do cenário um quarto dos anos 80, com direito a aparelho de videocassete, videogames e brinquedos que marcaram o período.

Tem até uns depoimentos dispensáveis, que pouco acrescentam e ficam presos apenas à nostalgia. Mas as boas histórias de bastidores e os depoimentos honestos dos integrantes seguram muito bem os três episódios, que têm a medida certa, em torno de duas horas e meia.

Fonte: Roberto Midlej -Correio da Bahia 13/07/2023

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